Os pais ensinam os filhos a não mentirem.
Nisso, começa a mentira! :-)
A mentira é tão velha como a humanidade.
Não é apenas uma característica humana de dissimulação, mas trafega pelo comportamento de animais e insetos que iludem suas presas — a arte da sobrevivência.
Quem já não viu um animal doméstico ou selvagem dissimular um comportamento até que se revele a verdadeira intenção no primeiro bote?
Passar para os filhos que não se deve mentir é uma mentira de quem educa da maneira mais simplista e cômoda, porque explicar para a criança as diferenças entre a mentira boa, justificável, daquela que é ignóbil torna-se uma tarefa ardilosa e trabalhosa, que exigem dos pais um discernimento muitas vezes não praticado.
A criança educada sem a prática do discernimento inevitavelmente acaba usando a mentira como estratégia de sobrevivência de forma indistinta, sem outro critério que não seja seu próprio benefício.
Tanto a criança quando o indivíduo na fase adulta estão sujeitos às consequências da mentira destrutiva, seja a médio ou curto prazo. É inevitável.
Dizia Jesus: "É pelos frutos que se conhece a árvore..."
A mentira é como uma árvore no pomar das nossas atitudes que produz frutos venenosos e faz sombra às boas espécies que alimentam a alma.
A mentira má busca sempre o prejuízo de alguém em favor do benefício ao mentiroso, ao passo que a boa mentira busca o contrário.
A boa mentira prepara e preserva os ouvidos e a sanidade daqueles que ainda necessitam de mais tempo para entender uma contingência. Ela se vale das amenidades, das simbologias, eufemismos e figuras de linguagem.
A hipocrisia é irmã da mentira.
Por estarmos tão acostumados ao seu convívio e prática, levamos para a família um hábito formado desde a infância que se transforma em algo automático no dia-a-dia do convívio social.
A boa e a má mentira são distinguidas pela intenção com que é praticada, assim com a boa e a má sinceridade.
A verdade dita na forma crua da intenção contundente, ou na hora errada por quem desabafa sem se importar se agride, é tão destrutiva quanto a mentira guiada pela má intenção.
E essa fronteira entre a verdade que precisa ser dita daquele que deve aguardar é tão sutil que muitas vezes nos conduz a erros de julgamento. O que nos preservará a consciência tranquila terá sido a intenção e o equilíbrio com que buscamos praticá-la diante da eventual reação de quem a recebe.
Fake news são ainda mais velhas que um dos presentes mais famosos da história, o Cavalo de Troia, e buscam quebrar a defesa, moldar o comportamento humano e submeter pela privação da liberdade individual e coletiva através da ignorância.
Agora, ainda mais poderosa, viajando nas asas da IA (Inteligência Artificial), vai assumir uma dimensão de qualidade, cuja perfeição deixará a possibilidade de distinguir o real do irreal uma tarefa cada vez mais medonha, cada vez mais exigindo conhecimentos gerais e pesquisas, prática escassa à maioria da sociedade, e por isso tão efetiva!
Um amigo mandou-me um link.
Então eu respondi o melhor que pude.
Termino o post com a reprodução desse diálogo — uma amostra do desafio que nos espera à frente.