A Semente Alada

O vento deixou no meu alpendre uma semente alada, de alguma árvore vizinha da mata contígua ao muro da minha casa.

Olhei a semente e observei sua arquitetura.

Lembrou-me um parapente, ou asa delta, porém com o centro de gravidade disposto sobre a própria asa  –  a semente, e  cuja constituição dispunha apenas de longarinas raiadas e longas, sem nervuras (algo que desse sustentação mecânica transversal às longarinas).

Semelhante a asas de aviões, com o bordo de ataque (parte da frente)  ligeiramente mais espesso e portanto mais firme, e a borda de fuga (atrás), com aproximadamente 3mm de largura  e com espessura inferior, apresentava certa flexibilidade  semelhante a flaps, terminando próxima às extremidades, parecendo estas algo como  allerons.

Tudo porém, feito de um material bem mais resistente e flexível, se convertido para uma escala cujo modelo pudesse transportar um homem no lugar da semente (centro).

Ousado projeto!

Então, pensei... 

Se a minha imaginação não foi além da realidade, esta semente deve planar como tal.

Ergui o braço e deixei-a cair no espaço.

Ela planou, percorrendo uma trajetória helicoidal perfeita e harmoniosa, semelhante aos voos das asas deltas e parapentes.

Repeti mais uma vez, e outra, mais outra, voando sempre com a mesma perfeição.

Pensar que tudo é obra do acaso, acreditando em tantas coincidências, fica difícil!

Imaginar evolução autônoma de uma árvore que pudesse produzir por si só algo tão engendrado, ainda mais absurdo.

De todos os absurdos que podemos imaginar, o menor deles é acreditar que esta dimensão material em que vivemos tem uma mente criadora, diretora e mantenedora, cuja superioridade esbanja perfeição à cada minúcia.

Fica difícil não ver Deus à nossa volta, e fica ainda mais evidente quanto mais nos distanciamos da fé cega e fanática para aquela que cresce sob o amparo da razão.

Um dia... a religião será um braço da ciência que estuda a manifestação da inteligência nos limites da nossa compreensão.

A “sementinha” é um excelente modelo matemático para a criação de um projeto de voo planado para um homem, e posteriormente autônomo.

E agora, pela mão do homem — o discípulo da natureza:
Microveículo sem motor é o menor veículo voador já construído pelo homem
(09/2021)