Filosofia é um grande mercado do pensamento.
Você pode imaginar centenas de bancas onde seus vendedores apregoam vantagens
buscando atrair compradores às suas ideias.
Cada cliente que adentra o mercado vem movido por uma
necessidade que precisa sanar, assim como fazemos ao comprar comida para o
corpo, também o fazemos ao comprar alimento para a alma.
Cada corpo se adapta melhor a determinados tipos de
alimentos, em parte condicionado pela herança cultural de seu meio que dita os
hábitos e costumes culturais iniciais de todos nós.
Parte, porém, daquilo que o corpo sente precisar consumir, provém da natureza
do espírito (ou alma) que lhe dá vida. O corpo busca se adaptar às preferências
da alma, sendo cúmplice dos nossos desejos até as últimas consequências, da
enfermidade à morte.
Compete à parcela dessa união entre alma e matéria, que a alma
cuide do corpo que lhe conduz no meio físico, a exemplo do piloto que cuida da
nave que lhe fornece o meio de transporte. É uma simbiose a que raramente nos
atemos, mas é parte do nosso dia-a-dia. Um corpo doente dificulta a viagem do
espírito na experiência evolutiva terrena.
E levando em conta a importância desse processo interativo
entre alma e corpo, a escolha da banca certa no mercado do pensamento, torna-se
o crivo fundamental do conjunto de escolhas que fazemos para garantir a saude
de ambos e o sucesso que imaginamos ser o melhor para a conquista da felicidade
como imaginamos que ela seja.
Dessa forma, muitos compradores já entram no mercado de pensamentos
iludidos por si mesmos em busca do produto inadequado para satisfazer um
equívoco. Isso é processo evolutivo que
trafega no aprendizado contínuo pelas consequências das opções que fazemos.
Dificilmente, encontramos todos os alimentos em uma única banca, por isso os
mercados são tão procurados — muitas bancas significam muitas opções, aumentando
as possibilidades de lograr completar nossas listas de compras.
No mercado do pensamento, existem as bancas maiores que são
as bancas das religiões, convivendo com bancas menores, as bancas das seitas,
das crenças e até mascates vendendo toda sorte de promessas e esperanças, aliás,
produto este extremamente procurado.
A esperança é o anzol preferido dos vendedores para fisgar
seu cliente no mercado do pensamento. O espelho é outro artigo na lista dos
mais procurados, onde o vendedor promete ter aquilo que o comprador procura, e
dessa forma, espelhando suas ilusões e esperanças e, descobrindo seus desejos
que o fazem justamente ir às compras, conseguem dessa forma “empurrar” seus
produtos à vítima de si mesmo.
Existem bancas que cobram taxas de adesão para que se possa sentir confortável
ao fazer ali as suas compras, outras nada cobram. São isentas de taxas, vivem
de doações espontâneas, isentas até mesmo de qualquer artifício de coação
social, direta ou indireta.
Tudo isso me remete à passagem de Jesus e os Vendilhões do Templo e me faz ponderar.
Eu, quando vou ao mercado do pensamento, gosto de estar livre para avaliar todas
as opções, tendo como único compromisso a satisfação da minha consciência,
porque esta não se controla indefinidamente, e sempre chega o dia que ela nos
cobra pelas nossas escolhas e atos.
Existem bancas que buscam vender um pacote completo, onde
você é penalizado se comprar concomitantemente em outra banca, podendo
inclusive ser impedido de continuar comprando ali se o fizer também em outro
lugar. Elas não se importam com a sua lista de opções pessoais, transformando o
comprador em escravo de sua ditadura mental em troca de promessas pelas quais o
infeliz comprador se submete na esperança de ver as suas necessidades maiores
atendidas. Esses clientes formam uma legião de escravos do pensamento doando
suas vidas ao desejo alheio.
Afinal, o que é viver plenamente senão o direito às próprias
escolhas, desde que limitadas em respeito às necessidades do bem comum que
sustentam a sociedade?
Quando o comprador cede o seu próprio direito da escolha ao vendedor da banca, é
o mesmo que doar parte de sua vida a ele, abrindo mão da sua própria vida,
contudo, não será o vendedor da banca que arcará com as consequências dessa infeliz
opção irresponsável, mas sim ele próprio, o próprio comprador que foge do compromisso tentando transferir parte de sua carga a terceiros.
Esse comprador está comprando ilusão, e produtos sem garantias, sujeitando-se a
arcar sozinho com os eventuais prejuízos que tornarão o problema inicial ainda
maior, quando na verdade buscava resolvê-lo pela forma errada, sustentada pela preguiça, pela comodidade e outros sentimentos menores.
Eu busco transitar neste mercado do pensamento o mais livre
possível, sem me subjugar aos desejos dos vendedores, e até mesmo, nem aos meus
próprios que sejam movidos por sentimento ilusivos da preguiça, comodidade, ambição,
medo, etc., ou pelo desespero ou ainda pelo ego que não busca outra coisa que
não seja espelho e o crescimento exclusivo de si mesmo.
É por essa razão, que colho direto no celeiro do pensamento,
evitando a influência dos mercadores do mercado de pensamentos cujo ruído
atrapalha a melhor avaliação.
Fico com aquilo que há de bom em cada religião, seita ou sistema filosófico,
descartando o que não considero adequado, sem deixar que este último influencie
minha avaliação.
Nestes momentos, não julgo o todo, mas as partes. Seleciono sem desprezar a
pepita de ouro porque veio do meio de cascalhos.
Um sistema de pensamento pode conter infiltrações de pensamentos infelizes, tal
como um notebook, smartphone ou qualquer outro dispositivo computacional pode
ter vírus.
Por acaso, jogamos o dispositivo fora ou apenas eliminamos aquilo que não nos
convém?
Novamente, eu não compro pacotes fechados fornecidos exclusivamente
por uma banca.
Afinal, quem garante que os vendedores irão arcar com os prejuízos eventuais
daquele produto? Uma coisa é certa: você irá porque eles já obtiveram o lucro
que desejavam durante a venda do produto. O risco do depois compete mesmo a
você.
Eu prefiro viver plenamente, arcando com as consequências das
minhas próprias opões, porque ao final de tudo serei eu que certamente arcarei
com os resultados.
A vida é oportunidade de evolução, que é consequência de
aprendizado.
Culpar o vendedor pelas opções que deveriam ter sido assumidas por nós, não vai
resolver o problema, pelo contrário, torna-se mais uma falha para superarmos: a
culpa de tentarmos transferir para o próximo uma responsabilidade que era
exclusivamente nossa.
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