agosto 14, 2023

Impactos da Inteligência Artifical Sobre a Sociedade, a Economia e a Democracia 2

 





Na continuidade do tema do post anterior, como havia comentado logo no início, sendo o assunto tão amplo e instigante, certamente não se esgota tão facilmente, o que torna irresistível abordar outros aspectos.

Suponha dois fabricantes de pregos.
Ambos compraram recentemente as suas máquinas dos melhores fabricantes de máquinas de pregos.

Como os fornecedores são os "melhores", logo suas máquinas são muito semelhantes nas características produtivas e na qualidade final, pois do contrário não seriam os melhores.
O que leva um fabricante de pregos optar por uma ou outra marca de máquina para a fabricação de pregos, já que a qualidade e a produtividade são semelhantes, reside nas diferenças de condições de pagamento, logística de suporte técnico, disponibilidade política (sim! pois se você comprar uma máquina de um país que entrou em conflito com o seu, muito provavelmente ficará sem assistência técnica) e etc.

O que sobra como diferencial para esses dois competidores fabricando pregos?
Além da estratégia comercial e política dentro de uma mesma região, resta apenas a qualidade e o preço do aço que vai alimentar essas máquinas como fator maior na composição do preço final do prego, claro que considerando insumos diversos, mão-de-obra, impostos e etc., porém a participação do aço no custo total é o mais relevante dada à automação e a alta produtividade dessas máquinas.

Neste exemplo, descreve-se o panorama empresarial e comercial básicos que regem a cadeia produtor/consumidor utilizada pelo ser humano da era industrial e tecnológica moderna.

A IA é uma máquina de fabricar informação sob demanda, tal como uma máquina de pregos cuja demanda é a especificação que o usuário entrega na requisição.
Nada de muito especial no que tange ao modelo econômico produtor/consumidor, apenas diferente porque pregos já banalizaram, mas informação é um produto relativamente novo, disponibilizado intensamente ao final do século passado e popularizado mundialmente no século atual.

Essa analogia ajuda a perceber que a demanda por um "aço de melhor qualidade e mais barato", no caso a "informação", vai aumentar exercendo uma pressão de demanda agilizada pelo poder de processamento dos sistemas de IA que são suportados por imensas bases de dados, como o aço através das minas dos minérios que o compõe.

Essa pressão pela demanda de mais informação com melhor  qualidade vai aumentar a agressividade da sua captação exigindo o enriquecimento constante de seus metadados, que são os dados complementares que "falam a respeito" dos dados em si, tal como o contexto em que a informação foi coletada, origem, perfil do usuário ou sistema que gerou a informação, zona política, etc. etc. etc. 

Metadados, às vezes, parecem se tornar infinitos, ocupando muito mais espaço que a informação em si, porque são eles que agregam a matéria prima mais valiosa para subsidiar o enriquecimento da interpretação dos mesmos, pois definem entre outras coisas o contexto de sua origem.

E essa pressão, por conseguinte, vai recair sobre as fontes geradoras, sendo as três principais:

- dados gerados por usuários.

- dados gerados por sistemas processadores de dados (big data, satélites, data lakes, etc.).

- dados gerados por coletores de dados IoT (Internet Of Things — são aqueles sistemas distribuídos/embarcados em outros e que precisam informar algum cliente. Um exemplo são os carros autônomos reportando condições do veículo para o fabricante, ou sensores de prédios inteligentes, sensores meteorológicos e outros usados em vários campos da atividade humana tal como a agricultura, oceanografia e etc.).

A política que rege a Internet sob tal demanda vai endurecer ainda mais o protecionismo regional da informação, porque a diferença em sua qualidade valerá mais que ouro.
Que adianta ter a melhor máquina de pregos do planeta se o aço que alimenta sua produção não é o melhor?!! Se o prego dobra na batida do martelo??


O leitor já deve ter percebido e estar convencido que a "informação" é um produto como outro qualquer.
Essa pressão de mercado vai dar um cunho proporcionalmente mais agressivo à invasão de privacidade.

De um lado temos os governos e as empresas precisando de "surveillance" (palavrinha da moda para vigilância legalizada e institucionalizada como "cultura"). 

Na prática significa que o seu direito à privacidade está na mesma situação da "vaquita", um cetáceo dos mais ameaçados, que recebeu alerta de extinção. Segundo este artigo "Cetáceo mais ameaçado, vaquita, recebe alerta de extinção - Mar Sem Fim", restam apenas poucos exemplares.


Empresas de media social serão "descaradamente" captadoras de suas informações pessoais e a privacidade e a segurança de nossas máquinas estarão cada vez mais "relativas".

"Caprichei na palavrinha relativas, mas pra bom entendedor, meia palavra basta!"  :-)


Atualmente, precisamos de ordem judicial para algumas circunstâncias que hoje significam invasão de privacidade. As novas leis que vão surgindo aqui no Brasil e fora dele, são cada vez mais invasivas sob o pretexto de garantir segurança nacional, social e outros interesses que são encaixados na "passagem da boiada" (esse ex-ministro do ex-presidente Bolsonaro eternizou-se com essa jóia política de sinceridade suicida).

A exemplo disso é o embate dos lobbies da media na elaboração da PL das "Fake News" em desacordo com a orientação político-social conduzida no congresso. 

Sob o tema "Fake News", dá-lhe mais invasão de privacidade via "flexibilização das leis" mediante uma necessidade autêntica porém convenientemente adaptada também a outros propósitos.

A guerra pela informação é travada silenciosamente através de computadores na caça pela invasão e pela defesa dessas informações, e o aumento da pressão dessa panela de pressão que já está em fogo alto, pode acabar tornando a válvula insuficiente para liberar o excesso de vapor mesmo depois de disparada a válvula de segurança. Assim, guerras físicas via drones por disputa e defesa de territórios cibernéticos, seja pela destruição material ou por sua sabotagem vão crescer em intensidade e demanda. A robótica dos drones em defesa da sociedade de entidades inteligentes cibernéticas, ou seja a IA personificada em suas várias entidades inteligentes, será o novo tipo de manchete que poderá ocupar os espaços dos noticiários competindo com as desgraças climáticas provocadas pela nossa incapacidade de colocar a própria sobrevivência humana acima de tudo o mais.

By the way...
Visto por esse ângulo desfavorável, um extraterrestre deve pensar que somos "peculiarmente inteligentes".


Note o leitor que esses fatos e essas guerras já ocorrem há muito tempo — WikiLeaks que o diga! —, porém o fator diferencial será a intensidade ampliada através das "muitas mãos" da IA que multiplicarão muitas vezes a eficiência da desfaçatez humana, bem como o seu brilhantismo quando empregar tal poder para valorizar a vida e o respeito por ela, amenizando nossa natureza suicida.

Como é sempre mencionado, tudo tem dois lados.
É o caminho da evolução, fazendo aumentar o senso de responsabilidade do ser humano pela intensificação de suas consequências.  E isto tem um lado muito positivo — inicia-se a era da conscientização coletiva.


Acredito que a extinção total da vida seja muito pouco provável.
Entre Bill Gates com as vacinas e o Elon Musk com a civilização em Marte, fico com o Bill Gates.

A ciência tem demonstrado que a vida encontra meios surpreendentes de se manter, recriar-se ou ressuscitar.

Se hoje cientistas tentam reanimar seres extintos ou "reconstruí-los" a partir da engenharia genética, certamente a ciência do futuro guardará ainda mais alternativas de solução à perpetuação da vida.

É o preço por evoluir pela falta de preparo moral à medida que se aumenta a capacidade intelectual mais rapidamente que a ética social.

Certamente, aos trancos e barrancos, chegaremos ao estado evolutivo de viabilidade socioambiental.

No pain, no gain!


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