O modelo de liderança atual fundamenta-se nos mesmos
padrões que têm justificados as intermináveis guerras que recheiam a história
de conquistas temporárias de liderança e poder.
São eles:
- O medo de perder a autonomia justifica tudo em nome da liberdade em defesa da
pátria, apesar de que muitas vezes seus cidadãos sejam escravos dessa mesma
pátria.
- A ambição pelo enriquecimento à custa da pilhagem (taxação, etc.).
Esse é o sentido que predomina a maioria das invasões.
- O controle ideológico.
Se não pensam como nós, logo se tornam uma ameaça à autonomia do nosso modo de
vida.
O controle ideológico é uma crença tão intensamente arraigada à nossa forma de
agir e sentir, aliás, mandatória em nossa vida pessoal, que se torna
aparentemente um motivo diferente dos dois anteriores, quando na maioria das
vezes apenas os acoberta, justificando “religiosamente” ou “filosoficamente” o
sentimento de escravidão que rege nosso pensar.
Sim, escravidão ainda é o princípio que sustenta o nosso
modo de ver e agir como cidadão, comunidade, povo e nação.
Observando-se melhor, tanto o primeiro caso (a proteção da autonomia), como
também o segundo (pilhagem), são, na verdade, meios de melhorarmos nosso
“status quo” através da exploração de terceiros e isso é o princípio que rege a
escravidão — ou seja, a submissão pela imposição a terceiros de modo a atender os
nossos interesses sem a noção equilibrada de vantagem recíproca.
A exploração de terceiros é intrínseca ao nosso modo de
pensar, a tal ponto, que apenas classificamos como “escravidão” os seres
submetidos à nossa vontade que são de nossa própria espécie, do contrário,
escravizar tudo aquilo que não é “humano” parece como algo natural, como se tudo o mais girasse em torno de nosso ego.
O conceito de “geocentrismo”, onde a Terra seria o centro do Universo, foi
reflexo desse sentimento que ainda predomina o nosso Universo de pensamento onde
todos os seres e coisas parecem estar lá exclusivamente para atender às nossas
necessidades de bem-estar.
"A verdade é que cada um de nós tem uma convicção inata de que o mundo inteiro, com todos e tudo nele, foi criado como uma espécie de apêndice necessário de nós mesmos.Nossos semelhantes foram feitos para nos admirar e atender às nossas várias necessidades."
Jerome K. Jerome (1859-1927)
Através dessa franca introspecção sobre quem realmente “ainda somos”, fica muito mais fácil entender o porquê de tantas guerras, que não só consomem recursos preciosos que poderiam ser empregados na construção de uma sociedade mais avançada moralmente, como também contribui para a destruição do planeta como fontes de aquecimento global, poluição e destruição.
Esse é o panorama atual que herdamos desde os tempos que se
perdem no tempo e ditam o nosso comportamento.
Diante de um planeta agonizante, a necessidade ditada pela
redução dos recursos, fomentará o aumento da disputa e da tensão, acrescentando
ao nosso instinto “escravocrata” um sentimento de justificar “atos genocidas”
cada vez mais frequentemente, até cair na trivialidade do cotidiano,
exacerbando a nossa agressividade e nos tornando ainda mais impermeáveis às
percepções de que o comprometimento dessa “fartura” do passado que nos permitiu
continuarmos arraigados a esses vícios emocionais, comprometerá a nossa
sobrevivência futura, ao menos da forma como conhecemos nossa sociedade hoje.
Existe um instinto que prevalece sobre os demais — o instinto de sobrevivência, autopreservação.
Ele pode ser a ponte para a mudança comportamental planetária da nossa espécie.
Hoje buscamos a autopreservação a qualquer custo, resolvendo
o agora e comprometendo o amanhã. Se continuarmos nesse curso de ação, faltarão
também recursos humanos porque será inevitável que o nosso autoextermínio venha a reduzir o número de participantes dessa provável corrida genocida.
Antes de atingirmos tão degradante estágio de
autodestruição, ainda resta a possibilidade de que grupos mais racionais
comecem a perceber que não existe nação sem que se cuide de seu povo e entender
a importância disso como alavanca política de estabilidade e manutenção da
força de uma nação.
Uma nação torna-se forte através de um povo fortalecido.
A miséria e a fome nunca sustentaram o poder por muito tempo, mas são
instrumentos certos do caos quando morrem as esperanças e nasce a revolta contra os
próprios instrumentos de poder que fracassaram em sua missão.
Se grandes líderes começarem a formular uma projeção
provável do que seria o povo descontrolado pela ausência generalizada da
subsistência básica, onde o conceito de “estado” é suplantado pela
sobrevivência a qualquer custo, também começarão a perceber que a força da
liderança política virá se consolidar através de quem forneça um plano de esperança
consistente subsidiado em ações de preservação e reconstrução do “habitat” que
nos preserve como “humanos”.
As nações que investirem no cometimento desta meta
arregimentarão a cumplicidade de outras, cujo bloco se constituirá no alicerce
do poder que definirá a nova ordem.
Não importa quanto poderosa uma nação possa ser isoladamente,
porque o isolamento será a sua maior fraqueza.
Essa mudança comportamental que sucede os momentos críticos,
inclusive em nossa vida pessoal quando os acontecimentos inesperados dão uma guinada em nossa forma de viver e pensar, sustentará a força pela esperança
no sucesso da nossa sobrevivência sob um novo padrão comportamental que
erradicará o modelo anterior em direção ao aperfeiçoamento “sócio-moral” de
nossa raça. Ele virá pelo mesmo medo que sustentou o padrão anterior, porém modificado
pelo medo do extermínio.
Poderá ser a grande guinada que alçará voo pelas mãos dos
políticos e líderes hábeis que puderem fazer a leitura dessa ansiedade humana
crescente em favor de conduzir a massa na direção da liderança que nutre o
futuro. Ou seja, a liderança se consolidará pelo esforço político em catalisar a esperança e o empenho coletivos na reconstrução da vida.
A nossa mudança comportamental não virá pela bondade, nem
pela inteligência, mas justamente pela reengenharia daquilo que nos conduziu ao
estado crítico — medo e ambição.
Coletivamente, tememos mais que racionalizamos, inteligimos
menos que sentimos. Nada mais natural que a mudança se realize pelas mesmas forças
que nos conduzem prioritariamente.
Toda a natureza parece, geralmente, ser regida por esse princípio de
autocontrole, nascimento, apogeu, queda e transformação em direção à
adaptação mantendo o ritmo da vida pela evolução.
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