abril 21, 2024

Série O Radicalismo e o Dilema Israel vs. Hamas - A Procura da Solução N.4 - A Origem


A CONTRIBUIÇÃO DA SOCIEDADE PARA O RADICALISMO




A sociedade é fruto da base de sua origem, ou seja, de como ela incorpora nela própria as novas gerações.



É importante lembrar que parte do que somos não decidimos ser, conscientemente.


Nossa cultura é herdada tal como uma "lavagem cerebral" natural feita sem que tenhamos consciência. Repare como cada povo tem seu comportamento básico comum herdado do período infantojuvenil.


Uma criança absorve a informação através de um filtro gradativo de avaliação ao longo dos anos, desde o nascimento até o início da consciência crítica. Acriança, quanto mais nova, menor é a interferência desse filtro de avaliação ou crítica no processo de aprendizado, e tal como um esponja vai absorvendo tudo sem muita base de critério, pois o mesmo está em construção, o que desonera o processo mas o torna frágil. 


Quanto maior o volume de informação que vai sendo armazenado à medida do crescimento do indivíduo, maior é o esforço de conciliar as novas informações com a cadeia formada pelas anteriores, algo que exige exame unindo a capacidade de associação ao sentido lógico da agregação.

Concomitantemente, o senso crítico à medida que se desenvolve busca garantir o status quo daquilo que foi aprendido antes, durante a fase de absorção "esponja", passando a consolidar a sua percepção através desse conteúdo de cultura absorvida sem muito critério, constituindo-se a base daquilo que pensamos ser e daquilo que pensamos precisar defender, ou seja, os nossos valores.


Acreditamos tanto em "nossos valores" adquiridos durante esta fase semiconsciente e de pouca crítica como se de fato eles constituíssem aquilo que realmente somos, subsidiando a estratégia que imagina-se garantir a possibilidade de se agregar felicidade pessoal e social à vida, tornando-se parte do sentido de autoconfiança do indivíduo.


As decepções chegam na fase mais madura à medida que a base construída anteriormente vai sendo testada e seus erros e inconsistências vão aparecendo, porém a acuracidade do resultado desse processo depende fundamentalmente da capacidade de autocrítica que por sua vez se arvora na base de valores adquiridos durante o frágil período de nossa formação modelada pela natureza do caráter individual.


A prova disso é que um bebê, não importa a origem genética nem geográfica, vai assumir a identidade da cultura onde sua infância se desenvolver.



Isso deixa claro que não existe nacionalidade intrínseca, mas apenas extrínseca.



Nós somos como uma massa de modelar cujo formato depende das mãos da cultura onde crescemos, ou seja, onde nos desenvolvemos.


Algumas pessoas percebem isso mais tarde, quando o senso crítico está mais arguto, e então buscam questionar as crenças herdadas durante a fase onde a sua percepção crítica era insuficiente.  O resultado é que algumas delas mudam de meio cultural buscando melhor identificação, ou absorvem parte de outras culturas, entretanto a maioria, principalmente aquela sem tantos recursos, acaba consolidando o que recebeu sem muito progresso. Tais pessoas geralmente carregam um orgulho extremo daquilo que receberam em sua infância e pouco buscam questionar, encontrando dificuldade para conviver com pensamentos diferentes, novas culturas ou mesmo remodelar opiniões face às mudanças impostas pela evolução social e tecnológica.


Pessoas cosmopolitas são mais flexíveis porque terminada a fase de absorção da cultura local realizada com pouca crítica, ou quase nenhuma, continuam por toda a vida a questionar princípios e valores em busca de novas fontes de informação paralelas porque carregam em si a flama da comparação na busca do melhor. Pessoas assim perdem o vínculo único com a cultura herdada e são capazes de mesclar os novos aprendizados com os anteriores, passando a usufruir de múltiplos vínculos que lhes proporcionam capacidade de raciocínio e de lógica mais amplos.




O que somos realmente?


Como seres evolutivos não somos, mas apenas estamos.


Se não há mudança de estado, também não há evolução, seja seu viés positivo ou negativo de acordo com a percepção relativa da sociedade.

Logo, mudança é fator preponderante à evolução.

A sensação de "ser" vem do significado relativo ao período de tempo que parece eterno à nossa percepção no afã diário.

Se quando velhos continuamos muito próximo daquilo que fomos quando jovens, sem agregar um significativo acréscimo de valores ao longo da vida, então não evoluímos. Apenas incorporamos o que recebemos de "graça" durante a infância e juventude, sem muito empenho pelo próprio esforço. Seria como um herdeiro que jamais agrega à fortuna recebida, apenas acomoda-se ao conforto das coisas como estão.





UMA BOA PARTE DO QUE PENSAMOS  É EMPRESTADA
UMA BOA PARTE DO QUE SOMOS TAMBÉM.



Um bom exemplo é o projeto criado pela Alemanha nazista de Hitler onde bebês escolhidos eram tomados dos pais e repassados para escolas de formação educacional orientada pela cartilha do regime nazista. Ou seja, tomaram crianças polonesas de seus pais enquanto muito pequenas, e também de outras nacionalidades, e as fizeram crescer dentro da cultura nazista deste tipo escola criada para esta finalidade: reeducação cultural.


Tais crianças tornaram-se nazistas fanáticas que ironicamente odiavam aqueles que eram seus iguais em virtude de ignorarem suas reais origens.
Cruel! Satânico!

O mesmo pretende Putin com a Ucrânia, tendo retirado crianças de áreas ocupadas para "reprogramação cultural russa".
Sua intenção é exterminar o passado Ucraniano através de sua cultura e reconstruir uma "nova cultura" onde as crianças serão educadas para se tornarem russas rezando pela cartilha de Putin.


Com esse objetivo, Putin tem destruído por onde passa toda a obra cultural ucraniana.




Imagine uma criança polonesa da escola de Hitler matando poloneses, seus ascendentes, simplesmente porque se identifica como alemã ariana diante da inconsciência da sua real história pessoal!

O mesmo deseja Putin, pois crianças educadas como russas reduzem a dissidência ucraniana. 

Afinal, não basta tomar um país apenas por meios militares e políticos enquanto o restante da nação não se identifica com o agressor. A exemplo temos Mianmar, onde um golpe militar tomou o governo mas enfrenta forte oposição, sem conseguir 
até agora consolidar de fato o seu poder.



O poder se consolida pelo coração da maioria através da ressonância ideológica, cultural e econômica que produz.


Do contrário, mais cedo ou mais tarde vem a reação.


São inúmeros exemplos: 
 a Independência dos EUA(1776), a Queda da Bastilha na França (1789), a Independência do Brasil(1822) e sua Proclamação da República(1889), a Revolução Russa(1917), a Independência da Índia pelas mãos de Gandhi(1947)  e etc. etc. etc. etc. 


Todos nós, sem exceção, nascemos, vivemos e lutamos por sonhos, onde a parte que é real não é fácil de identificar porque o critério de definição vem principalmente de um processo da fase infantil e juvenil mediante a "lavagem cerebral cultural natural" da nossa educação.


NOTA:

Muitos educadores poderão querer dar outro viés à ideia do texto tomando-o por subversivo à educação. Se o fizerem, o farão por má fé, porque o texto além de claro no seu propósito também não defende nenhuma diretriz, mas apenas deixa claro os efeitos da educação sobre os educados, em qualquer nação.




Diante deste contexto, será que faz sentido discriminar culturas diversas daquela que herdamos socialmente durante a nossa fase de crescimento?!!



Se pensarmos bem, o povo que condenamos, ou a cultura que criticamos poderia ser a nossa própria por nascença, como foi o caso das crianças poloneses de Hitler.


Teria você culpa do que é pelo que herdou  enquanto se desenvolvia desde a sua fase infantil à adolescência?


Um bebê mulçumano — povo tão famoso por sua fé no Islã —, se entregue a uma família judaica,  o que ele se tornará amanhã? Estará ele lendo  o Alcorão ou a Torá?


Nós somos como massinhas de modelar nas mãos da cultura onde imergimos durante a formação da nossa personalidade na fase infantojuvenil.


Neste contexto, qual a imensa certeza que podemos ter dos valores que herdamos se tais valores não foram selecionados por um critério mais amplo? E mesmo assim, já tão emocionalmente induzidos pela cultura que herdamos, qual seria a nossa capacidade de julgar da forma mais imparcial possível esses mesmos critérios?



Valeria tanto sangue derramado entre seres que disputam a verdade de suas origens através de uma formação cultural induzida e um julgamento contaminado de parcialidade? 


Que certeza podemos ter quando não podemos examinar e julgar sem esta influência adquirida numa fase tão frágil do início de nossas vidas onde aceitamos tudo?




O antídoto do despotismo para evitar o critério de pensamento é a fé cega, que instila sobre os seus comuns o medo de questionar a própria cultura pois incorre no pecado do sacrilégio ou da rejeição das próprias raízes.





AS RAÍZES DO ESPÍRITO



No processo de formação individual existe um outro fator que interfere nessa formação: a vocação nata advinda de nossa natureza pessoal e que define a natureza de nossos sentimentos básicos que parecem não herdados dos progenitores.


Aos espiritualistas fica claro que a natureza do indivíduo pertence ao espírito, respeitando-se as leis da genética quanto às características somáticas — o fenótipo —, o que torna fácil explicar a existência de pessoas cosmopolitas e de outras que acabam adotando cultura diversa daquela recebida.

Deixo aos materialistas, ou àqueles que não contemplam tal possibilidade, a solução do dilema da explicação quando um filho não reflete necessariamente as qualidades que ele deveria ter herdado de sua ascendência. Hipóteses assim, baseadas apenas na genética, aparentam uma espécie de milagre dedicado ao acaso dos seus segredos e que um dia talvez pudesse explicar tal fenômeno!




CONCLUSÃO



Somos em parte o que herdamos do meio em que nossa infância e adolescência absorveu, porém "temperados" pela natureza de nossos espíritos ao longo de seu aprendizado por diversas experiências terrenas.


O berço da dualidade, ou da polaridade, advém da crença que a verdade reside apenas naquilo que só nós entendemos como correto.


Tal crença tem sua origem na perpetuidade de pensamentos que herdamos na fase mais suscetível de nossas vidas, assumindo verdades sem muito senso crítico.


Através deste processo, um erro introduzido na origem cultural de um povo pode perpertuar-se como verdade absoluta cuja correção fica escondida no bojo da fé pela fé, retardando a sua evolução social.


A tradição carrega a proteção dos valores, mas também age como a tumba da evolução, tal como os pólipos de corais que não param nunca de construir seu exoesqueleto (casca que os protege) e acabam sufocados por ele.


Quanto ao radicalismo, tema do post, é importante lembrar que Hitler era um radical de direita e Stalin um radical de esquerda. Ambos levaram a cabo soluções extremas, onde o genocídeo fez parte da cartilha, pois o extremismo tem como estratégia única atingir seus objetivos pessoais e tudo o mais é secundário. Nos extremos, a importância dos "outros" é radicalmente reduzida também ao extremo, por que faz parte da natureza do extremismo, ou radicalismo onde só importa a própria visão, e ponto final! Tal comportamento é comum à cultura de todas as nações, e que nasce nas pequenas soluções extremas normalmente aceitas como normais.



A nossa análise da cultura que nos guia, quanto mais liberta de nossos condicionamentos culturais e mais próxima do respeito social, subsidia o dom para nos arremeter humanitariamente adiante, libertando-nos das amarras que nos mantêm presos às repetições dos mesmos erros há milênios.







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