outubro 20, 2012

Vivendo Outra Pele




Ontem, estive no NY shopping com um amigo.
Erik é um jovem de seus 30 anos caminhando para a maturidade dos 40.

Batemos papo, e depois acabamos assistindo ao filme "As Vantagens de Ser Invisível" (The Perks of Being a Wallflower - USA 2012).
No final da noite, enquanto ele devorava seu “mega hamburger” no Outback, eu me deliciava com um pedaço da torta "de New York".
Passamos a conversar sobre a importância de sermos capazes de ouvir pontos de vista diferentes sem impor tantas barreiras que nos tornassem  completamente impermeáveis às novas ideias e as suas possíveis vantagens.

Revivera aquele momento em papéis trocados, onde eu no papel de Erik, o mais jovem, ouvia o que um mais velho falava, achando que compreendia, porém interpretando tudo como uma tentativa de imposição de ideias,  de me fazerem aceitar algo a mim mesmo inaceitável.
Nós, enquanto mais jovens, temos uma sensação de "eternidade" para as nossas verdades.
O tempo mais tarde vem transformando tudo, roubando tudo e nos obrigando a entender que tudo é muito fugaz, até mesmo aquilo que somos hoje.

A noite terminou sem que ele entendesse de fato o que eu tentava expor.
Percebendo que havia feito a minha parte assim como outros o fizeram, com a consciência leve por ter retornado à vida o que dela recebera, avaliei que todos nós entendemos quanto estamos prontos, mas o conhecimento rejeitado, ainda assim fica ali, na memória para ser ressuscitado pelas lembranças do futuro.

Já ao final de nossa conversa, contei que havia vivido o mesmo momento, e que pudera compreender só mesmo depois dos 50 anos.
Ele guardou silêncio, e nos despedimos.
Ele tomou o taxi, retornando para casa já por volta de uma hora da madrugada.

Enquanto dirigia-me ao estacionamento para pegar meu carro fui avaliando a passadas largas o que havia dito, e concluí que naquela conversa eu aprendera muito mais comigo mesmo.
Que naquele encontro, eu havia falado muito mais para mim mesmo.
Irônico... 
Talvez com ele ocorra o mesmo, garantindo a síndrome do "Looper"  - aquele filme "Looper - Assassinos do Futuro"!

É impossível entender o espírito de ideias divergentes, sem abandonarmos as próprias, ao menos por alguns momentos.
Um ator, que é um profissional treinado, muitas vezes precisa de uma boa concentração, e várias tentativas para conseguir viver o papel do personagem.
Nós que atores não somos, ficamos desprovidos dessa habilidade de abandonarmos a nós próprios por alguns momentos, ao menos,  para viver sem medo e preconceito,  o papel de outro personagem, tendo a certeza que retomaremos o que somos, sempre acrescidos com o que aprendemos.

Cada vez mais admiro essa profissão de ator.
Fica aqui minha sugestão:  o MEC deveria incorporar a matéria como obrigatória na grade dos cursos de formação infanto-juvenis.
Teatro deveria fazer parte do curso assim como o português e o inglês - tudo elabora a capacidade do indivíduo comunicar-se e interagir socialmente.
Afinal, representar também traz excelentes oportunidades de melhorarmos o convívio social e profissional, e de quebra aumenta a chance de aprendizado com algum personagem de forma muito mais intensa do que aquela que a razão oferece.

Entender não basta para compreender.
É preciso também viver para sentir.

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