agosto 30, 2023

Impactos da Inteligência Artifical Sobre a Sociedade, a Economia e a Democracia 3



 

Este artigo é o último dessa série.
Ele contém vários tópicos relacionados que permitem formar um panorama mais rico.


Banalização


Relembrando que a facilidade banaliza, sabemos que facilitando as coisas reduzimos os preços.
O aumento da oferta também joga o preço para baixo.
AI é uma fabrica de informação onde temos duas pontas: a do produtor (o serviço de IA) e a do consumidor (você).
Se há muitos fornecedores, então a competição aumenta e reduz o preço de mercado.


E pelo lado do consumidor?

Anteriormente, realizar uma determinada tarefa dependia mais das habilidades pessoais e do acesso a fontes estáticas de informação, por exemplo livros e sites estáticos em HTML na Internet. 

IA é uma fonte de informação dinâmica que reage conforme a entrada que recebe mediante uma base dados previamente processada.

Em geral vê-se na IA a solução para facilitar a vida, porém ela vai agregar menos valor pessoal às tarefas, fazendo despencar o preço que define o valor de remuneração do profissional já que parte da tarefa nem é humana.

Todas as profissões onde a IA for substituindo parcelas das atividades produtivas igualmente serão desvalorizadas. Máquinas são facilmente replicáveis, têm custo menor e não fazem greve.

Vê-se que as duas pontas, tanto a do produtor como a do consumidor são afetadas da mesma forma, através da banalização.


Um avanço Que Pressiona a Sociedade Tanto Quanto Beneficia

IA consome muitos recursos de processamento: CPU velozes, muita memória, e muita energia, sem falar do custo de captação de fontes de dados que alimentam a IA, como também a manutenção dos centros de processamento que demandam atenção especial de segurança, falhas de sistemas, filtros de qualidade das fontes de informação, etc. 

Dessa forma, novas necessidades levam à geração de novos empregos e oportunidades.

A exemplo de um profissional da área de informática que vai precisar migrar das tarefas mais simples para as mais complexas e especializadas de modo a garantir a sua empregabilidade, todas as outras atividades profissionais seguirão a mesma tendência.

Fala-se muito em desemprego.
Eu penso mais em readaptação evolutiva.
A necessidade e a fome são ótimos estímulos para evocar a disposição para o progresso pessoal.

Os indivíduos que não puderem acompanhar a crescente qualificação terão dificudade de acesso ao mercado de trabalho, aumentando a pressão sobre o crescimento da criminalidade, pois diante da necessidade muitos buscam a solução pela violência.

O crime vai se organizar e se institucionalizar cada vez mais e melhor porque sem a proteção de uma organização forte, o criminoso não vai sobreviver diante do recrudescimento do policiamento face à crescente perda de inserção social e econômica.


Até quando IA será oferecida de graça?

Outro tipo de competição que o indivíduo enfrentará advirá do grau de qualidade do serviço de IA que ele poderá pagar.

Serviços gratuitos, qualidade equivalente.

A Microsoft já oferece um serviço apenas para empresas.
(Microsoft Introduces Azure ChatGPT: A Private Version of ChatGPT Tailored for the Enterprise - MarkTechPost)

Certamente a qualidade do serviço pago será melhor e mais especializada, pois do contrário qual seria a vantagem de pagar?

Este fato vai aumentar o desnivelamento social.

Se no passado a Internet foi um suspiro de alívio onde abria espaço para a inserção social, uma vez que antes dependíamos de livros que eram caros, a partir da IA podemos retornar à situação anterior através dos serviços pagos de inteligência artificial.

Haverá ainda aqueles que poderão pagar muito mais e até comprar uma solução customizada de carácter exclusivo. É só lembrar do blockchain e do serviço de cryptomoedas que depois passou a ser utilizado também para vender bens únicos apenas transferíveis pelo comprador, como por exemplo as NFTs.


O que sobra para a maioria?!


Ela vai precisar competir com as máquinas e ser capaz de oferecer um diferencial.

Simples assim!
Temerário assim!

Por um bom tempo ainda, a IA será incapaz de substituir muitas atividades humanas, mas com certeza vai barateá-las em parte.


O que temos a nosso favor para competir com a automação autômata?

Na era da revolução industrial, as máquinas causaram um grande impacto social já que eram capazes de substituir a mão de obra em serviços braçais. Trabalhadores que dependiam da pá e da enxada foram sendo substituídos pelas escavadeiras e assim todos os segmentos das atividades humanas foram galgando um novo patamar de eficiência.

O que representava caos no século XVIII, hoje representa nosso status quo de progresso.

Novamente a sociedade enfrenta seu novo desafio que começou com a automação programável e aos poucos vai substituindo postos de trabalhos repetitivos através de robots.

Agora, iniciamos a fase da automação autômata, onde postos de trabalhos que agregavam processos mais inteligentes estão sendo substituídos à medida que a IA evolui agregando à programação procedural também a capacidade de decisão mais inteligente e sofisticada.
Os robots ficarão cada vez mais espertos.


Imaginando que esta sofisticação possa evoluir indefinidamente, que diferencial o ser humano teria para competir nessa nova era, uma vez que o homem se torna cada vez mais dispensável?

Sob tal perspectiva, a consequência é que progressivamente uma vida digna ficará cada vez mais restrita à sociedade formada pela super casta econômica e pela elite de bem dotados que por sua vez estarão presos na malha do sistema.

Se a IA já começa a pintar quadros, então os nichos onde IA dificilmente sobrepujará o ser humano serão aqueles que justamente dependem das habilidades extras da alma, pois a alma é uma coisa que máquinas não poderão ter, e caso seja possível (suposição meio que tresloucada, eu acho, mas tudo bem!...), certamente ainda vai levar muuuitoo tempo!!!

Eu evito entrar aqui em discussões agnósticas vs. teológicas porque, já que ambas as partes não podem provar suas teorias, tal análise torna-se inútil do ponto de vista prático, resultando em mero exercício pessoal de filosofia e de esperança.
It is up to you! :-)

Hoje, sobre este assunto, nem a ciência e nem a religião podem prover aquilo que se torne incontestável.
A religião lida com o desconhecido através da fé e seus princípios ao passo que a ciência vai apalpando na escuridão da sua ignorância à procura do caminho que lhe conduza à solução mediante seus próprios métodos baseados na capacidade de definir, modelar matematicamente, predizer e reproduzir os fenômenos estudados.

A ciência exercita o papel de "Deus" e a religião exercita o papel de "devoto" do próprio instinto.

Eu, particularmente, penso que a inteligência poderia ser classificada como um dom da alma — supondo que a alma exista.

A alma seria este algo que dá vida aos corpos mas que ainda não podemos materializar por nós mesmos de alguma forma tangível à nossa compreensão, e portanto, sem meios de controle exceto pela volição pessoal do próprio ser e de seu criador que deteria a "chave do processo".

O dia que os cientistas puderem entender a alma, certamente vão desejar controlá-la independente de seu dono.

Cientistas são meros empregados do capital como qualquer profissão já que é o capital que lhes provêm os recursos do playground de seus experimentos cujos resultados necessitamos, tal como anestesias cada vez melhores, a cura do câncer, a evolução das próteses, etc.

O capital é norteado pela ânsia de controlar tudo para tirar proveito na direção de prover mais capital, e a alma, essa rebelde, é o último bastião do livre-arbítrio.

Retornando ao nosso ponto principal depois dessas considerações,  se investirmos no crescimento das habilidades da alma, estaremos crescendo naquele campo que as máquinas nunca poderão alcançar, e mesmo que imaginemos possível, certamente pertencem a um futuro que se perde nas brumas da esperança pela pretensão humana.



A alma tem esse dom da inteligência natural que se ampara em sua memória.

A IA é como uma tentativa progressiva de copiar a inteligência que a alma provê.
Cópias, porém, são cópias. Nada como o original.

A memória é o combustível da inteligência nativa de cada alma, sem o que, ela se torna como um carro que, mesmo que  tenha motor possante, tendo tanque pequeno terá que parar frequentemente para reabastecer anulando parte da vantagem que a potência do motor confere.

Então é justamente no desenvolvimento da inteligência e na forma de usar a memória que humanos terão que se aprimorar nessa competição com as máquinas em busca de preservar a sua empregabilidade, ou seja, de encontrar utilidade social para si próprios.


O método de ensino atual está aquém de seu tempo.

Ele está preso a um passado onde acumular conhecimento era a chave.
No ocaso de uma velha conjuntura, ainda resiste!

O ser humano é lento para reagir mas a ciência está muito rápida para produzir e isso forma o descompasso entre o presente e o preparo para o futuro diante da obsolescência da pedagogia e sua memorável lentidão para reagir às novas necessidades.

Computadores de vestir (wearable devices) vão permitir interagir com sistemas de IA que nos suprirão com  informação farta e rápida em tempo real, mantendo nossas mãos livres, o que significa um passo gigante para ampliar nosso potencial.

Quando o chip do "Elon Musk" chegar (e de seus concorrentes), uma vez que ele já obteve autorização para os primeiros experimentos, nossos cérebros implantados com esses chips não só proverão recursos extras mas também mais memória, incluindo surveillance... Seu corpo passa a ser visto como um nó da rede do Sistema, uma máquina biológica com uma ID (acrônimo para "identificação").

Bye, Bye documentos de identidade!
Vão virar IDs transmitidas intermitentementes para os servidores de identidade junto com os dados de surveillance.


Você acha que esse tipo de chip vai só beneficiar o indivíduo?!

O smartphone (celular) é um exemplo.

A vantagem que ganhamos é apenas a mercadoria de troca da sua liberdade pelo controle que é entregue ao Sistema!

A exemplo disso temos a media social (facebook, twitter e etc), onde o indivíduo pela necessidade de interagir e compartilhar vai agregando informação extra espontaneamente pela necessidade de ser ouvido/visto tal como expressões do ego através de fotos pessoais, desabafos, o que faz, onde faz e com quem e o que deixa de fazer; enfim, vai enriquecendo o rastreamento dos celulares (super dedos-duros), deixando a sua vida pessoal à disposição de todos, algo que possibilita o Sistema obter um tipo de informação que seria muito cara e difícil, senão impossível, já que é o próprio usuário o patrocinador disso tudo e por vontade própria, lembrando que quando alguém faz algo porque gosta, faz muito melhor!  :-)

Infelizmente, a maioria dos seres humanos ainda desejam mais do que pensam.
São mais emotivos que racionais, e sofrem mais por isso.

Naturalmente, o capital vai se aproveitar das duas pontas e finalmente o chip será institucionalizado, tornando-se gratuito e implantado no bebê logo após o parto como prática corrente em virtude de norma governamental.

Justamente aí que reside a chave do controle e a perda da liberdade pessoal.
Sem o chip, difícil competir no mercado porque o "rebelde" fica em desvantagem.
Com o chip, uma mera "peça" fantasticamente controlada pelo Sistema. 

Se você observar bem, temos dois processos: um que vai tornando o humano menos necessário e outro  processo que aumenta ainda mais o controle sobre ele. Tudo isso em troca das vantagens de um progresso que torna-se caro à individualidade humana, agregando menos vantagens pessoais que coletivas e sistemáticas.

Quanto menor o valor humano para o Sistema, menor a possibilidade do indivíduo receber "investimento" para aprimorar seu potencial, portanto configurando uma perspectiva oposta ao caminho da educação que tornará o indivíduo ainda mais alienado do que a alienação provida por si próprio através dos estímulos da sua própria vontade e emotividade que o desviam de uma visão mais madura das necessidades e desafios que o cercam, tal qual uma mariposa deslumbrada pela luz que condena seu amanhecer.

Será algo como somar à fome, a vontade de comer.

O "Sistema" é poderoso porque tira vantagens da fraqueza geral.
A democracia é um método conveniente nesse cenário enquanto a vontade geral puder ser conduzida, já que aumenta a sensação de um poder que efetivamente não se tem como é a crença usual.
A prova disso é que se houver um movimento coletivo, em massa, para de fato aumentar seu poder de controle, o Sistema logo converte-se em autocrático.

Estamos ainda vivendo uma época feliz pelo ponto de vista dos critérios do presente e do passado.
Lembrando o post anterior da série, as gerações futuras não sofrerão com esta perspectiva em virtude do desconhecimento da liberdade que um dia tivemos, ou seja, ninguém sente falta da perspectiva que nunca existiu.


Repensando um outro tipo de interação entre o homem e a máquina!


Se o nosso senso de utilidade futura caminhar através dos dons da alma, como estratégia diferencial de sobrevivência, então seria mais desejável trabalhar no sentido de se desenvolver a tecnologia para aprimorar o potencial humano neste sentido,  do que para substituí-lo, como tem sido feito ultimamente.

Precisamos de meios para ampliar nossa capacidade de organizar o volume crescente de informação através de nós mesmos, dos nossos próprios cérebros, ao invés de contar que as máquinas os substituam.


O que é associação senão uma forma de organização?


Relembrar alguma coisa também depende da forma como organizamos as informações em nossa mente. Uma prova disso é que fica muito mais fácil lembrar coisas quando associadas a outras, não é mesmo?

Onde está sua roupa?
Se você está na sua casa, geralmente no seu quarto(para a maioria), que por sua vez tem algum móvel  ou móveis para contê-la(para a maioria).

Perdemos as coisas quando não conseguimos associá-las a alguma coisa que defina seu lugar.


IA E Suas Várias Fraquezas

O tempo que trabalhei com IA foi gratificante e fantástico, contudo entendi que IA nada mais é que um programa de natureza matemática que aprende padrões e pode compor modelos matemáticos.

Por conseguinte, é muito suscetível à qualidade dos dados, o calcanhar de Aquiles da IA — e "Aquiles" já está "mancando" pois os bots inteligentes também processam informação fake e devolvem a qualidade daquilo conforme recebem. Falta ainda o senso de critério, outra etapa de conquista para IA que será ainda mais alucinantemente crucial.

Qual garantia que teremos sobre a qualidade e os efeitos dos critérios estabelecidos para os filtros?
E se forem contaminados por interesses obscuros?
E se for hackeado, então até que percebam, quanta consequência ruim já não terá causado??!!


Também há o problema da realimentação (retrofeeding) da fonte de dados.
Apenas um exemplo, pois existem outros.
IA gera dados para os consumidores. Estes publicam seu trabalho com base nas informações obtidas em algum bot inteligente (ChatGPT, etc.) e depois publicam seus trabalhos na Internet, que por sua vez vai se tornar fonte de dados dos próprios bots, formando um ciclo de autoalimentação "doentio" que pode degenerar a qualidade da informação à medida que não há garantias para o valor agregado a estes trabalhos.

Dessa forma, torna-se mais uma ferramenta de trabalho para influencers.


Durante o tempo em que pude me dedicar à IA, eu percebia que cada vez que eu reintroduzia a "inteligência acumulada" em processos anteriores para alimentar os processos subsequentes, na intenção de aperfeiçoá-los, ocorria um de dois efeitos principais:

- O sistema de IA aumentava a sua qualidade mas perdia a flexibilidade, ou seja, perdia uma capacidade estendida de análise, tornando-se mais especializado, ou

- Dependendo da qualidade dos dados e do cenário de uso, o sistema ia degradando, ou seja, ia ficando burrinho...


A inteligência humana sabe lidar melhor com o equilíbrio desse processo, sendo capaz de saber quando deve parar sob determinada situação partindo para expandir-se em outras direções.

Os engenheiros de IA estão trabalhando para cobrir essa lacuna.
É um desafio e tanto!

A ironia disso é que realizamos esta tarefa naturalmente através de um "dom" que nasce com cada um.
Um dom que atribuímos à alma, ao dom da vida.


O fantástico e o temerário de IA é que você pode moldar o "pensamento", ou seja, o modelo matemático julgador que forma a base do filtro de critério.


É justamente nestas fraquezas da IA que residem as soluções de oportunidades para nós humanos.

E por isso, resolvi trabalhar em outra direção, onde a tecnologia pudesse fazer algo que alavancasse mais o nosso potencial pessoal tornando-nos aptos para a competição com os desafios do nosso tempo através de nossos próprios valores humanos ao invés de apenas delegá-los.

Isso é possível quando criamos meios que treinem os nossos dons naturais que a alma provê.
De um lado a inteligência, a maneira muito especial como nosso cérebro é capaz de lidar com a informação, e que é muito superior àquilo que a IA poderá prover, ainda por muito tempo.

Paralelamente, necessitamos ampliar nossa capacidade de lidar com o volume crescente de informação necessária para sustentar os processos de inteligir, ou seja, de pensar e concluir.
Um mundo mais complexo exige analisar uma quantidade maior de dados.


Notei que o nosso cérebro trabalha com redes N-dimensionais de processamento da informação, coisa que nem percebemos, como também nem lembramos.


As funções do corpo através do sistema vago-simpático trabalharam processos sofisticados que não controlamos conscientemente mas interagem de alguma forma tornando-se uma fonte subjacente de informação, rodando em "background", ou seja, sob os processos conscientes.

Em nossos cérebros através destas redes com muitas dimensões, tal como se existissem em nossas mentes muitos universos de processamento paralelos e coligados, a informação trafega em velocidade absurda, embora variante, fazendo os processos interagirem em tempo real pois do contrário nós "congelamos".

É por isso que precisamos aperfeiçoar o uso desta máquina fantástica — a nossa mente—, porque quanto mais sofisticada ela se torna, mais treino requer para expandir suas habilidades, ao invés de apenas nos concentrarmos em substituí-la por processos autômatos para evitar os desconfortos de suas fraquezas atuais.


A IA como está hoje (mas isso pode mudar), vem como um meio de melhorar a vida pessoal trazendo consequências a longo prazo opostas a esta melhoria inicial, porque a forma atual de progresso "dá com uma mão e tira com as duas".


Eu acredito que a IA possa reverter esse prejuízo social e compensá-lo de alguma forma se usada adequadamente, no entanto, eu prefiro empregar meu esforço em uma tecnologia que possibilite ampliar a eficiência humana sem o risco que essa mesma tecnologia possa reverter contra nós, ou ao menos, seja de alguma forma muito improvável de fazê-lo se a tecnologia depender em parte de nosso próprio processamento, e não de uma máquina totalmente externa.


Resumindo: quando criamos uma tecnologia ela precisa valorizar mais o homem que ela própria, do contrário torna-se inevitável o agravamento das tensões sociais.


Desejar que uma máquina faça tudo por nós, é o mesmo que desejar tornar-se dispensável.
Não faz sentido ao sentido da vida.

Em contrapartida, aumentar a própria capacidade através de um processo de via dupla é uma abordagem ligeiramente diferente mas que faz toda a diferença para sustentar um futuro que também respire sentido de vida.


E Deus? Existe ou Não Existe? Onde Ele fica nisso tudo?

Tem uma frase de Vinícius de Moraes que amei quando escutei.
Foi amor à primeira vista, embora ele a tenha feito em tom de crítica a Deus, mas eu reformulei o argumento no sentido contrário quando que ele imaginava a favor da própria descrença.
A frase era dita na voz dele mesmo em uma das músicas de um álbum (coletânea de discos) que comprei ainda na época dos discos de vinil, e era mais ou menos a seguinte, buscando lá do túnel do tempo da minha memória:

"Se é para destruir, então porque é que fez?"

Uma inteligência suprema não poderia cometer um erro tão trivial que pudesse ser questionável por uma proposição tão simples.

Vejo na frase dele mais um pedido de súplica de quem se angustia debatendo-se por entender o sentido da vida do que propriamente um argumento para questioná-la.

Seria muita pretensão tentar entender algo tão superior como Deus.
Se um mero gênio tem dificuldade de se fazer entender pelos "normais" em seus devaneios geniais, o que diria da tentativa de entendermos Deus — uma inteligência suprema —, ou outra qualquer tão distante da nossa em termos de capacidade?

Só mesmo um outro "Deus"!

É preciso aceitação para saber que o sentido de incoerência pode nascer da nossa própria incapacidade de análise.

Se você acha que Deus não existe, e as coisas são obra de uma combinação estatística de possibilidades ocorridas ao longo dos tempos, reguladas meramente por leis físicas, então fique à vontade para continuar convivendo com o sentido de uma vida que também é meramente estatística, onde o sucesso humano é apenas um evento ao longo de uma linha de existência cujo controle disputa as sua finitas probabilidades tão limitadas do conhecimento humano pela sobrevivência versus as infinitas  (ou quase infinitas) possibilidades contrárias. Neste caso você também sabe onde termina qualquer operação matemática com um valor diante de outro que de tão grande parece tender a infinito, o que torna, certamente, tanto o seu trabalho como o de todos nós um parâmetro que não vai fazer qualquer diferença diante de uma provável extinção da vida.

Se você admite que Deus existe e é suprema inteligência, então o que parece destruição deve ser mera evolução.


Outros artigos da série:


agosto 20, 2023

Todos os Caminhos Levam a Roma e Roma Leva à Guerra

 




Eu não sei você, mas acredito que a maioria de nós via a China como um produtor de produtos descartáveis, preços mínimos e qualidade compatível com esse precinho.


Eu não posso deixar de elogiar a estratégia chinesa ao se aproveitar da ambição dos regimes democráticos do mundo capitalista que migraram tecnologia e capital para um país cuja população não tinha trabalho e fazia fila nas portas das empresas que apressadamente iam surgindo com a ajuda do capital externo viabilizado pelo governo chinês, outrora um país com pudores à inicitiva capitalista.

Foi um golpe de mestre da política chinesa buscar aproximar-se do ocidente, um lobo sob a pele de cordeiro na execução de uma plano astuto.

EUA foram um dos patrocinadores do que a China é hoje!

A China devia agradecer a pessoas como "Steve Jobs" cujo amor pelo capital não pensou nas consequências políticas do amanhã, apenas no lucro do agora.

E assim o povo chinês tornou-se um dos maiores consumidores do mundo dos iPhones.


Tudo isto foi ontem!

Hoje, os EUA entenderam o erro e buscam corrigir protegendo seu "know-how" a todo custo, enquanto a China continua trabalhando na sequência desse processo de transferência de tecnologia através da espionagem e novos planos para atrair o capital estrangeiro em fuga desde que ela, a China, deixou a carapuça de lado mostrando a que veio depois da capitalização provida com a ajuda do ocidente.

 Invasão de territórios (Ucrânia e Twaian) e genocídios etnicos diversos, tudo em nome de um regime que presa pela supressão dos direitos individuais até tornar seu cidadão uma mera "galinha poedeira".

Passado o tempo, as ações chinesas e russas vão demonstrando as intenções que souberam disfarçar como "ideologias abandonadas do passados e sucumbidas sob a modernização pela globalização" — uns dos equívocos administrativos cometidos pelos líderes Europeus com a participação ativa de Angela Merkel (ex-chanceler alemã de 2005 to 2021) quando acreditaram que um lobo possa transformar-se em cordeiro.

É o desespero pela solução de matriz energética de menor custo fazendo cerrar os olhos para história e o senso comum sobre a natureza humana que não muda os objetivos de um longo curso histórico. Seria o mesmo que abandonar todos os esforços iniciados por Mao ou Pedro o Grande.

À medida que a Europa acordou de seus sonhos e os EUA de seu encanto pelo business globalizado, despertaram para o pesadelo da realidade que quiseram acreditar fazer parte de uma conjuntura que seria regulada pela interdependência da malha de interação comercial que seria suficientemente forte para sustentar o equilíbrio mínimo que provê a paz mundial em moldes aceitáveis.


Agora chega o momento em que os erros de Xi e o despertar de um mundo mais consciente vão causando à China o revés de seu crescimento pujante, em parte sustentado pela força do ocidente, em parte pela força de trabalho de seu povo aliada a um adequada política econômica de seu governo.


Hoje, a China sufocada pelo desemprego que deixa os jovens à deriva e pela crise imobiliária que desestabiliza sua economia, ao mesmo tempo que ela aumenta os gastos com os preparativos de confrontos bélicos, vai devolvendo de forma indireta aos EUA os favores recebidos de outrora.

Hoje os EUA são um país dividido internamente de forma muito mais intensa e radical, seguindo a tendência do panorama sociopolítico mundial das democracias pela radicalização bipolar. Esquecem, no entanto, que esse país tem uma força extrema quando é capaz de conciliar as diferenças internas unidas por uma necessidade externa maior.

A guerra que tememos para o futuro — que nunca venha acontecer—, de fato recrudesceu, pois nunca deixou de existir nos bastidores econômicos e políticos.

As guerras convencionais pelas armas de destruição são normalmente precedidas pelas econômicas e políticas. E hoje, essa guerra é declarada através de sanções econômicas, protecionismo tecnológico e a reconstrução de alianças amortecidas. Tudo isso com o molho da intimidação sino-russas através de passeios de suas frotas próximo às fronteiras americanas do Alaska e dos sobrevoos de jatos chineses sobre Twaian, sem falar das tradicionais e tão preferidas bombas de Putin sobre a Ucrânia.


Há males que vêm para bem!

De certa forma, a China e a Rússia agora retribuem aos EUA e à Europa o estímulo que receberam para seu crecimento econômico, mediante o retorno à conscientização da importância do crescimento da economia interna de um país em detrimento da economia globalizada e pela ressucitação da necessidade de união de forças politicamente afins (OTAN).

A globalização não é um remédio sem dosagem e deve equilibrar-se com os níveis de sustentação de empregos e desenvolvimento de recursos internos de um país.


Bom, tudo isso reflete o jeitinho chinês e russo de agradecerem, ameaçando fronteiras e a liberdade de seus vizinhos, cujo efeito colateral positivo vai revitalizando os valores ocidentais corrompidos pela economia farta, pela corrupção e pela sustentação dos hábitos que vão gerando o terceiro partido político nascido do tráfico e de qualquer atividade que possa ser exercida pelas regras da criminalidade para a solução da competição econômica via tráfico, extorção, sequestro, assassinatos, etc. É a ditadura no seu mais alto grau de brutalidade.

As projeções feitas em publicações anteriores aqui neste mesmo site, tornam-se uma realidade tangível diante dos últimos acontecimentos no Equador.

O que antes só poucos tinham olhos de ver, agora até os quase cegos podem visualizar, excetos os cegos pela desinformação e ignorância fruto do desinteresse.

Outros países onde o "terceiro poder" já compete com o poder institucional poderão seguir a mesma trajetória desse destino cruel, ou pela metamorfose lenta que vai contaminando seus oponentes, ou pela ruptura abrupta através das armas.

As estratégias são sempre as mesmas.

Ou se toma o poder pela força quando há superioridade, ou mina-se o poder contaminando seus elementos e tornando-os parte do processo que deseja assumir o controle através do estímulo principal que move a sociedade: riqueza material através da inconsciência do egoísmo e cupidez — a corrupção.


Enquanto isso, a democracia não passa de alavanca para o dinheiro que compra a propaganda e ilude o povo independente de sua origem criminosa, fazendo a grande massa servir como trampolim para os seus objetivos.


Eu não acredito em democracia que prega direitos iguais para todos independente da meritocracia.

Ou seja...
"Nada mais desigual que direitos iguais para pessoas diferentes quanto aos esforços, méritos e atitudes".


Equivale a jogar por terra o estímulo ao prêmio pelo esforço, pela vitória através da luta e do sacrifício, nivelando tudo por baixo.

Democracia assim só serve mesmo aos propósitos comunistas, autocráticos, ditatoriais e criminosos que a utilizam como meio para tomar o poder, que tão logo tomado, encerram as pretensões democráticas anulando as eleições.
É como um exército que destrói a ponte após a sua passagem para impedir que o inimigo a use.



Democracia, sim! 
Sempre, mas com meritocracia!

Voto igual para todos, desprestigia o mérito.
Torna-se mercadoria barata, de saldão!

E assim, o cidadão achando-se respeitado pelo direito ao voto indiscriminado vai entregando a sua liberdade aos propósitos opressores pela inconsciência ou incapacidade de distinguir e saber utilizar essa ferramenta — a democracia — com o critério necessário à sua própria proteção, como guardiã de seus direitos.


Então nos perguntamos: 
"Por que o mundo retrocede ao reinado do despotismo pelas mãos da guerra?"

Olhe para o passado e verá que as civilizações onde a ignorância verdejava, cresciam as ervas daninhas da submissão ao despotismo.

Muitos imaginam que a liberdade individual plena é incompatível com o estado de direito coletivo, resultando em anarquia.

O estado de direito individual pleno é compatível com o coletivo quando a compreenção de nossos limites e desse direito tiverem sido equilibrados com os direitos do próximo, quando então, o erro se torna um evento gerado por uma minoria e não uma avalanche de acontecimentos incontroláveis.

No caos, estabelece-se a ditadura como remédio amargo ao retorno da pacificação, mesmo que sob o estilo de poucos com os benefícios maiores a eles próprios.



agosto 14, 2023

Impactos da Inteligência Artifical Sobre a Sociedade, a Economia e a Democracia 2

 





Na continuidade do tema do post anterior, como havia comentado logo no início, sendo o assunto tão amplo e instigante, certamente não se esgota tão facilmente, o que torna irresistível abordar outros aspectos.

Suponha dois fabricantes de pregos.
Ambos compraram recentemente as suas máquinas dos melhores fabricantes de máquinas de pregos.

Como os fornecedores são os "melhores", logo suas máquinas são muito semelhantes nas características produtivas e na qualidade final, pois do contrário não seriam os melhores.
O que leva um fabricante de pregos optar por uma ou outra marca de máquina para a fabricação de pregos, já que a qualidade e a produtividade são semelhantes, reside nas diferenças de condições de pagamento, logística de suporte técnico, disponibilidade política (sim! pois se você comprar uma máquina de um país que entrou em conflito com o seu, muito provavelmente ficará sem assistência técnica) e etc.

O que sobra como diferencial para esses dois competidores fabricando pregos?
Além da estratégia comercial e política dentro de uma mesma região, resta apenas a qualidade e o preço do aço que vai alimentar essas máquinas como fator maior na composição do preço final do prego, claro que considerando insumos diversos, mão-de-obra, impostos e etc., porém a participação do aço no custo total é o mais relevante dada à automação e a alta produtividade dessas máquinas.

Neste exemplo, descreve-se o panorama empresarial e comercial básicos que regem a cadeia produtor/consumidor utilizada pelo ser humano da era industrial e tecnológica moderna.

A IA é uma máquina de fabricar informação sob demanda, tal como uma máquina de pregos cuja demanda é a especificação que o usuário entrega na requisição.
Nada de muito especial no que tange ao modelo econômico produtor/consumidor, apenas diferente porque pregos já banalizaram, mas informação é um produto relativamente novo, disponibilizado intensamente ao final do século passado e popularizado mundialmente no século atual.

Essa analogia ajuda a perceber que a demanda por um "aço de melhor qualidade e mais barato", no caso a "informação", vai aumentar exercendo uma pressão de demanda agilizada pelo poder de processamento dos sistemas de IA que são suportados por imensas bases de dados, como o aço através das minas dos minérios que o compõe.

Essa pressão pela demanda de mais informação com melhor  qualidade vai aumentar a agressividade da sua captação exigindo o enriquecimento constante de seus metadados, que são os dados complementares que "falam a respeito" dos dados em si, tal como o contexto em que a informação foi coletada, origem, perfil do usuário ou sistema que gerou a informação, zona política, etc. etc. etc. 

Metadados, às vezes, parecem se tornar infinitos, ocupando muito mais espaço que a informação em si, porque são eles que agregam a matéria prima mais valiosa para subsidiar o enriquecimento da interpretação dos mesmos, pois definem entre outras coisas o contexto de sua origem.

E essa pressão, por conseguinte, vai recair sobre as fontes geradoras, sendo as três principais:

- dados gerados por usuários.

- dados gerados por sistemas processadores de dados (big data, satélites, data lakes, etc.).

- dados gerados por coletores de dados IoT (Internet Of Things — são aqueles sistemas distribuídos/embarcados em outros e que precisam informar algum cliente. Um exemplo são os carros autônomos reportando condições do veículo para o fabricante, ou sensores de prédios inteligentes, sensores meteorológicos e outros usados em vários campos da atividade humana tal como a agricultura, oceanografia e etc.).

A política que rege a Internet sob tal demanda vai endurecer ainda mais o protecionismo regional da informação, porque a diferença em sua qualidade valerá mais que ouro.
Que adianta ter a melhor máquina de pregos do planeta se o aço que alimenta sua produção não é o melhor?!! Se o prego dobra na batida do martelo??


O leitor já deve ter percebido e estar convencido que a "informação" é um produto como outro qualquer.
Essa pressão de mercado vai dar um cunho proporcionalmente mais agressivo à invasão de privacidade.

De um lado temos os governos e as empresas precisando de "surveillance" (palavrinha da moda para vigilância legalizada e institucionalizada como "cultura"). 

Na prática significa que o seu direito à privacidade está na mesma situação da "vaquita", um cetáceo dos mais ameaçados, que recebeu alerta de extinção. Segundo este artigo "Cetáceo mais ameaçado, vaquita, recebe alerta de extinção - Mar Sem Fim", restam apenas poucos exemplares.


Empresas de media social serão "descaradamente" captadoras de suas informações pessoais e a privacidade e a segurança de nossas máquinas estarão cada vez mais "relativas".

"Caprichei na palavrinha relativas, mas pra bom entendedor, meia palavra basta!"  :-)


Atualmente, precisamos de ordem judicial para algumas circunstâncias que hoje significam invasão de privacidade. As novas leis que vão surgindo aqui no Brasil e fora dele, são cada vez mais invasivas sob o pretexto de garantir segurança nacional, social e outros interesses que são encaixados na "passagem da boiada" (esse ex-ministro do ex-presidente Bolsonaro eternizou-se com essa jóia política de sinceridade suicida).

A exemplo disso é o embate dos lobbies da media na elaboração da PL das "Fake News" em desacordo com a orientação político-social conduzida no congresso. 

Sob o tema "Fake News", dá-lhe mais invasão de privacidade via "flexibilização das leis" mediante uma necessidade autêntica porém convenientemente adaptada também a outros propósitos.

A guerra pela informação é travada silenciosamente através de computadores na caça pela invasão e pela defesa dessas informações, e o aumento da pressão dessa panela de pressão que já está em fogo alto, pode acabar tornando a válvula insuficiente para liberar o excesso de vapor mesmo depois de disparada a válvula de segurança. Assim, guerras físicas via drones por disputa e defesa de territórios cibernéticos, seja pela destruição material ou por sua sabotagem vão crescer em intensidade e demanda. A robótica dos drones em defesa da sociedade de entidades inteligentes cibernéticas, ou seja a IA personificada em suas várias entidades inteligentes, será o novo tipo de manchete que poderá ocupar os espaços dos noticiários competindo com as desgraças climáticas provocadas pela nossa incapacidade de colocar a própria sobrevivência humana acima de tudo o mais.

By the way...
Visto por esse ângulo desfavorável, um extraterrestre deve pensar que somos "peculiarmente inteligentes".


Note o leitor que esses fatos e essas guerras já ocorrem há muito tempo — WikiLeaks que o diga! —, porém o fator diferencial será a intensidade ampliada através das "muitas mãos" da IA que multiplicarão muitas vezes a eficiência da desfaçatez humana, bem como o seu brilhantismo quando empregar tal poder para valorizar a vida e o respeito por ela, amenizando nossa natureza suicida.

Como é sempre mencionado, tudo tem dois lados.
É o caminho da evolução, fazendo aumentar o senso de responsabilidade do ser humano pela intensificação de suas consequências.  E isto tem um lado muito positivo — inicia-se a era da conscientização coletiva.


Acredito que a extinção total da vida seja muito pouco provável.
Entre Bill Gates com as vacinas e o Elon Musk com a civilização em Marte, fico com o Bill Gates.

A ciência tem demonstrado que a vida encontra meios surpreendentes de se manter, recriar-se ou ressuscitar.

Se hoje cientistas tentam reanimar seres extintos ou "reconstruí-los" a partir da engenharia genética, certamente a ciência do futuro guardará ainda mais alternativas de solução à perpetuação da vida.

É o preço por evoluir pela falta de preparo moral à medida que se aumenta a capacidade intelectual mais rapidamente que a ética social.

Certamente, aos trancos e barrancos, chegaremos ao estado evolutivo de viabilidade socioambiental.

No pain, no gain!


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agosto 12, 2023

Impactos da Inteligência Artifical Sobre a Sociedade, a Economia e a Democracia


 

Este é um tema bem abrangente, então vou restringir aos pontos mais marcantes para acomodar num espaço de leitura que não extrapole o ânimo do leitor.
É uma missão difícil porque o tema é extremamente rico e instigante.

Projeções não devem ser elaboradas para serem boas, nem ruins.
Projeções devem ser alijadas de sentimentos porque a busca para o cenário mais provável com base no contexto da sua criação precisa ser exercida com a razão, não com a emoção.
Não é time de futebol. Não é torcida.


A sociedade se acomoda através do desconhecimento.

Quando as novas gerações não percorrem as experiências das gerações anteriores, então se adaptam ao seu meio corrente como algo natural, uma forma de amnésia social induzida pelo descaso onde a cultura desse povo abandona parte de si mesma.

Quanto maior o desprezo da nova geração pelo passado, e quanto mais imprecisos são os registros de sua história, maior a intensidade desse esquecimento que envolve todas as áreas, sejam artísticas, tecnológicas ou mesmo as dores causadas pelas guerras que ficam anestesiadas pelo tempo.

Isso tem um lado bom!

Se uma geração nunca viu uma praia despoluída, um mar límpido e cristalino com recifes de corais vivos e a sua população multicolorida, então não vai sofrer o sentimento de perda de algo que não nunca teve ou vivenciou.

Isto aumenta a adaptabilidade do jovem em detrimento da sua real noção da qualidade de vida que poderia alcançar. É como o pobre que nunca foi rico. Muito mais desvantajosa é a situação do rico que ficou muito pobre. O rico viveu a riqueza. O pobre faz uma ideia dela.


Todo processo tem seu lado positivo e negativo.

Dessa forma, mesmo que essa projeção possa parecer muito desagradável aos seus olhos atuais, não terá o mesmo vigor aos olhos das gerações futuras se persistir o compasso de desprezo por sua própria história. Se de um lado isso reduz o sentimento de perda, por outro aumenta a percepção míope de nosso contexto. Como diz um ditado americano, muito popular:  No pain, no gain. (Sem dor, sem ganho).

Em outro post publicado neste site foi descrito a influência da IA na substituição dos postos de trabalhos que têm carácter mais repetitivo, que são os mais vulneráveis a serem totalmente substituídos pelos recursos que a IA atualmente pode oferecer no curto e no médio prazo.


A IA é ainda uma criança naquele estágio em que está aprendendo a repetir o que os pais falam, e que ainda não dispõe de muita capacidade de inteligir e interagir de forma mais complexa e criativa. O nome disso é autonomia, e ela tem seus lucros e suas dores. Todos os pais conhecem bem o dilema à medida que seus filhos se distanciam da sua influência pela autonomia que vão adquirindo.

Fala-se muito de IA, porém ainda é muito mais um produto de marketing para incentivar a demanda em benefício do capital das empresas que investem no setor.
É mais espuma que chope, por enquanto, embora um grande passo!


À medida que o boom, ou seja, o impacto desse marketing vai passando, vamos coletando as inúmeras notícias cada vez mais frequentes mostrando as deficiências e as falhas ainda por suprir desse campo novo. Os carros quando surgiram, utilizavam manivelas para acionar o motor. Hoje, fazemos pelo celular.

Vamos deixar de lado todo esse fuss do marketing que precisa agitar para vender.


A nossa projeção vai caminhar pelos tempos futuros em que a IA deixou de ser uma criança e começa a elaborar seus raciocínios mais complexos a ponto de começar a competir com o nível de inteligência médio da população.

É nesse momento que as mudanças radicais irão varrer as estruturas sociais e econômicas que perduraram tantos séculos.


Por que?

Partindo-se de um exemplo pode-se por analogia aplicar a outros casos, e o exemplo escolhido é o momento em que a IA puder realmente substituir as suas "mães", ou seja, os programadores no primeiro estágio e os seus engenheiros de software no estágio final.

A natureza oferece exemplos onde a vida da mãe é sacrificada ao gerar seus rebentos, como é o caso dos polvos — por coincidência, cefalópodes inteligentes.

Se você não conhece essa peculiaridade, tem este link (em inglês, mas fácil pelo tradutor automático do browser ou do Google), e também tem um maravilho documentário disponível na Netflix: My Octopus Teacher. Se assistir, não vai se arrepender. 
Ou ainda, você pode perguntar aos inúmeros chatbots "inteligentes" que temos hoje!  :-)


Certamente, muitos desses engenheiro acabarão sua missão tão logo gerem seus filhos.
Por enquanto, apenas as faixas sociais com menores recursos sofrerão os reveses, mas o processo, no longo prazo, irá paulatinamente se propagando por toda a cadeia.

Coisas da natureza!

Quando uma máquina for capaz de se autoprogramar com um alto nível de raciocínio e autonomia, consequentemente também será capaz de gerar programas prontos para usos externos para atender uma necessidade requisitada por algo ou alguém sem a necessidade que se possua esse conhecimento específico. Será quando viveremos aquela cena típica de cinema futurista em que um indivíduo pede ao computador: "Fulaninha, ou fulaninho... Eu preciso que você me faça um site para oferecer os melhores negócios do planeta"... 

Então vem a resposta típica:
"É pra já, dois minutinhos fulanão! Ooops! ...Retifico: Meu mestre!" 

(todo programa tem sempre um "buguizinho", mas não aparece nos filmes em geral, e eu não resisti introduzir algum aqui, nem que seja só um pequeno detalhe na resposta... para tornar a coisa mais "pé no chão " :- )   

Repare que no texto acima utilizei os termos "algo ou alguém"...
Isso é ainda mais triste, porque uma máquina poderá pedir um programa ou uma tarefa inteligente para uma outra mais especializada!!!.... (Isso ja é o cotidiano dos serviços de integração entre máquinas, mas sem os níveis de autonomia que a IA adicionará).

Então vem a pergunta...
Quem vai conseguir controlar as comunicações entre máquinas super inteligentes?

Isto é uma outra incógnita que deixo para a imaginação do leitor, uma vez que nem conseguimos controlar as nossas comunicações humanas, lembrando que os nossos programas de IA serão tão encharcados das nossas falhas morais quanto os seus engenheiros. 

Voltando ao exemplo dos "melhores negócios do planeta", se existe "uma melhor solução" para algo, então qualquer outra solução concorrente será próxima, parecida, resultando em alguma coisa similar, senão igual, com toques "pessoais" não tão relevantes porque os sistemas competirão com bases de dados similares cujo nível de excelência não poderá distar muito entre eles pois na selva da competição o mais fraco extingue-se rápido pela seleção natural de mercado.

Excluindo as camadas intelectuais muito privilegiadas, o valor da criatividade, do capital de investimento e do tempo investidos serão nivelados por baixo,  barateando os custos uma vez que o mercado é regulado pela lei da oferta e da procura.
Tem muito, é fácil, é corriqueiro, então o preço desaba.
É raro, é difícil, então o preço extrapola.

Os valores agregados serão devorados pelo tsunami da disponibilidade técnica levando com ele o valor do capital mediano para o poço.
Mesmo que se utilize uma máquina dessas na busca do produto dos sonhos, também não fará muita diferença porque muitos outros também o terão de modo similar e a concorrência tornará o propósito final sofrível ou inviável, exceto para os grandes capitais que dispõem de meios para subjugar a concorrência menor e seus consumidores, como já acontece hoje em escala mais lenta dadas as restrições que a tecnologia futura vai superar. Portanto, agilidade nem sempre é uma coisa tão boa.
Depende a direção que ela toma!!!

O investimento ficará cada vez mais restrito aos enormes conglomerados de capitais que poderão empreender algo com valor agregado real acima daquele que a inteligência artificial for capaz de gerar, desde que aliada a uma casta intelectual que se tornará escrava pela especialização e pela indisponibilidade de alternativas de trabalho em seu alto nível laboral. 

Se hoje já temos uma concorrência brutal banalizando o processo e concentrando a renda, então no futuro, a aceleração voando pelas asas da computação quântica através dos processos inteligentes conduzirá rapidamente para a socialização inevitável de todos os meios sociais e econômicos.

O capital deixa de ocupar a mesma importância que hoje tem na relação sustentada pela pluralidade das oportunidades e desafios, o que vai levar ao desespero e à derrocada os capitais menores canabalizados pelos capitais maiores em escala insidiosa, formando um processo recursivo de concentração de recursos e poder tal como uma bola de neve que irá eliminando a diversidade e colocando nas mãos de poucos, cada vez menos numerosos, os recursos de muitos.

Poder excessivamente concentrado confunde o Estado com o Capital, o que conduz à socialização.

Concentração de poder alimentada pelo próprio sistema de produção é fatal para o estado de direito  democrático,  porque a democracia se alimenta da distribuição do poder.

Assim como a concentração de carbono na atmosfera vai carbonizando nossas matas, a concentração dos processos produtivos irá exterminando a diversificação.

Infelizmente, nesse futuro a democracia será um sistema virtual existente em algumas culturas meramente por amor bucólico à tradição assim como hoje é a monarquia.



NOTA SOBRE O AUTOR

O leitor que não conhece outros posts deste autor pode imaginar pelo texto atual que o mesmo seja de alguma forma contrário à democracia, e está apenas buscando argumentos para enfraquecê-la.
Mero engano, e que poderá ser confirmado através das leituras de posts anteriores, aliás inúmeros, que abordam esse tema sobre democracia.

Infelizmente é necessário deixar a emoção sob a razão quando precisamos entender melhor o contexto daquilo que vivemos ou viveremos.
A razão prevalece e a dor fica como uma contingência do sentimento.


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agosto 08, 2023

Perdoe-se




 

Perdoe-se!

Se pudéssemos escolher o que somos, todos nós teríamos nascidos perfeitos!

Não é?!! 

Somos como nascemos, repletos de arestas contundentes e limites que nos impõem desafios permanentes na luta pela consumação dos nossos ideais de felicidade.

O tempo passa e com ele você vai peneirando o que foi erro daquilo que ainda pensa que foi acerto.
A certeza absoluta é privilégio divino.
Resta-nos apenas a sensação de acerto.
Até mesmo esta pode mudar com o tempo.

A juventude é bela mas traz seus desafios cruéis.
 A juventude é repleta de ansiedade, insegurança, sonhos e teorias por validar.

Essa carga de energia excepcional tem o dom de nos arrojar em direção ao futuro — esse desconhecido que buscamos dominar com a nossa esperança e autoconfiança.


E como disse, o tempo vai peneirando o sonho da realidade através do “feedback” de nossas ações.

O tempo vai convertendo as moedas de promessas e sonhos da juventude em promissórias de nossos erros e bônus de nossos acertos.

Repara que todo esse processo nada mais é que “evolução”!
Vamos aprendendo com os erros e procurando repetir os acertos cuja estratégia nem sempre continua válida porque o contexto vai mudando, quando então precisamos nos reinventar.


Perdoe-se!
Se você pudesse ter escolhido teria nascido perfeito!
Ninguém faria escolha diferente!!!


Errar faz parte do processo de aprender, que por sua vez traduz-se em evolução.

Quando eu me perdoei porque não nasci perfeito, desapareceu o sentimento de culpa, mas em contrapartida cresceu a necessidade de reparar,  amenizar ou compensar as consequências do mal que causei com os meus erros.

“É perdoando que se é perdoado.”

Comece por você mesmo.
Perdoe-se e saia da autopunição para a compensação dos erros inevitáveis desse processo chamado “evolução”.

Nada é de graça.
A felicidade cobra o preço da reparação.


Série O Radicalismo e o Dilema Israel vs. Hamas - A Procura da Solução N.5

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