agosto 08, 2024

Cadeia de comando - Do Filme A Corte Marcial do Motim do Caine

 




 



O filme "The caine mutiny court-martial" (A Corte Marcial do Motim do Caine) trata sobre um motim justificado por uma decisão errada do comandante que coloca em risco o navio durante uma tempestade.

Ou seja, aborda o respeito à cadeia hierárquica (ou cadeia de comando) necessário para manter a organização e o seu propósito. 


O filme traz uma excelente proposta e desenvolve-se bem, mas o final é medíocre.

A questão surge quando o responsável maior por esse cumprimento está falhando.
Devemos nos envergonhar de contestá-la?

Esta questão esbarra com o sentido ético, bem como de democracia e de ditadura.

Na democracia os líderes são julgados pelo povo, a exemplo da política através do voto.
Na ditadura é a submissão total conforme o nível de autoridade na cadeia de comando, de cima para baixo (top-down approach).
O exército e as organizações de policiamento são autocratas por natureza e dessa forma caímos em uma situação irônica onde a democracia busca refúgio e proteção na autocracia para manter a ordem.


Haveria alguma solução plausível para essa ironia?
Ou será que os regimes autocratas se justificam?

Uma solução para essa dicotomia contraproducente nasce quando levamos em conta outro princípio, onde a autoridade deve emanar pela competência, que uma vez comprometida deve ser demovida.

A natureza evolui substituindo aqueles que falham pela competência em se adaptarem às mudanças de modo a preservar a espécie.
É preciso levar para o senso de respeito à hierarquia também o sentido de respeito à crítica que encontra subsídio na razão, independente de seu nível.

Ainda precisamos considerar que não existe avaliação ajuizada de comando sem retroalimentação múltipla dos postos inferiores aos superiores, ao longo de toda a cadeia de comando.
É justamente esta multiplicidade de feedbacks que autentica e qualifica a percepção do desempenho de qualquer organização.
Sem "feedbacks democráticos" subsidia-se a percepção míope cujo responsável que só enxerga aquele a quem delega falha, porque apenas vê pelos olhos do subalterno imediato e pelo seu filtro conforme os seus interesses.

Em um sistema estritamente top-down (de cima para baixo) a verdade só aparece diante de um evento que estremece a estrutura da organização, justamente o tema do filme.

Isso não funciona!
Não é pro-ativo!
Depois que o leite está derramado, está perdido.
Depois que a casa é roubada é que se põe tranca!!??

O final do filme torna-se medíocre a partir do ponto onde  o advogado de defesa diz estar envergonhado do que fez.
Então por que fez?!!

Se a justificativa foi falta de opção, então confunde-se com os fracos que sempre alegam situações contingenciais para esquivar-se da responsabilidade de suas opções por não desejarem pagar o preço pelo que sabem que deveriam ter feito.

A figura do advogado de defesa cresce durante todo filme e despenca incongruentemente no seu desfecho.
Seria mais plausível que ao invés de sentir-se envergonhado, tivesse dito extremamente desconfortável e insatisfeito, pois ficaria compatível com as suas palavras finais e a justificativa do desfecho quando então ele atira o conteúdo de seu copo na face daquele a quem diz que deveria ter sido de fato julgado.
Afinal, o que o advogado de defesa preferia?
Preservar o seu conforto diante dos valores passados de um bom oficial ou suportar os eventuais óbitos de uma embarcação que naufraga?

O tratamento final dado ao tema é hipócrita e chega mesmo a ser desumano, porque coloca valores menores acima de maiores com o seu "quase brilhante" final, apenas contribuindo para fortalecer a incompetência que se preserva pelo autoritarismo através da inquestionabilidade da cadeia de comando.

O filme segue um ótimo enredo, mas tal como o maratonista que mantém a primeira posição durante toda a maratona, tropeça e cai faltando dois metros da linha de chegada.
Surpresa e decepção total!

O filme vale a pena pela proposta, mas finaliza muito mal, deixando um recado muito negativo e desconstrutivo:
"Devemos aceitar que a incompetência dirija a vida penalizando-a pelo amor a algo que perdeu o sentido de autenticidade?".

Toda a cadeia social, produtiva ou não, não pode ceder ao privilégio do erro e da incompetência quando no afã de se construir uma sociedade justa e harmônica.
O incompetente vê a réplica como ameaça.
O competente vê a réplica como oportunidade.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adapting and Competing: Harnessing AI Capabilities Without AI Taking Over You

  AI is a major IT achievement. LLM (Large Language Models) has been in development for decades and was worth all the effort of its engineer...