dezembro 23, 2022

As Múltiplas Formas do Domínio Pela Mente

 




Religiões e doutrinas filosóficas foram e continuam sendo o instrumento de dominação pela arte de induzir o pensamento a partir de nossos sentimentos e crenças.

O tempo passa e a sociedade aperfeiçoa os recursos à sua disposição.

Depois da propaganda boca-a-boca, veio o marketing, a propaganda e os meios subliminares com o seu ator principal: o marketeiro.

A propaganda é uma mensagem ostensiva que trafega do produtor ao consumidor, com ou sem a  permissão dele.

Com os meios digitais, todos podem propagar ideias, oferecendo novas alternativas.

Então surge o influenciador.

Diferente da propaganda, o influenciador trabalha com clientela adquirida pela empatia e similaridades de desejos. Neste caso, é o cliente que busca a propaganda procurando suprir as suas próprias lacunas, ou seja, aquilo que ele não tem mas imagina que o influenciador tenha para suprí-lo de alguma forma.


Finalmente surge o "moderador".

Um grupo de pessoas reunidas com propósitos e afinidades semelhantes que utilizam o grupo como um reforçador coletivo e recíproco do ego em défict the autoestima, realimentado uns aos outros as compensações de que precisam. Neste caso, são pessoas que procuram aprovação e aceitação pelo que pensam. Aqui, o papel do moderador é censurar qualquer outro indivíduo que possa destoar das aspirações gerais.

O moderador age de forma sutilmente diferente.
Ele reforça a fixação mental daquelas pessoas do grupo que se nutrem da aparente amizade nascida dos mesmos desejos e sentimentos.
O moderador vai norteando os caminhos do grupo, fazendo reforçar os interesses e sentimentos na mesma direção daqueles que criaram o grupo.  É uma sutil arma social, onde um fanático pode radicalizar o fanatismo, alimentar um propósito reforçado pela interação cultivada dentro do próprio grupo.

Então as pessoas se perguntam por que repentinamente aglomerados coletivos disparam ações em massa?

Isso nos leva a pensar se não deveria existir um "moderador" de "moderador", e o mesmo para um "influenciador", ou algum outro instrumento que reduzisse esse poder que até hoje parece poder trafegar livremente.

Imagine o que acontecerá quando o "Universo Virtual" estiver popularizado com interações visuais perfeitas acompanhadas de transdutores sensoriais que darão à massa o poder de interagir usando os sentidos tal como olfato, tato, e dor?
Pense o que pode ser feito com isso!

Infelizmente, mesmo que venha a surgir algo para controlar excessos, esse mesmo "algo" poderá ser convertido para um instrumento ainda mais potente de controle e supressão da liberdade em benefício dos propósitos de quem deter este poder.

Leis e força de polícia são tão frágeis quanto forem as convicções de seu povo, e tal fragilidade conduz à oligarquia que através do poder econômico busca se defender, temendo perder o controle da situação, seja por uma causa social autêntica, ou para manter o status quo.

Então muitas pessoas se perguntam, por que a democracia está perdendo espaço para autocracia?...

Agora você tem uma das facetas desta resposta, portanto não a única.


dezembro 21, 2022

Julgamento

 

"Não julguem, para que vocês não sejam julgados.

2 Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.

3 "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?

4 Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu?

5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.

Mateus 7:1-5


Julgamento sempre foi o dilema da minha vida toda.

Esta frase de Jesus sempre me "enlouquecia" pelo desejo de entendê-la.

Por que?

A vida impõe julgamento constante:

Devo me casar com ciclano ou ciclana ou não?

Fecho negócio ou contrato esse indivíduo ou não?

Será que essa babá é de confiança?

A vida é recheada de encruzilhadas exigindo uma opção que depende de um julgamento.
Eu não conseguia entender Jesus, segundo Mateus ou qualquer outro discípulo que o dissesse da mesma forma. E ainda não consigo!

Eu precisava julgar.

Então criei uma solução temporária já que entender Jesus e  transpor seus ensinamentos para vida prática é um desafio medonho para a nossa ignorância e atraso.

A solução temporária foi esta:

Vou julgar exclusivamente o necessário, nada a mais ou a menos.
E o que é necessário?
Fofocas ou comentários não são.
Ou qualquer outra ação que não seja estritamente ligada à minha necessidade maior de fazer opções impostas pelas encruzilhadas da vida.

Vivemos com uma parte de nós mesmos, o que transforma o nosso autojulgamento em algo tão precário. Se não conseguimos julgar nem a nós próprios, como então poderemos acertar ao fazê-lo para terceiros?

Julgamos terceiros por fragmento de suas vidas, nem sempre confiáveis.
Julgamos a nós mesmos de forma mais condescendente, embora imaginemos ter todos os fragmentos.

Julgar é muito ruim porque a chance de errarmos é muito maior do que acertarmos.
Além disso, nossos julgamentos são regidos por nossos sentimentos.

Sentimentos não pensam, apenas sentem.
É a razão que produz um sentido para o sentimento.

Conclusão:
Julgar é uma contingência de recurso em último caso.

Por isso, vira fofoca, maledicência, maldade, inveja, etc. etc. etc.

Tenho vivido muito melhor reduzindo meus julgamentos.
De fato, parece que tenho me sentido menos julgado.

Jesus é um gênio, antes de um santo.
Dimistifique a figura de Jesus.
Racionalize.
Então ele fará muito, muito mais sentido!



O Que Aconteceria Se A Sua Memória Trabalhasse Diferente?

 

Nós existimos e não sabemos como e nem o porquê.
Apenas temos medo de deixar de existir. Ao menos, este é o pensamento da maioria, não necessariamente de todos, por mais inacreditável que seja.

Lutamos por existir, mas nem sabemos para onde vamos, qual o nosso destino, qual o propósito da vida.
Apenas queremos existir!

Talvez sejamos mais instinto que inteligência.

Somos regulados pelo instinto, inteligência e pela memória.


Instinto é algo mandatório que nos rege sem que possamos controlar ou identificar — uma força maior, transcedental.


Sem memória perdemos nossa identidade e nossas referências mais próximas que nos dão sentido ao processo de viver, embora não expliquem tal processo mas subsidiam algum sentido.

Se o leitor acha que estou "viajando", então imagine o seguinte:

1. E se fôssemos capazes de relembrar o gosto de um saboroso queijo que já tivéssemos saboreado.

ou

2. Que fôssemos capazes de relembrar uma música à perfeição, sem que fosse necessário cantarolar.

Certamente, só precisaríamos comer queijo ou ouvir uma música uma única vez.


É impressionante como nossas vidas são coordenadas e manipuladas sem que possamos nos dar conta.

Bastam dois exemplos, mas existem tantos outros, certamente!

Então... O quanto acha você que está no controle da ação do que você pensa ser você mesmo se tudo gravita em torno de um passado cuja consciência não temos garantia?

Quantos fatos fundamentais você já não esqueceu ao longo de uma vida?

Na verdade, vivemos com apenas uma parte de nós mesmos.


dezembro 18, 2022

dezembro 17, 2022

Hot Crowns - Capítulo V - A Mortal Guerra dos Bastidores

 




PREÂMBULO

 “Hot Crowns” é uma distopia política contando a história de uma nação imaginária na luta para encontrar seu melhor caminho nos descaminhos da paixão.
Qualquer semelhança com a história de qualquer nação é mera coincidência.

O imaginário é uma colcha de retalhos onde costuramos nossas percepções e sob ela nos abrigamos.

Este post e encerra esta série.

Capítulo anterior 


Hot Crowns - Capítulo V - A Mortal Guerra dos Bastidores


Com o retorno de Opus I,  muitos daqueles que não aceitaram as decisões do pleito, dispararam vários movimentos revoltosos, talvez inconformados ou perdidos pela esperança malograda do insucesso cuja rejeição dos resultados nega a conclusão dos fatos que mudaram o destino dos acontecimentos, e pela forma mais exaltada buscavam reverter o processo pelo delírio que imagina que suas manifestações, por si só, poderiam obter sucesso, mas que serviram como alguma demonstração da força de Rufinus.

Opus I tinha um novo desafio, mas desta vez muito distante do quadro de bonança social, política e econômica de quando assumiu o reinado pela primeira vez.

Este foi o inteligente legado do conselho ao sucessor de Rufinus, na busca de dissolver os excessos de poder dos reis que julgavam comprometer a estabilidade do reino. 

Havendo divisão geral de interesses em todos o níveis sociais, Opus I, apesar do demagógico discurso de que era preciso unir o reino e acabar com as diferenças, justamente aquelas que ele mesmo plantou durante todo o seu caminho para chegar ao trono, não provocou qualquer eco, exceto aquele da sua própria voz. 

Opus I teria que fazer um reinado negociando tudo com todos em circunstância extremas.
Traduzindo-se no dialeto político, significaria um fracionamento de poder que certamente comprometeria a sua própria hegemonia, algo que o conselho de modo muito perspicaz havia plantado em sua ousada estratégia buscando esvaziar o poder dos futuros reis a partir das experiências com os reinados anteriores. 

O reinado testava os caminhos dos descaminhos nas mãos do conselho e seus nobres na disputa acirrada pela distribuição de poder que pudesse evitar reconduzir o poder às experiências do despotismo passado, exatamente como acontece em qualquer sistema que mantém as aparências no troca-troca de comando onde o vencedor vira mestre e o perdedor vira servo.

Opus I reassumiu o trono em condições muito diversas daquelas que ele sequer imaginou, não por falta de sagacidade mas cego pela ambição tomada pelo delírio do seu retorno quando então viabilizaria resgatar sua dignidade, suas esperanças e tudo o mais que almejava reconstruir novamente, incluindo o poder de sua dinastia que desejava deixar como legado.

Ao contrário de Rufinus, Opus I detinha uma inteligência emocional (QE) muito aguçada, porém não seria uma tarefa fácil diligenciar os eventos a seu favor já que perdera grande parte da sua hegemonia apesar do silêncio e discrição de toda a sua dinastia, que sorrateiramente trabalhava para readquirir o poder pleno da dinastia, todos levados pela obsessão cega que não quer ver as mudanças contextuais que definem um novo quadro político para aquele reino.

Seguindo Opus I, havia sua conselheira Firmina que cuidava daqueles que embraçavam a causa da dinastia Opus. Ela acreditava realmente na ideologia da dinastia e esperava herdar o trono de Opus I  qual um romance ideológico materializando os feitos do mestre. Afinal, Opus representava seu trampolim para a coroa do reinado tão logo a idade trouxesse os limites que o tempo impoem.

Firmina era uma dessas mulheres que se destacam pela persistência de suas paixões, uma paixão que parecia alimentar-se de um sentido de ódio, vingança e revanche, tudo justificado sob o apanágio da ideologia, como é o usual àqueles que trilham os sinistros caminhos do poder absoluto e precisam justificar para si mesmos os motivos de suas atrocidades. Seres assim seguem o rumo dos ditadores no afã de construir o mundo idílico que imaginam possível através das crenças de seus afins. 

A história dos reinos, no entanto, mostrava que este caminho geralmente terminava nos precipícios da ilusão, onde só se beneficiam aqueles que estão no topo do poder, transformando o povo em meros subservientes de um poder maior que lança as suas garras à supressão da liberdade individual. Firmina não entendia assim. Sentia mais como uma libertação, talvez de sua prisão emocional às custas da liberdade coletiva, mesmo que não o soubesse dessa forma.

O seres humanos tornam-se cegos às consequências de seus sonhos que obstinadamente insistem em perseguir, sem levar em consideração os resultados coletivos, desde que o poder lhes seja garantido.
É novamente a cegueira da ambição tolhendo a liberdade alheia, uma saga na história que define a natureza da humanidade.
 
E assim, neste contexto de disputas entre todos os envolvidos, vê-se Opus I assumir um poder que não poderá exercer à plenitude como sonhava.

Um rei cumpre sua função a exemplo da abelha rainha, que em sua omissão leva a colmeia à total desorganização. A abelha rainha, por sua vez, tem seu papel controlado pelo instinto natural que garante seu comportamento adequado ao crescimento da colmeia.

Nos sistemas humanos, o rei é mantido pelo sistema, contudo, algumas vezes o rei vira o próprio sistema.
Quando o sistema é mais forte que o rei, este é utilizado tal como a abelha rainha para manter seu povo sob condições sociais adequadas, e seu poder de atuação é proporcional a essa relação de poder com o sistema.

Se o sistema tem muita força, o rei torna-se sua marionete pelas mãos do "establishment", caminhando para uma monarquia parlamentar, onde os conselheiros e outros nobres vão adquirindo poder subtraído do rei às custas de artifícios e leis.

Ironicamente, Opus I tornara-se instrumento do mesmo sistema que desejava transformar.
A batalha seria mortal já que uma tentativa desajeitada de desconstruir aquilo que lhe tirou o poder e depois lhe devolveu 
seria fatal.

O conselho sabia claramente que a situação na mão de Opus I não seria uma solução ideal, porém havia ganhado mais tempo para que através de uma estratégia alternativa, travada nos bastidores políticos, pudesse conciliar o equilíbrio do sistema da forma como entendiam melhor.

O reino que, parecia aparentemente dividido em apenas duas facções, tinha na verdade três, sendo esta última uma força que passava desapercebida do voto popular mas que havia construído seu trajeto de controle do poder sob a discrição dos meios que controlava.

Opus I tinha uma longa disputa pela frente, não só pela reconstrução dessa malha de poder que havia tecido, e agora rota, mas também por um contexto desfavorável onde o inimigo havia ganhado muito terreno.

Se Opus I havia construído sua dinastia, Rufinus deixava também a sua como legado mortal a seus inimigos.

A intensidade de negociações por fazer, buscando converter a malha de poder, ao mesmo tempo que fortalecem esse poder também o drenam, resultando em um saldo imprevisível.

A dinastia Opus estava ciente, mas não tinha alternativa.
Opus I talvez procurasse concentrar o poder em suas próprias mãos porque sabia do risco que estava correndo, porém ele estava acostumado ao jogo político onde as alianças iniciais são ainda mais frágeis, meros trampolins para a disputa de posições, que uma vez alcançadas servirão de instrumento aos verdadeiros objetivos.

Aquele que lhe beija hoje é o mesmo que lhe puxa a adaga amanhã.
Resta apenas saber o momento certo de fazê-lo antes.


Era um reino amplo e pujante, rico em recursos naturais, onde a economia e a sociedade floresciam.
Diante desta pujança, os prejuízos e as dissipações de recursos provenientes de política incorreta ou beligerante podem ser absorvidos e o resultado final ainda apresenta crescimento econômico contribuindo para minimizar o impacto emocional dessas sequelas junto a opinião popular mal informada ou inábil para alcançar as peculiaridades da realidade que demanda instrução e inteligência.

A ausência de métrica, ou talvez de divulgação, medindo o que se deixou de ganhar, ou ainda o que se deixou de fazer, não era apresentada ao povo — a educação que poderia ser melhorada, o investimento em pesquisas que reforça a segurança do reino, enfim, a parcela da qualidade de vida consumida pelas disputas e pelos ralos de interesses pessoais que tragam estes recursos para o abismo da inconsciência.

Essa ausência de percepção de prejuízo mantém o povo mais calmo.
A ignorância pode ser a melhor amiga da paz manufaturada.


DEDICATÓRIA

Este post é uma homenagem ao meu pai que não poupou esforços em minha educação, confiante nas minhas escolhas, e também aos meus professores de história, especialmente um deles que também dava aulas na Sorbonne Université. 

E através da história — uma mera experiência anterior que pode repetir-se no presente — fizera com que entendêssemos que essa mesma história da humanidade é mais que uma compilação de datas e dados através de eventos aparentemente pouco conexos em uma sucessão enfadonha em virtude de um significado pobre do ponto de vista prático, e que afasta o interesse da maioria beneficiando uma minoria que consegue desvendar seus segredos.

Pela oratória brilhante do Prof. Jobson Arruda pudemos entender alguns princípios básicos, pois a história da humanidade por ela mesma é o registro da saga de interesses baseados em ambição e controle, pois o primeiro não subsiste na inexistência do segundo, um jogo vivido no tabuleiro econômico a serviço do ego.

Através dele, tivemos a honra de compartilharmos os mesmo níveis de qualidade do ensino daquelas universidades européias famosas que se dedicam à sua elite para a continuidade de seu poder, sem que ele precisasse fazer uma única menção contra o "establishment".
Isto, de fato, denota aqueles cuja inteligência acaba trafegando nas gerações futuras.
A ele, meu muito obrigado por permitir que eu começasse a ler os eventos jornalísticos através de lentes mais aprimoradas sob novas perspectivas.


Eu acredito em educação.
O problema é que eles também!

dezembro 16, 2022

Nada "faz diferença" no Processo Evolutivo


 

Eu sempre releio os meus posts, de tempos em tempos.
O site já vai para mais de 10 anos e a releitura dos posts leva sempre a preocupação da revisão, como os olhos de um crítico de um "Eu do futuro" sobre o "Eu do passado".
Até hoje, coletei apenas os erros fortuitos de linguagem de quando eu olho para o texto recém escrito mas não os vejo.


Eu acredito que aquilo que você escreve ou fala, ou os pensamentos que você compartilha fazem parte do que define o seu "karma", com ou sem a crença reencarnatória.


"Então, Jesus conclamou a multidão a aproximar-se e pregou: “Ouvi e entendei! 11Não é o que entra pela boca o que torna uma pessoa impura, mas o que sai da boca, isto sim, corrompe a pessoa”. 12Então, aproximando-se dele os discípulos, avisaram: “Sabes que os fariseus se ofenderam quando ouviram essas tuas palavras?” …"
Mateus 15:10


Ao reler o último post nesta ocasião, acabei me sentindo compelido a comentar o seu desfecho, porque pode ser construtivo, e que transcrevo novamente aqui:

Nada faz diferença no processo evolutivo que por si só é o único condutor da nossa evolução.

Nenhum preconceito decorrente de nossos estágios intermediários de compreensão tem o poder para interferir ou mudar algo.

O nome disso é "Deus".


Deste texto, já que se poderia extender outros pensamentos, eu escolhi um deles, o principal dentro do contexto em que foi escrito, através de um exemplo simples.

Imagine duas roupas sujas.
Uma muito encardida, outra apenas com o suor do dia de quem trabalha em ambiente refrigerado.

A primeira vai demandar mais esforço na lavagem, seja pelo tempo ou pelos recursos empregados.
A segunda será mais rápida, tendo um custo menor, porém ambas as peças de roupas não têm o poder de dominar esse processo por elas próprias, porém seus estados apenas determinam o custo em esforço desse mesmo processo.


E por que andais preocupados quanto ao que vestir? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. 29Eu, contudo, vos asseguro que nem Salomão, em todo o esplendor de sua glória, vestiu-se como um deles. 30Então, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? …
Mateus 6:28

E, não temais os que matam o corpo, mas não têm poder para matar a alma. Temei antes, aquele que pode destruir no inferno tanto a alma como o corpo. 29Não se vendem dois pardais por uma moedinha de cobre? Mesmo assim, nenhum deles cairá sobre a terra sem a permissão de vosso Pai. 30E quanto aos muitos cabelos da vossa cabeça? Estão todos contados. …
Mateus 10:28


NOTA ADICIONAL

O desenvolvimento e a evolução de meus pensamentos não têm vínculo religioso.
Eu entendo que a verdade é única e Universal, sendo ela justamente a base desse processo evolutivo que se traduz nessa nossa busca por esse conhecimento gradual em parcelas mínimas ao longo do tempo.
Eu vejo a bíblia como uma fonte adicional, mas não necessariamente única, porém a mais divulgada.




dezembro 13, 2022

Pena de Morte - A Favor ou Contra?




A "pena de morte" é um tema polêmico.

Imagino que as pessoas que a defendem só poderiam ter certeza da força de sua convicção se tivessem sofrido na própria pele este suplício e ainda assim mantivessem a convicção inicial.

A esses, eu tiraria o meu chapéu, mas seria uma minoria que acredito pequena, muito pequena mesmo!
A dor e a revolta de presenciar crimes hediondos com pessoas que amamos torna-se um desafio que testa a convicção.
Não desejo para ninguém tal desafio.

Também não tenho o propósito de discutir aqui o mérito da questão, mas o aspecto comportamental do indivíduo, cuja opinião pode mudar depois de sofrer ele próprio um assalto com estupro de um filho ou filha, um pai, ou uma mãe, finalizado com latrocínio e depois de tudo isso ainda precisar conviver com o amanhã diante da possibilidade do repeteco, ou dos repetecos...

Absurdamente duro!!

E se for para levar o assunto a sério, pena de morte por si só não resolve.
Pode satisfazer a necessidade psicológica de vingança, justiça ou controle, mas se fosse efetiva, de fato, países que a adotaram estariam bem.

Os EUA têm a pena de morte , e apesar disso a criminalidade lá é intensa! 
Seria muito pior sem a pena de morte? 
Quanto???

A exemplo de lá, o sistema judiciário tem um processo lento.
A lentidão é uma precaução contra erros de julgamento, então a dor se arrasta anos até a data da execução, mas ao menos, as vítimas podem sentir o resultado de alguma correção, porém não resolve o problema da criminalidade, contudo acalma os desejos de alguma compensação.

Transposto aqui para o Brasil seria ainda pior, pois além da lentidão dos processos, que o povo paga até mesmo para os casos mais simples, e diante de um judiciário que não está bem, onde até presidenciáveis e seus envolvidos são liberados por seus ministros alegando-se cumprimento de lei, ora interpretada de um jeito ora de outro, ainda haveria a possibilidade da pena, mesmo que aplicada, ser amenizada como tem acontecido para todos os casos, hediondos ou não, seja por bom comportamento ou por qualquer outra regalia de uma série delas que promovem a minimização de pena — a justificativa dada é que o sistema penitenciário não suporta, mas ao que parece o "lombo do povo" pode suportar criminosos sem chances de reabilitação social que quando reconduzidos para a sociedade farão novas vítimas.

Ainda pior, diante da incerteza com que as decisões judiciais têm sobrevivido na gangorra dos acontecimentos, a pena de morte poderia ser utilizada também como meio de conter oposições, exterminar inimigos, etc.
Ou simplesmente como arma de terror.

Decorre do exposto acima que agir "dentro da lei" é algo relativo mediante uma lei tão flexível que torna difícil punir crimes, ou ainda pior, imaginar que a lei, em virtude dessa flexibilidade, talvez já esteja contaminada.

Leis flexíveis demais?
Ou, flexibilizada demais?!!!

De uma coisa eu tenho convicção!!!

Mediante um sistema roto, com uma estrutura judiciária em crise, ou digamos flexível demais, a pena de morte só enriqueceria advogados e seus interessados, bem como o tráfico de influência entre os que têm capital para se tornarem imunes ao pior, ou mesmo através da "venda de soluções" àqueles que não têm.

Quanto maior o número de produtos que criamos, maior a oferta de serviços vendendo poções mágicas para todos os males. Viva a criatividade!

É a lei natural do mercado que não acontece apenas aqui, no Brasil.

Pergunte à máfia se ela realmente desejava que a lei seca fosse abolida nos EUA, ou ainda, pergunte aos cartéis qual a opinião deles sobre a legalização das drogas!!!


Por que os bilhões de dólares que são gastos na sua contenção não poderiam servir para dar suporte às medidas mais efetivas já que "a briga de gato e rato" apenas enriquece ambos?

Conclusão: quando um carro está muito ruim, melhor mesmo um novo! :-)

E a troca por um novo, quando de fato "o novo" vai continuar "velho", também não resolve, porque para que o novo fosse realmente novo, seria necessário trocar também grande parte da população que sustenta esta conjuntura pois é conivente com o erro, seja através de pequenos atos, condutas ou da forma de pensar, tal como a venda de votos, o aproveitamento de situações ilícitas quando têm a chance, e etc, etc, etc, etc, etc., etc...

Mesmo que a lei da pena de morte fosse instituída para atender o anseio do povo, os lobbies a médio e longo prazo poderão ir criando subterfúgios e atenuações que vão passando à revelia do conhecimento popular já que muitas vezes os textos são suficientemente técnicos para reduzir reatividades indesejáveis. 

Temos o exemplo dos crimes hediondos que diante de tantas possibilidades a pena deixa de ser "hedionda".

Tudo acontece depois do impacto da notícia, quando então o crime mergulha no esquecimento da media...

De que adiantaria contratar um advogado se não houver uma possibilidade de "solução legal"?

A prova disso é que a nossa legislação é rica em punições mas ainda mais rica em suas amenidades legais, ou sejam, leis que atenuam leis.

E qual a solução?!!

O que a história tem mostrado é que a solução genuína caminha junto com o sofrimento trazido pelas consequências ruins, cada vez piores, momento em que a sociedade encontra o estímulo certo para começar a pensar de outra forma, percebendo que "tirar vantagem de qualquer maneira" é, na verdade, uma desvantagem.

É uma questão que encontrará solução através da evolução social!
Não faço menção nem mesmo à evolução moral, algo que seria ainda mais altruísta, mas à falta de inteligência na percepção óbvia dos acontecimentos na cadeia da vida.
Diante desta percepção não vamos mudar por amor, mas pelo interesse de poupar nosso sofrimento de atitudes que então serão consideradas coletivamente inadequadas e obsoletas.

Do ponto de vista pragmático, se a Lei reconhece o direito pela autodefesa, a pena de morte torna-se apenas uma extensão desse mesmo direito sob o senso da prevenção pela proatividade na precaução de sua repetição diante de um quadro cujo perfil renitente e psicopata do condenado deixa certo e claro que a sua repetição é questão de tempo, pois o lobo perde o pelo mas não perde o vício.


No entanto, aprovar tal lei, seria conferir ainda mais poder a um sistema de justiça que encontra até mesmo dificuldade para aplicar a lei no combate a outros crimes, a exemplo da corrupção.

Apenas aumentamos o poder de uma máquina que não está bem!
E se não está bem, certamente com mais poder teremos ainda mais problemas e distorções.

Em mãos ruins, qualquer iniciativa se converte para um resultado de mesma natureza.

A solução não está apenas nas leis, mas na natureza daqueles que a aplicam.

dezembro 06, 2022

Qual a Sensação no Limite da Sua Inteligência?

 



Desde criança eu era uma traça de biblioteca.

Deixava de brincar para ler, ler, ler...

Sinto falta da juventude não vivida?
Jamais!!!
Sinto falta de não ter podido ler mais, aprender mais, reter mais.


Meu pai tinha uma bela biblioteca com mais de 3000 volumes em um grande quarto nos fundos da casa onde eu passava a maior parte do meu tempo.

Juntando com os que comprei, após a sua morte, havia mais de 6000 volumes.
Uma sala grande da casa e várias estantes tinham o privilégio de contê-los.

Acabei doando boa parte dessa biblioteca a outras bibliotecas, já que não os leria novamente. 
Eu não queria o karma de retê-los só para mim, já que o reuso era improvável.

Garoto ainda, lia todas as biografias dos grandes gênios que a humanidade ia criando.
Gastava minha mesada nisso.

Era algo que me absorvia completamente — a capacidade de compreender, de expandir os limites às tantas perguntas que me angustiavam e ainda me angustiam. Por que aqueles homens tinham respostas que a maioria não tinha?
Isso era algo inexplicável para mim àquela época, mas que continuou a fazer parte do meu "ser" por toda a vida.

Passei a vida frustrado por não ter a memória que sempre sonhei para reter tudo o que aprendia.
Para mim, sempre foi um drama, um sofrimento enorme, uma frustração inconsolável!
Passei a vida rejeitando os meus limites, quem eu era, quem eu sou!
Passei a vida rejeitando a vida!!!

Finalmente trouxeram-me um presente sem que o soubesse, que só pude desembrulhar recentemente.

Nas várias vezes em que estive em companhia daqueles que eram capazes de me fazer transpor os meus limites, eu retornava com um dos dois possíveis estados que me ocorriam:

- ou com a sensação de limite expandido, como se tivesse saído de uma casa pequena para uma maior — aquela dos seus sonhos onde tudo vinha acompanhado de uma alegria indescritível, 

- ou como se tivesse perdido o chão sob os pés, onde a realidade desconectava-se do mundo em que sempre vivera.
Essa sensação é semelhante à sensação de "loucura temporária".
Embora são, você não se sente da mesma forma que o usual.


Para minha sorte, a minha burrice me protegeu, porque ela sempre me ancorou naquilo que eu sou, na realidade que posso compreender, do contrário, teria perdido a conexão que me mantém coerente com o mundo em que a maioria de nós vive e que constitui o padrão de sanidade mental.

Hoje, depois de mais de meio século, finalmente agradeço à minha burrice, aos meus limites, pela segurança de me sentir conectado com a vida, naquilo que imaginamos como real, e viver como tal,  o que nos faz tão bem, mantendo nossa rotina dentro daquilo que entendemos por normalidade.

A burrice, se de um lado causa restrições, do outro também nos protege do nosso despreparo no confronto com os limites além da nossa capacidade.


Você queria saber o que é estar no limite do seu Eu?

O seu cérebro dispara na capacidade de processamento.
O número de combinações que ele executa para encontrar uma solução dispara, executando operações numa velocidade que você nunca imaginou.
Operações essas que nós normalmente realizamos inconscientemente e que resultam naquele estalo, na ideia que surge na sua mente como algo que cai no colo. A diferença é que nesses processos você está ciente de todas as estapas, participando e conduzindo, onde o nível de consciência expande-se a velocidades que podem acompanhar o pensamento — uma característica intrinsica a estes momentos.
O número de operações transcende ao quociente tempo/espaço a que estamos acostumados, ou seja, à velocidade que cadencia o que entendemos por normal.

Então, é como se você pudesse pertencer a uma outra dimensão de pensamento e realidade onde a sua realidade normal, aquela do seu dia-a-dia, torna-se como uma bicicleta quando você ganha um carro.
Algo de valor meramente sentimental mas totalmente arcaico e inútil quando o objetivo é transpor distâncias no menor tempo.

É muito bom, mas compromete a realidade em que seu corpo físico vive e que sustenta a sua vida.

Os limites do conhecimento esbarram sempre com a sensação de loucura porque você certamente terá que caminhar sozinho diante da dúvida, do despreparo, do desprezo e do juízo daqueles que lhe condenam a sanidade, uma sanidade que é reflexo das restrições comuns à maioria.

A exemplo disso, lembro de um momento da minha juventude.

Quando estava no ensino médio, um professor me localizou no meio da turma e afirmou que eu queria fazer uma pergunta. Isto aconteceu quando cursava o Colégio Objetivo, na Av. Paulista, em São Paulo.
Era uma classe com seus 200 alunos ou mais.

Eu tentei negar.
Queria escapar do constrangimento diante de todos.
Ele parou a aula e avisou:
"Só continuo depois que você fizer a sua pergunta".

E parou mesmo!

A classe reclamou, a situação ficou tensa e então eu fiz a maldita pergunta para me livrar logo da situação.
Ao terminar a pergunta, a classe desabou em algazarra e zombaria.
Ouvi coisas como "o cara fumou", "bebeu", "vai pra casa!", "fala sério!!!", e etc.

O professor, um calejado professor de física da USP do curso de energia nuclear, deixou que a classe estravasasse calmamente... para o meu suplício!
Suportei tudo — foi mais fácil já que não era primeira vez, mas ainda um suplício.

Após o ápice da expansão emocional natural da nossa juventude, ele acenou com os braços pedindo calma. Virou-se para mim e respondeu à minha pergunta.

A classe em polvorosa novamente batia os pés no chão reclamando que não tinha entendido nada!
O som era alto e ecoava por todo o prédio.
Um bedel veio à porta e sossegou assim que o professor acenou que estava tudo sob controle.

Para simplificar a narrativa vou resumir a resposta dele:

"Não adianta gente, não dá para explicar a resposta que dei a ele..."

Novamente, para meu desespero, ele retorna para mim e diz:
"Você tem uma segunda pergunta.
Paro a aula novamente até você perguntar."

Àquela altura eu já imaginava que o cara era "vidente", um ET lendo mentes disfarçado de professor.
Ao mesmo tempo eu olhava para o meu corpo, mãos, pés e tudo o mais para ver se identificava algum tic nervoso em mim mesmo, mas nada!!
Estava quieto na cadeira.

Esse cara sim, era especial!!!

Fiz a segunda pergunta, que era evolução da primeira, mais para me livrar logo da situação.

Novamente, a mesma bomba, a mesma reação da classe, com repeteco e etc.!


Conclusão: confortável é ser normal dentro daquilo que a maioria acha normal. :-)))

Hoje, nos meus momentos burros, ao invés de reclamar, aprendi a desfrutar do conforto dessa normalidade! 😊

E se você for como eu, com seus momentos desconfortáveis ou inconformado com a sua burrice, tire vantagem da última. É muito mais lucrativa em termos de conforto!  :-)))


NOTA:

Este post é um legado para todos os jovens, ou não, cuja existência lidou com os limites de si mesmo.
Neste mundo solitário da individualidade que trafega o desconhecido, a solidão é a única companheira do mundo físico, porém a percepção nos diz que não somos únicos, temos companhia, o que nos conforta a alma.

Neste momento raro, onde o tempo já faz "a contagem regressiva" da minha existência, deixo o meu conforto às pessoas assim, que trafegando pelo seu próprio Eu, aparentemente isoladas mas unidas por uma consciência Universal que nos suprime da solidão, transitam a caminho de novos estágios sem medo de fazê-lo solitariamente, ao menos aos olhos do mundo físico!

Não tenha medo. É bom apesar do desconforto.

E se você ao final da leitura, não entendeu nada, está bom também! :-)
Não faz diferença.


Nada faz diferença no processo evolutivo que por si só é o único condutor da nossa evolução.
Nenhum preconceito decorrente de nossos estágios intermediários de compreensão tem o poder para interferir ou mudar algo.

O nome disso é "Deus".





dezembro 05, 2022

Separando Para Decidir Melhor

 



Tomar decisões é o ponto crítico da jornada da vida.

Decidiu mal e poderá pagar até mesmo por toda uma vida por uma decisão que durou apenas alguns segundos de irreflexão.

Nesta luta por escolher a melhor decisão, seu grande aliado é o seu poder de separar a coisas, colocando em caixinhas diferentes e específicas.

Uma decisão é fruto do pensamento que conclui algo sob a emoção daquele momento.
Seria isso, simplificando, porque existem outros fatores, por exemplo físicos, e para os espiritualistas, as influências.

A proposta é trabalhar com aquilo que é mais fácil identificar e controlar.

O primeiro passo é separar a razão da emoção o que facilita muito entender o momento que estamos vivendo em determinado momento.

Vamos usar um exemplo onde alguém faz alguma coisa terrível para você, causando um grande dano.
O primeiro impacto é o da emoção.

Se for muito grande, não sobra espaço nem mesmo para o segundo momento: a razão.
Convém lembrar, que as pessoas não emotivas, têm sequência de prioridades inversa.

Tratando do mais usual, ou seja, de pessoas emotivas, nestas circunstâncias mais extremas acabamos tomando a decisão exclusivamente pela emoção.

"Bad choice"! :-(

É a pior escolha.
Emoção apenas faz com que abramos a porta ao inimigo porque ele de algum modo soube nos fazer infelizes e manipular isso para obter reação, então simplesmente revidamos o mal que nos foi feito da forma mais rápida que a emoção encontra, cumprindo o objetivo dele, causar reação que pode nos enfraquecer.

O problema é que a emoção não pensa, só sente!
E quem não pensa antes de agir, pode se quebrar feio! Muito feio!

Então como funciona a técnica?

A primeira coisa que você faz diante do impacto de uma notícia é "não fazer"!


Preste atenção no tipo de emoção que lhe predomina naquele momento.
Ela é o começo, o fio da meada.
Se for ruim, é preciso primeiro controlá-la e substituí-la por algo mais construtivo.

Isso pode parecer algo lento, que não atende à velocidade com que precisamos reagir.

Ledo engano!

Depois que você treina essa etapa, ela fica tão automática que o processo é instantâneo.

Se a emoção é de urgência, pense em calma para decidir o melhor, pois ajuda equilibrar o processo mental.
Se for de ódio, revanchismo, deixe para ponderar depois quando o efeito maior do impacto tiver passado.

Em termos de autodefesa física, a estratégia segue a prática das artes marciais através de treinos constante que vão condicionar os reflexos.


Estratégias podem ter pontos fracos.

Nesta estratégia temos dois principais pontos frágeis:

- represamento emocional inconsciente,
e
- envolvimento emocional.


Cada vez que trabalhamos um sentimento pode haver algum represamento gradual de emoções, mesmo que inconsciente.

Se houver envolvimento emocional, por exemplo família, o processo fica mais intenso.

Este processo de represamento é difícil de identificar na fase inicial, mas à medida que cresce, vamos sentindo progressivamente uma irritação maior. Neste momento, pergunte-se: "Por que estou irritado?"

Não aceite as primeiras respostas que buscam justificar a sua irritação. Descarte-as.
Vá a fundo na causa. Seja sincero ao menos com você mesmo!  :-)


Esta irritação é um processo traiçoeiro que pega a gente sem perceber, resultando numa explosão repentina a partir de algo que é relativamente pequeno e não justificaria a reação.

É a famosa gota que transborda o copo.

Lidar com isso é um desafio.
Um bom antídoto é mudar a forma como vemos as coisas, pois dessa forma não haverá meios de represar algo que não gera efeito colateral negativo porque o seu tratamento mental mudou o foco.

Buscar espairecer ajuda, mas é uma solução temporária, passageira.
Alivia momentaneamente mas não garante que os níveis de represamento retornem a zero.


Há uns anos atrás, esse processo silencioso me pegou de surpresa quebrando anos de total estabilidade emocional enquanto eu seguia, primordialmente, apenas a estratégia de separar a razão da emoção de forma individual. 

Coisas negativas têm seu lado positivo e já que pagamos o seu preço vamos aproveitar o que podemos colher de bom daquilo que de ruim inevitavelmente nos aconteceu.
Seria algo como ir ao supermercado, passar no caixa, pagar e não levar a mercadoria.
Já pagamos pela consequência do que é ruim, então vamos trabalhar no lucro para compensar.

Aquele acontecimento serviu para me alertar que havia uma lacuna naquela técnica e também para me lembrar que aquele pensamento de confiança excessiva por imaginar que já chegou aonde queria ter chegado era falso, mesmo a despeito de muitos anos de sucesso, fazendo-me lembrar que sempre pode existir um passo a mais para ser dado, e quando chega essa hora de dar este passo adicional, não podemos desanimar pensando que os limites parecem infinitos.

Nestes momentos ajuda muito lembrar o quanto você já caminhou na direção certa e o desperdício de abandonar a viagem depois de tão longa trajetória, voltando de mãos vazias que lhe obrigariam a encontrar outro meio de prover solução, ou seja, nadar, nadar e morrer na praia!

Jamais!!  :-)





dezembro 02, 2022

Manifesto Antipreconceito!

 



Se você tem hoje, por exemplo, 20 anos, quando olha para os seus 16 anos você diria que tem mais ou menos conhecimento que hoje?

Se você respondeu que é a mesma coisa, então provavelmente vai envelhecer sem agregar valor.
O que é grave!  L

Se você respondeu que hoje você sabe muito mais que antes, então se pergunte o quanto saberá daqui a 10, 20 ou 30 anos se continuar no mesmo ritmo de aprendizado?


Velhice não tem padrão default, ou seja, um padrão igual a outro na ausência de melhor que o substitua.

A velhice é o resultado daquilo que você vai progredindo ao longo da vida.

Eu elimino aqui os casos patológicos, ou seja, problemas causados por Alzheimer e etc.


Eu tenho gloriosos 63 anos de idade.

Certa vez uma garota me perguntou se eu era gay porque não correspondia às investidas dela.
Ela perguntou isso alto na fila do cinema na frente de todos, o que poderia deixar qualquer outro cara constrangido!
Apesar da idade não tenho barriga, tenho bom físico e boa aparência...
Na boa, sempre de bom humor, eu respondi que mesmo que pudesse voltar aos 20 (porque ela tinha menos que isso e tem garotas que gostam de caras mais velhos com boa aparência), ainda assim eu não voltaria.

A fila atrás de mim não reclamou para minha surpresa diante da conversa com a garota!
Eu já esperava algo como "Cara, para de papo... a fila anda, etc.!"

Mais que a pressa usual, eles estavam mais interessados no desfecho da garota de menos de 20 investindo sobre o tio! J

Diante da minha resposta ela reagiu respondendo:
“Jura?!!!”

E eu retornei para ela , na maior tranquilidade, o seguinte:

Se eu pudesse voltar com tudo o que sei hoje, tudo bem! Gostaria!
Quem não gosta de um corpo jovem?!!!
Agora, se tivesse que voltar a aprender tudo de novo, jamais!

Ela não acreditou e ficou como que "congelada"!
Vi pelo rosto pasmo dela.
Paguei o meu bilhete do filme e fui embora para a sala.


A fila atrás de mim só me olhava, exatamente como a garota em total silêncio como se não tivesse pressa.
E olha que a fila era grande! Kkk
(sinceramente, aquela noite foi uma diversão, além do filme...)

 

O que é envelhecer de maneira inteligente?

É o resultado da sua busca constante em aprender, sempre!

Depois de tanto tempo na estrada você sente um desejo irresistível de compartilhar com os outros tanta bagagem!


Então você faz isso na “boa”, sem pretensão, apenas compartilhando a sua experiência sem a intenção de ser a verdade absoluta. 


Tudo o que eu aprendi, superei e consegui devo às pessoas que tiveram coragem de escrever, de se expor, de compartilhar. Por isso escrevo, mesmo! Não quero morrer com a dívida de não retribuir o que recebi...


Transferir para o psicólogo ou psiquiatra os seus problemas não funciona.

Eles estão lá para lhe ajudar a andar pelas próprias pernas.

Isso lembra o psiquiatra da esposa de um amigo meu que deu “alta” para ela porque ele não tinha nada mais a fazer, nas palavras dele próprio!!!!!

Excelente profissional!
Poderia continuar tirando vantagem de uma análise infinita mesmo sabendo que nunca haveria resultado, pois o resultado só acontece quando a gente resolve andar pelas próprias pernas, mesmo que amparado por ajuda profissional!

É o caso de um fisioterapeuta.
Se você não enfrenta a dor da recuperação da musculatura, então o profissional nada pode fazer para continuar lhe ajudando.

 

Conclusão:

Ajuda-te a ti mesmo, que eu te ajudarei.

 

Envelhecer é bom quando a gente aproveita a vida para aprender sempre.
Do contrário, torna-se um tronco oco.

:-)


 

 

 

 

 

 


novembro 29, 2022

Hot Crowns - Capítulo IV - Rufinus e a Revogação

 



PREÂMBULO

 “Hot Crowns” é uma distopia política contando a história de uma nação imaginária na luta para encontrar seu melhor caminho nos descaminhos da paixão.
Qualquer semelhança com a história de qualquer nação é mera coincidência.

O imaginário é uma colcha de retalhos onde costuramos nossas percepções e sob ela nos abrigamos.

Este post faz parte de uma série: Capítulo anterior


Hot Crowns - Capítulo IV - Rufinus e a Revogação


Rufinus era um plebeu com pregresso militar, dono de um temperamento rebelde e provido da inconsciência que se confunde com a coragem daqueles que se acreditam predestinados divinos.

A pressão de sua veia autoritária logo causou forte hemorragia de talentos que compunham a sua realeza. Opiniões contrárias levavam ao afastamento de seus defensores. 

Rufinus ao longo de seu governo foi colecionando atos despóticos tornando claro que sob a capa da fidelidade à pátria de um bom soldado havia também escondido um ditador ainda mais fiel a si mesmo.

As ações de Rufinus refletiam a sua rebeldia dos tempos militares.
Foi se indispondo com altos representantes e reis de outros reinos, ora por um comentário desnecessário, ora pregando a disponibilização de armas à população como faria qualquer militar em momentos críticos em tempos de invasão e guerra, quando então até um cidadão sem preparo torna-se apto pelas circunstâncias. O reino, porém, não estava em guerra, mas parecia querer caminhar para uma.

Seu descompromisso com as políticas de preservação de recursos naturais de seu reino, desfez medidas e implementou outras que causaram grande retrocesso, mal-estar e angariou a antipatia de muitos reinos que se afastaram de seu reinado retirando os seus apoios políticos e econômicos. 


Rufinus também causava constrangimentos buscando alianças com outros líderes e reinados de natureza déspota ou avessos às tradições de seu reino, em desprestígio das alianças tradicionais que sempre garantiram o status quo de liberdade e paz que seu povo auferia.

Rufinus através de seu estilo sem a amenidade do dom político, agradava grande parte dos súditos que sintonizavam com esse discurso contundente, apoiados por aqueles que odiavam a dinastia Opus.

Muitos tomados pela cegueira do fanatismo, outros que, mesmo não havendo a paixão fanática, não conseguiam perceber as sinalizações que os atos de Rufinus iam gerando, levando-os a manter seu apoio.

Havia ainda uma categoria de súditos que reunia um misto de esperança, rejeição a Opus e interesse proveniente das atenções especiais de seu lider que a utilizava como massa de manobra e que detinha grande influência nos setores de geração de bens como também no seu fluxo.

Rufinus a despeito de tudo dividia com Opus I o prestígio do reino, tornando uma guerra de Titãs onde só haveria um grande perdedor, o próprio povo — correndo o risco da perda de seu estilo de vida tradicional por qualquer um que alcançasse a vitória plena na execução de seus objetivos mais recônditos, cujo espólio de guerra resultaria em graves prejuízos para o reino, onde o próprio povo certamente pagaria a conta por seu mau investimento. 

O reino corria risco diante da escalada de rivalidades de acabar seguindo a história de um outro reino, que há muito tempo atrás por causa de uma divergência interna sobre o tratamento político dado à escravidão terminou levando o seu povo a uma guerra civil entre o norte e o sul. Para a sorte do mundo, o norte venceu e a escravidão inicia seu longo caminho da transformação do preconceito racial em convivência pacífica e equitativa dos direitos independentes da origem racial.

O povo do reino de Opus I e Rufinus parecia não ser mais aquele mesmo povo que formava o reino de outrora cuja natureza era mais conhecida como sendo a de um povo que parecia pacato, anestesiado talvez pela ignorância que o véu do tempo foi levantando com a ajuda paulatina de uma sucessão de erros de todos os segmentos sociais pela disputa da vida através da justa distribuição das riquezas, aliás, uma causa comum dos conflitos.

Rufinus tinha a seu favor, no entanto, o mérito de ter servido à causa anterior, quando foi necessário  comutar a natureza do governo que ele substituiu, já que ele fomentava a esperança de renovação de poder.
Grande parte dos apoiadores, aferrados a este sonho, não tinha olhos de ver ou não cedia à frustração de seus sonhos, seja por falta de opção ou humildade em refazer caminhos quando o destino final deixa de atender o propósito inicial.

Havia no reino uma classe especial de súditos que desejava transformar o reinado a qualquer custo.
Acreditavam eles que era preciso garantir fosse o que fosse ("whatever it costs") e por isso buscavam o caminho da luta através do autoritarismo, empunhando armas se necessário. Entendiam como a única forma de devolver a ordem que o deslumbramento de poder de que se apossou a dinastia Opus havia comprometido diante da sucessão de escândalos que foram insuflando seus corações. Um fenômeno muito semelhante àquele que ocorria em outro reino de grande prestígio e poder, que parecia uma tendência geral àquela época entre a liberdade e o despotismo.


O poder prolongado é como o ópio que consumido ao longo dos anos vai transformando a personalidade que mergulha o ser nas penumbras da ilusão autodestrutiva e da presunção egocêntrica.


Seria Rufinus um mal necessário?

Teria o remédio efeito colateral ainda pior que a doença?

Algo como a morfina, que na dose certa tira a dor e promove conforto ao paciente, porém em dosagem excessiva mata?

Enfim, o conjunto de ações de Rufinus levou o conselho ao desespero, pressionado por suas imposições e inferências que são características das personalidades despóticas ou daqueles que buscam o autoritarismo.


Rufinus sabia comandar no estilo que os militares são treinados para fazê-lo.
Era apenas um soldado que havia alcançado alguma colocação na hierarquia militar, porém não tão alta que o distinguisse, e como tal tinha algum prestígio com as forças militares do reino, mais pela afinada da sua origem militar comum que por seu passado militar.
Também os militares dividiam-se pela dúvida geral em que se perguntavam até onde o remédio que sara não condena o paciente à morte?

Os militares haviam aprendido sua lição através do pesado caminho que líderes anteriores trilharam, e mantendo-se fiéis aos resultados do passado, mantinham-se cuidadosos na participação desse jogo de poder sem deixar de preservar seu papel fundamental na defesa do status quo do reino.

O futuro de Rufinus estava sendo selado por ele próprio...
Abrira muitas frentes de batalha sem poder ampliar seu exército na mesma proporção a exemplos de muitos outros reinos no passado que caíram pela mesma inabilidade.

Não há rei que prossiga seu reinado cavando o próprio isolamento e fomentando o desprestígio de poderes em favor de si próprio. Tudo caminhou para que muitas forças por ele hostilizadas se unissem, internas e externas ao reino, oferecendo suporte às mais ousadas das estratégias.

O apoio popular de Rufinus contudo subsistia, mesmo diante de atos de descaso com a saude da própria população que lhe dava apoio. Talvez esse fenômeno se sustentasse mais pela força do desespero e do ódio que tornam cego o bom senso da crítica mais equilibrada capaz de entender que todo ser humano tem dois lados, e de perceber qual o lado que está prevalecendo no final das contas.

Um fator curioso que contribuía para agravar a tensão era a tendência que ressurgia em vários reinos àquela ocasião, onde grupos de radicais levantando antigas doutrinas do ódio e fazendo uso da força pelo fanatismo intransigente estavam derrubando reinados e assumindo o poder de outros reinos apoiados em grande parte por seus próprios súditos mediante movimentos armados e muito bem organizados em exércitos que disputavam à força de batalhas o domínio político e econômico.

Talvez o panorama geral do mundo àquela época servisse de inspiração a Rufinus e explicasse seu interesse pela popularização das armas e seu despotismo como meio de alcançar seus objetivos.
Talvez não, porque muitos entendiam que o direito à própria defesa lhes havia sido roubado deixando-os à mercê da sorte sem direito a autodefesa sendo necessário uma mão forte que conduzisse os destinos do reino.



A polêmica sempre foi o combustível dos ânimos que conduz os destinos dos reinos.

Divida para conquistar.
Crie a dúvida para dividir.
Insufle os ânimos pela polêmica.
Angarie ação pelos ânimos insuflados.

A velha receita, tão velha como a humanidade, não falha!!!


Súditos são formados pela vida, em sua maioria sob o chicote da necessidade diária onde sobra pouca ou nenhuma oportunidade para ver mais longe quando os olhos se preocupam em divisar por perto uma forma de suprir a necessidade mais urgente do hoje, do amanhã, da semana, mas jamais com a segurança do longo prazo daqueles que não dependem de prover o seu sustento na troca diária de labor.

A miopia do pensamento é um efeito colateral crônico da população em face do desmazelo do Homem pelo Homem.


Talvez o leitor fique confuso e entediado diante da diversidade de panoramas que compõem este palco de acontecimentos, mas a reação de um povo é produzida pelo amálgama de razões diversas fundidas no cadinho da emoção coletiva. 


É justamente por esses motivos diversos, que somados, levam as coisas acontecerem como acontecem e cuja complexidade afasta o povo do entendimento que lhes beneficiaria com uma boa parte da solução de seus problemas.


O conselho contestado em sua autoridade percebeu que havia retornado ao ponto de partida quando Opus I fora destituído, anulando os progressos dos esforços anteriores quando lutara ao lado do condado e de seu intrépido juiz para evitar o destroçamento da liberdade de poderes, desprovido dos caprichos exclusivos de uma majestade déspota que concentra todo o poder em si mesma.

A luta dos reinos para escapar da saga das ditaduras reais parecia querer devorar vários reinos, e este reino não era exceção.


À medida que o tempo passa sob a ação do desespero, igualmente busca-se soluções ousadamente desesperadas, mesmo que sem coerência com as ações passadas, rasgando tudo o que fora escrito antes e refazendo o que havia sido decidido.


Onde deveria haver a verdade que sustenta o sentido de justiça e segurança, havia agora duas verdades flamantes na gangorra dos interesses do reino, dividindo drasticamente sua sociedade em dois grandes blocos, fomentando o pior.


Uma medida extrema exige um álibi que a sustente, algum artifício que servisse para justificar a anulação do que se havia consumado através de uma somatória de decisões não apenas sacramentadas, mas também em execução, revogando tudo o que houvera sido decidido e feito, respectivamente.

Desta vez a solução não veio de longe mas da criatividade do próprio conselho que, em sua maioria, se converteu em um dos mais ferrenhos opositores de Rufinus, e que na sequência alucinada de eventos decidiu aceitar como bom o aparecimento inusitado e muito surpreendente de documentos particulares extraídos de origem irregular por meio de ação criminosa às escondidas que foram subtraídos das instalações pessoais dos principais envolvidos, aquele juiz e seu grupo, à revelia de todo o processo, ignorando a impropriedade dos meios, contrariando os princípios cabais do direito em voga naquele reino, mas que ainda assim mesmo justificariam a anulação de todas as ações subsequentes condenatórias de Opus I, tudo justificado a título da perda de idoneidade da imparcialidade de julgamento de todas as ações em todas as cortes, inclusive aquelas que foram julgadas na própria corte do conselho, a máxima corte do reino, sem que se apresentasse à população maiores detalhes, promovendo o cancelamento da condenação de Opus I e tornando-o apto a competir com Rufinus já que não havia outro candidato à altura para conquistar a maioria da preferência popular, tudo isso em tempo hábil, bem antes do pleito do reino, para evitar levantar ainda mais suspeitas.

Afinal, entre os dois males, o conselho entendeu que Rufinus era ameaça ainda maior que Opus I, e que este último talvez já houvesse aprendido a sua lição sobre os limites de seu poder através das experiências passadas que lhe subtraíram a liberdade.
A seu favor contava que, ao longo de seu passado, não havia se mostrado tão arredio às negociações como Rufinus.

A questão que resta, que o conselho não pesou em suas decisões é que "lobo perde o pelo mas não perde o vício".
Opus I talvez apenas aprendera daquela lição que precisava elaborar uma estratégia mais refinada para atender seus interesses. Homens assim, são por demais fiéis aos seus objetivos. Beira à obsessão.

Era necessário fazer com que Opus I retornasse em tempo de substituir Rufinus e garantir seu retorno no intrincado processo de votação de que os súditos do reino participavam como um meio de fazer ver ao povo que eles eram parte do poder, ao menos na sensação que promove.

Havia, portanto, ainda por vencer o desafio do pleito através de sua contagem.

Apesar da grande contestação sobre a credibilidade da sistemática de contagem de votos daquele reino, e mediante as muitas reclamações e protestos, imaginaram que havendo uma pequena diferença entre os valores finais, tornaria muito difícil arguir a ilegitimidade do processo já que todo o reino havia se dividido em duas facções que lutavam entre si. Bastaria apenas um ligeira vantagem para validar o novo rei, e tudo ficaria dentro do esperado e aceito.

E o conselho contou com a sorte e a sua capacidade na eficiência de organizar o pleito, ansiando para que os resultados pudessem reconduzir Opus I ao trono que lhe fora subtraído pelas próprias decisões desse conselho.

E no mundo das grandes personalidades, o objetivo principal vale o sorriso e a conciliação superficial que atende aos interesses imediatos fazendo o passado desaparecer tão rapidamente quanto as pegadas deixadas na areia da praia política, por mais pesadas que sejam, que após a maré alta levar seus beijos de espuma pelos braços de suas ondas desaparecem com se não tivessem existido.

São as ondas que vão e voltam arrastando e apagando toda a memória da praia, fazendo-a reviver com um novo propósito a cada nascer do sol da esperança que calidamente sustenta o calor do povo e conforta o seu sonho de segurança.


Continua no próximo capítulo, o último da temporada:
Hot Crowns - Capítulo V - A Mortal Guerra dos Bastidores


NOTA DO AUTOR:
Este próximo e último capítulo será o mais trabalhoso e difícil.
Dessa forma, sua publicação demandará mais esforço, e por conseguinte, mais tempo.
Desculpas, e muito obrigado.



Contra Deus


 


Contra Deus ninguém luta.

Apenas se engana, provisoriamente, enquanto Ele aguarda, pacientemente, o momento da lucidez necessária provida pelos sofrimentos das consequências colhidas para que a ingenuidade do opositor transforme-se na força que agrega a construção do amanhã dele próprio e de todos os seus irmãos, sem exceção.

A negação da sua existência faz parte do processo de evolução que aos poucos vai acrescentando à capacidade de percepção àqueles que buscam um sentido maior para a vida.

Aqueles que ainda nem isso buscam, vão apenas percorrer um caminho mais longo até que a encruzilhada da vida os conduza para esse caminho.

O "status quo" do Universo é imutável.

Somos nós que mudamos, seres que participam desse processo de evolução da vida a partir do crescimento pelo entendimento racional e emocional.

Nenhuma religião é dona de Deus, já que criada pelo Homem inspirada em eventos divinos, contém a sua natureza falível.

Nem tão pouco Deus teria uma religião, pois algo supremo é ele próprio o caminho, a verdade e a luz.






novembro 26, 2022

Hot Crowns - Capítulo III - A Estratégia

 


PREÂMBULO

 “Hot Crowns” é uma distopia política contando a história de uma nação imaginária na luta para encontrar seu melhor caminho nos descaminhos da paixão.
Qualquer semelhança com a história de qualquer nação é mera coincidência.

O imaginário é uma colcha de retalhos onde costuramos nossas percepções e sob ela nos abrigamos.

Este post faz parte de uma série: Capítulo anterior


Hot Crowns – Cap. III – A Estratégia


A oposição lutava com o “carisma consolidado” que leva os mais exaltados ao fanatismo!

Fanatismo ameaça a estabilidade do poder de um reino pois o radicalismo é cego pela paixão que lança mão do imediatismo a qualquer custo como promotor de soluções.

Uma vez que um líder preenche o vácuo de liderança faz-se muito difícil superá-lo.

Não basta uma nova liderança ser tão cativante quanto a primeira.
Ela precisa ser mais sedutora.


Diante do impasse pela falta de vocações, restava aos opositores da dinastia Opus uma estratégia nova que pudesse abrir um caminho à solução que se buscava: finalizar a hegemonia daquela dinastia pois a oposição temia que ela pudesse se radicalizar caso os destinos do reino prosseguisse sem qualquer ação mediadora.


Em um dos condados do reino surge um grupo com essa nova estratégia.

Se não era possível competir com o carisma e a articulação política da dinastia Opus, então restava apenas mergulhar nos meandros de seu poder para encontrar as ilicitudes, e a partir delas desgastar a sua imagem diante de evidências e provas, conduzindo os culpados às penalidades cabíveis, até mesmo à supressão da liberdade.

A teoria era brilhante, mas na prática ardilosa já que exigia um grande esforço de diligência investigativa, muita sorte que dependia de informações de terceiros no afã de levantar os “descaminhos” do poder na busca de recursos monetários por meios alternativos, uma vez que o rastro das atividades  sensíveis precisam desaparecer como condição básica de execução, ainda mais tratando-se de pessoas de altíssima influência e poder econômico, portanto possuidoras de todos os meios à disposição de seus interesses para atingir seus objetivos.


Afinal de contas, um rei sustenta-se por sua capacidade de diretriz econômica e política, sendo esta última a habilidade de negociar interesses concomitantemente à simpatia pública.


Este condado concentrou-se na busca das eventuais falhas de sigilo na distribuição de recursos econômicos, já que sem estes não há reinado que se sustente.

Reis precisam de recursos, riquezas e moeda de troca de favores, sem o que não podem exercer seus poderes à plenitude, e no afã desta conquista, acabam cedendo às oportunidades sedutoras dos caminhos tortuosos, já que mais fartos e ágeis, que vão traçando ao longo de seus reinados os cursos de rios tortuosos conduzidos por um mal comum: a ambição humana como meio de alavancar ação.

O sorriso é a porta de entrada, mas a capacidade econômica é o meio para a porta de saída.


Esse condado concentrou-se em rastrear todas as operações econômica de Opus I, registrando seus envolvimentos com grandes personalidades do reino.
O trabalho não poderia deixar de florescer!

Todo rei que se preze precisa negociar poder através de favores que se convertem em moeda de troca. 

O desafio consiste em fazê-lo sem que a corrupção torne-se um estilo que acabe por prender a sua vítima nos laços da dependência.

Grandes nobres estavam na lista desses favores do rei em operações oficialmente não regulares, mas frequentes em qualquer reinado, embora essa frequência não justifique a ilicitude, termina por se converter em modus operandi comum a qualquer sistema político, pois nasce de uma característica humana que define seu atraso social, principalmente quando os objetivos finais são escusos, inconfessáveis.


A "Lei" sempre está aquém das necessidades dos maiores interesses e os lobbies buscam atualizá-la, mas enquanto isso, como o grande capital não tem o hábito da espera, precisa antecipar-se a ela.

Com o tempo, mediante as ações de grupos que negociam interesses, as leis são paulatinamente flexibilizadas para atender os lobbies mais poderosos.


Este grupo do condado, à medida que avançava nos trabalhos, começou a produzir evidências jurídicas, quando então entendeu que diante das provas era o momento de iniciar processos administrativos reais.
Por isso procurou um juiz que tivesse a coragem de fazê-lo, já que do sucesso ou insucesso da empreitada certamente acarretaria reveses pesados de toda ordem para todos aqueles que ousaram contestar as irregularidades de tão forte dinastia.


O condado deu por início os processos que envolviam não só o rei como altos nobres, começando por estes, abrindo o seu caminho através dos enfrentamentos menores para subsidiar o maior.

Afinal, um rei não subsiste sem carisma e sem poder econômico!
Uma vez que é certo que qualquer reinado tem seus segredos à disposição de quem possa escrutiná-los e prová-los, o grupo trabalhou intensamente como só mesmo devotos o fazem.

Até hoje, ninguém sabe contar os motivos que levaram aquele juiz de condado e seu grupo a desafiar poderes de uma dinastia real tão poderosa, muito superior a deles.
Uns acreditam que o fora por idealismo e patriotismo, outros alegam interesses pessoais na busca de ascensão rápida. Outros, ainda, entendem que por ambos, quando se justifica a segunda através da primeira à própria consciência.

O fato concreto é que eles apostavam suas carreiras, as suas vidas.
Uma aposta alta que logo conquistou o interesse de todos!

Seja como for, as ordens de prisão começaram a ser expedidas pelo juiz com base no que fora recebendo, e a cada réu cúmplice do rei Opus I que fora preso havia de ser subjugado a interrogatórios que pudessem destrinchar as intrincadas cadeias de recursos que subsidiavam as operações econômicas de Opus I que teciam a capa da transparência, algo tão cobiçado.

Opus I, além de político era também hábil em apagar suas pegadas de poder, no entanto, inexiste ser humano perfeito, e algumas ossadas ficaram mal enterradas ao longo de sua caminhada apesar de todos os esforços em contrário.


À medida que as investigações prosseguiram, a divulgação dos eventos foram se popularizando e adquiriu grande interesse público onde as grandes personalidades do reino pareciam ter perdido o direito à exceção do erro, fazendo parecer que a lei de fato valia para todos, da mesma forma.
Teriam mesmo arrancado a venda de Têmis, a deusa da justiça?!
Venda essa, aliás tão subjetiva, pois a mesma venda que ignora o privilégio, também ignora.
Seja como for, esse símbolo de fato reflete o nosso senso de justiça à sua natureza humana, jamais divina.

O povo via isso com os olhares do alento e da esperança que só a miopia da natureza humana proporciona.

O processo de julgamento finaliza condenando os réus que, insatisfeitos, recorreram à sua revisão, que no entanto confirmou a sentença condenatória.
O juiz determina a prisão de Opus I em ato único na história às vésperas em que se preparava para voltar ao poder.

Era um momento dramático, que tirava um rei em plena atuação no palco político na frente da plateia de todo o reino!

A prisão do rei, ainda mais nestas circunstâncias, tornou-se um show que rivalizou com os maiores eventos desportivos já havidos no reino, ecoando por todos os outros, onde a justiça parecia florescer  naquele reino renovada e com a força de credibilidade genuína que deveria ter, projetando a imagem daquele grupo e do juiz ao pedestal de heróis para uns e super vilões para outros.

A grande muralha acabava de ser erguida, separando o mesmo povo, definitivamente.

Opus I usou de todos os recursos, alcançando os juízes mais altos do reino em novo julgamento, que no entanto confirmaram por maioria de votos os resultados anteriores.

Aquela minoria que se posicionara contra não esgotaria suas ações na frustração daquele momento. Até o senso de direito ganhou seu muro da vergonha separando duas verdades, já que este senso se baseia na verdade, e ao que parece a verdade seria uma só, mas dessa forma fazia nascer duas verdades que solapavam o sentimento de confiabilidade no próprio exercício da justiça que decidia sem a competência da segurança em fazê-lo.

Ao todo, três cortes confirmaram as mesmas decisões.

Opus I parecia estar fadado a permanecer um longo tempo no cárcere, maior que o seu prognóstico de vida face à sua idade avançada.

O reino em polvorosa ficou sem Opus I e seu substituto não tinha o perfil que era preciso para competir com Rufinus, o líder que havia conseguido aglutinar a oposição da dinastia Opus, outrora dispersada, e com quem competia à ocasião em que houvera sido encarcerado.

Rufinus representava a oportunidade que a longo tempo era esperada como solução de substituição a Opus I que pudesse alavancar a massa em número compatível aos seguidores da dinastia Opus.
Talvez fosse essa a esperança daquele grupo e seu ousado juiz, dar ao povo uma oportunidade nova, contudo, o entrave maior consolidou-se pela ausência de um líder que pudesse realmente conduzir de forma segura esse processo de transição, já que não basta subtrair algo deixando vago o que não se pode substituir. 

O vácuo de liderança traga o equilíbrio, e o equilíbrio se conquista pela sedução da maioria.

A estratégia daquele condado havia sido concluída com êxito, buscando conciliar a lei com a política na prevenção de solução da continuidade indômita de Opus I e sua dinastia, mas o tempo traria surpresas inesperadas para todos, onde tais falhas de estratégias e de talentos mudariam permanentemente o espírito e a cultura desse reino.


Continua no próximo capítulo...





novembro 23, 2022

Hot Crowns - Capítulo II - O Revés

 


PREÂMBULO

 “Hot Crowns” é uma distopia política contando a história de uma nação imaginária na luta para encontrar seu melhor caminho nos descaminhos da paixão.
Qualquer semelhança com a história de qualquer nação é mera coincidência.

O imaginário é uma colcha de retalhos onde costuramos nossas percepções e sob ela nos abrigamos.

Este post faz parte de uma série:  capítulo anterior 


Hot Crowns – Cap. II – O Revés


Opus I, que dera inicio à dinastia da oposição pelo povo contra o status quo, diante da necessidade de um retiro espiritual para decidir os novos caminhos de expansão de seu reino, havia endossado o empossamento de Opus II, um dos mais fiéis de sua dinastia, na premissa que poderia governar através de sua influência, quando necessário, até seu regresso.

O poder, no entanto, tem a força que nos toma por refém dos nossos desejos mais íntimos de grandeza, tornando-nos cegos, surdos e com profunda amnésia de nossas origens, resultando  na indiferença àqueles que nos sustentam no poder, imaginando que esse momento de delírio megalomaníaco é por si só suficiente para que nos suportem as intemperanças da arrogância e da intolerância durante o apogeu desse poder.

Opus II buscava impor sua autoridade  aos murros sobre sua mesa imperial, porém ficava cada vez mais isolado do conselho.  A sua intemperança denotava mais sinal de fraqueza do que demonstração de força. Era na verdade, uma lacuna de poder que buscava impressionar através de explosões de temperamento descontrolado.

Os verdadeiros líderes seduzem, envolvem e conduzem sem que os liderados se imaginem seduzidos, envolvidos ou conduzidos.

Esse não era o perfil de Opus II, cuja fala dura repelia quando deveria atrair.
Faltava-lhe o dom de cativar.

Assim começou a queda de Opus II ao longo dos anos através do poder subjacente do conselho que esperava o momento certo para agir. Havia no conselho uma oposição que aguardava uma oportunidade no silêncio enquanto cavava os túneis sob os alicerces políticos do rei substituto no desejo de minar toda a dinastia de Opus I, para sempre!

 

No momento certo,  mediante as fraquezas de Opus II e pelo desgaste político constante que as suas posturas somadas às decisões impopulares vinham corroendo seu equilíbrio político, o conselho percebeu a oportunidade para depor o sucessor temporário de Opus I de tal forma que transformasse essa ação como legítimo instrumento de salvaguarda do reino e trouxesse para essa iniciativa os louvores dos heróis que resgatam o povo de um futuro sombrio nas mãos de uma dinastia ímpia.

A estratégia deu resultado aos olhos populares mediante um show organizado pelo conselho diante da massa em evento público que por meio da votação demonstrava que a maioria dos votos contrários à continuidade de Opus II consumava a legitimidade da manobra de interesses.

O circo político estava instalado levando as massas ao delírio, atraindo a atenção de todo o reino.
Um show que continuaria a adubar os ânimos do povo, outrora mais distante dos reveses políticos, mas que agora crescia em sua participação, porém cada vez mais dividido. Parte da população tornara-se seguidora da dinastia Opus e o restante dividia-se em grupos rivais, o que dificultava estratégias unidas de manobra política na luta pelo poder.

O fruto inusitado da novidade daquelas ações gerava um estado de surpresa e confusão.
Os meandros jurídicos, conforme as leis do reino, serviam de amortecedor emocional, mas não evitavam a emoção crescente represando-se na alma da massa dividida e confusa.

Rei deposto é rei substituído.

Ao conselho não restava outra opção que não fosse escolher o próximo da linhagem real —  o príncipe Lupus —  que apesar de não contar com o carisma de que necessitava, ainda assim tentou autenticar-se no governo do reino, contudo enfrentado objeções de parte da corte e do conselho, já que ali estava não por escolha mas pela demanda sucessória naqueles casos. Ainda assim, os rivais felicitavam-se por acreditar que o mal maior havia sido superado sinalizando um passo à frente em direção às suas metas na disputa de poder.

Durante o curto reinado de Lupus, não lhe foi possível conquistar a alma do povo nem tão pouco segurar as rédeas da corte, apesar de seu porte educado não ser capaz de fomentar a liga que estabelece a hegemonia de comando.

Um poder estável é mantido pelo poder econômico e pelo carisma.
Faltava a Lupus ambos.

Ainda, tornando tudo pior, os bons ventos que sustentaram o início do reinado de Opus I haviam sido substituídos gradualmente por mudanças desfavoráveis do panorama geral em todos os reinos. Uma mudança de sorte que passa desapercebida aos olhos dos súditos, cuja massa é pragmática tomada pela necessidade de suprir o cotidiano sem muita memória do ontem, porque "investimento" é algo para nobres que podem aguardar o tempo para o seu retorno financeiro, onde instrução faz parte desse privilégio, seja pela educação ou pela vocação, algo que não é acessível à grande maioria.

E assim Lupus teve a sua chance e sem a ajuda da sorte e sem um carisma competitivo ficou à deriva das forças evocadas pelas boas lembranças e do carisma da dinastia Opus gravadas na alma do povo durante o seu reinado, ora pelo fanatismo, ora cultivadas pelos pequenos favores à  população carente. Eram sementes que continuaram a germinar mesmo depois que o lavrador abandonara a terra.

Era necessário conter a massa que começava a dar sinais de uma inquietude que preocupava a corte e o conselho, trazendo constrangimento à estabilidade do reino.

Era preciso encontrar um rei que pudesse rivalizar em carisma com Opus I, já que Lupus fracassara, apesar dos esforços deste em permanecer mais tempo.

O conselho do reino aprendera a lição que não se erradica uma liderança sem que se possa substituir por outra de igual força, pois o déficit de poder agregador é tão ameaçador quanto o seu excesso.

Mas quem? E como?

Apesar dos esforços, não se encontrava talento à altura e não havia tempo para formá-lo.

Talvez fosse a hora de mudar de estratégia, buscando outros meios, porém quais?

Esse era o desafio que buscava abrir a porta para a renovação do poder através da subjugação da dinatia Opus.


Continua no Cap. III


Série O Radicalismo e o Dilema Israel vs. Hamas - A Procura da Solução N.5

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