dezembro 17, 2022

Hot Crowns - Capítulo V - A Mortal Guerra dos Bastidores

 




PREÂMBULO

 “Hot Crowns” é uma distopia política contando a história de uma nação imaginária na luta para encontrar seu melhor caminho nos descaminhos da paixão.
Qualquer semelhança com a história de qualquer nação é mera coincidência.

O imaginário é uma colcha de retalhos onde costuramos nossas percepções e sob ela nos abrigamos.

Este post e encerra esta série.

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Hot Crowns - Capítulo V - A Mortal Guerra dos Bastidores


Com o retorno de Opus I,  muitos daqueles que não aceitaram as decisões do pleito, dispararam vários movimentos revoltosos, talvez inconformados ou perdidos pela esperança malograda do insucesso cuja rejeição dos resultados nega a conclusão dos fatos que mudaram o destino dos acontecimentos, e pela forma mais exaltada buscavam reverter o processo pelo delírio que imagina que suas manifestações, por si só, poderiam obter sucesso, mas que serviram como alguma demonstração da força de Rufinus.

Opus I tinha um novo desafio, mas desta vez muito distante do quadro de bonança social, política e econômica de quando assumiu o reinado pela primeira vez.

Este foi o inteligente legado do conselho ao sucessor de Rufinus, na busca de dissolver os excessos de poder dos reis que julgavam comprometer a estabilidade do reino. 

Havendo divisão geral de interesses em todos o níveis sociais, Opus I, apesar do demagógico discurso de que era preciso unir o reino e acabar com as diferenças, justamente aquelas que ele mesmo plantou durante todo o seu caminho para chegar ao trono, não provocou qualquer eco, exceto aquele da sua própria voz. 

Opus I teria que fazer um reinado negociando tudo com todos em circunstância extremas.
Traduzindo-se no dialeto político, significaria um fracionamento de poder que certamente comprometeria a sua própria hegemonia, algo que o conselho de modo muito perspicaz havia plantado em sua ousada estratégia buscando esvaziar o poder dos futuros reis a partir das experiências com os reinados anteriores. 

O reinado testava os caminhos dos descaminhos nas mãos do conselho e seus nobres na disputa acirrada pela distribuição de poder que pudesse evitar reconduzir o poder às experiências do despotismo passado, exatamente como acontece em qualquer sistema que mantém as aparências no troca-troca de comando onde o vencedor vira mestre e o perdedor vira servo.

Opus I reassumiu o trono em condições muito diversas daquelas que ele sequer imaginou, não por falta de sagacidade mas cego pela ambição tomada pelo delírio do seu retorno quando então viabilizaria resgatar sua dignidade, suas esperanças e tudo o mais que almejava reconstruir novamente, incluindo o poder de sua dinastia que desejava deixar como legado.

Ao contrário de Rufinus, Opus I detinha uma inteligência emocional (QE) muito aguçada, porém não seria uma tarefa fácil diligenciar os eventos a seu favor já que perdera grande parte da sua hegemonia apesar do silêncio e discrição de toda a sua dinastia, que sorrateiramente trabalhava para readquirir o poder pleno da dinastia, todos levados pela obsessão cega que não quer ver as mudanças contextuais que definem um novo quadro político para aquele reino.

Seguindo Opus I, havia sua conselheira Firmina que cuidava daqueles que embraçavam a causa da dinastia Opus. Ela acreditava realmente na ideologia da dinastia e esperava herdar o trono de Opus I  qual um romance ideológico materializando os feitos do mestre. Afinal, Opus representava seu trampolim para a coroa do reinado tão logo a idade trouxesse os limites que o tempo impoem.

Firmina era uma dessas mulheres que se destacam pela persistência de suas paixões, uma paixão que parecia alimentar-se de um sentido de ódio, vingança e revanche, tudo justificado sob o apanágio da ideologia, como é o usual àqueles que trilham os sinistros caminhos do poder absoluto e precisam justificar para si mesmos os motivos de suas atrocidades. Seres assim seguem o rumo dos ditadores no afã de construir o mundo idílico que imaginam possível através das crenças de seus afins. 

A história dos reinos, no entanto, mostrava que este caminho geralmente terminava nos precipícios da ilusão, onde só se beneficiam aqueles que estão no topo do poder, transformando o povo em meros subservientes de um poder maior que lança as suas garras à supressão da liberdade individual. Firmina não entendia assim. Sentia mais como uma libertação, talvez de sua prisão emocional às custas da liberdade coletiva, mesmo que não o soubesse dessa forma.

O seres humanos tornam-se cegos às consequências de seus sonhos que obstinadamente insistem em perseguir, sem levar em consideração os resultados coletivos, desde que o poder lhes seja garantido.
É novamente a cegueira da ambição tolhendo a liberdade alheia, uma saga na história que define a natureza da humanidade.
 
E assim, neste contexto de disputas entre todos os envolvidos, vê-se Opus I assumir um poder que não poderá exercer à plenitude como sonhava.

Um rei cumpre sua função a exemplo da abelha rainha, que em sua omissão leva a colmeia à total desorganização. A abelha rainha, por sua vez, tem seu papel controlado pelo instinto natural que garante seu comportamento adequado ao crescimento da colmeia.

Nos sistemas humanos, o rei é mantido pelo sistema, contudo, algumas vezes o rei vira o próprio sistema.
Quando o sistema é mais forte que o rei, este é utilizado tal como a abelha rainha para manter seu povo sob condições sociais adequadas, e seu poder de atuação é proporcional a essa relação de poder com o sistema.

Se o sistema tem muita força, o rei torna-se sua marionete pelas mãos do "establishment", caminhando para uma monarquia parlamentar, onde os conselheiros e outros nobres vão adquirindo poder subtraído do rei às custas de artifícios e leis.

Ironicamente, Opus I tornara-se instrumento do mesmo sistema que desejava transformar.
A batalha seria mortal já que uma tentativa desajeitada de desconstruir aquilo que lhe tirou o poder e depois lhe devolveu 
seria fatal.

O conselho sabia claramente que a situação na mão de Opus I não seria uma solução ideal, porém havia ganhado mais tempo para que através de uma estratégia alternativa, travada nos bastidores políticos, pudesse conciliar o equilíbrio do sistema da forma como entendiam melhor.

O reino que, parecia aparentemente dividido em apenas duas facções, tinha na verdade três, sendo esta última uma força que passava desapercebida do voto popular mas que havia construído seu trajeto de controle do poder sob a discrição dos meios que controlava.

Opus I tinha uma longa disputa pela frente, não só pela reconstrução dessa malha de poder que havia tecido, e agora rota, mas também por um contexto desfavorável onde o inimigo havia ganhado muito terreno.

Se Opus I havia construído sua dinastia, Rufinus deixava também a sua como legado mortal a seus inimigos.

A intensidade de negociações por fazer, buscando converter a malha de poder, ao mesmo tempo que fortalecem esse poder também o drenam, resultando em um saldo imprevisível.

A dinastia Opus estava ciente, mas não tinha alternativa.
Opus I talvez procurasse concentrar o poder em suas próprias mãos porque sabia do risco que estava correndo, porém ele estava acostumado ao jogo político onde as alianças iniciais são ainda mais frágeis, meros trampolins para a disputa de posições, que uma vez alcançadas servirão de instrumento aos verdadeiros objetivos.

Aquele que lhe beija hoje é o mesmo que lhe puxa a adaga amanhã.
Resta apenas saber o momento certo de fazê-lo antes.


Era um reino amplo e pujante, rico em recursos naturais, onde a economia e a sociedade floresciam.
Diante desta pujança, os prejuízos e as dissipações de recursos provenientes de política incorreta ou beligerante podem ser absorvidos e o resultado final ainda apresenta crescimento econômico contribuindo para minimizar o impacto emocional dessas sequelas junto a opinião popular mal informada ou inábil para alcançar as peculiaridades da realidade que demanda instrução e inteligência.

A ausência de métrica, ou talvez de divulgação, medindo o que se deixou de ganhar, ou ainda o que se deixou de fazer, não era apresentada ao povo — a educação que poderia ser melhorada, o investimento em pesquisas que reforça a segurança do reino, enfim, a parcela da qualidade de vida consumida pelas disputas e pelos ralos de interesses pessoais que tragam estes recursos para o abismo da inconsciência.

Essa ausência de percepção de prejuízo mantém o povo mais calmo.
A ignorância pode ser a melhor amiga da paz manufaturada.


DEDICATÓRIA

Este post é uma homenagem ao meu pai que não poupou esforços em minha educação, confiante nas minhas escolhas, e também aos meus professores de história, especialmente um deles que também dava aulas na Sorbonne Université. 

E através da história — uma mera experiência anterior que pode repetir-se no presente — fizera com que entendêssemos que essa mesma história da humanidade é mais que uma compilação de datas e dados através de eventos aparentemente pouco conexos em uma sucessão enfadonha em virtude de um significado pobre do ponto de vista prático, e que afasta o interesse da maioria beneficiando uma minoria que consegue desvendar seus segredos.

Pela oratória brilhante do Prof. Jobson Arruda pudemos entender alguns princípios básicos, pois a história da humanidade por ela mesma é o registro da saga de interesses baseados em ambição e controle, pois o primeiro não subsiste na inexistência do segundo, um jogo vivido no tabuleiro econômico a serviço do ego.

Através dele, tivemos a honra de compartilharmos os mesmo níveis de qualidade do ensino daquelas universidades européias famosas que se dedicam à sua elite para a continuidade de seu poder, sem que ele precisasse fazer uma única menção contra o "establishment".
Isto, de fato, denota aqueles cuja inteligência acaba trafegando nas gerações futuras.
A ele, meu muito obrigado por permitir que eu começasse a ler os eventos jornalísticos através de lentes mais aprimoradas sob novas perspectivas.


Eu acredito em educação.
O problema é que eles também!

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