junho 12, 2022

Indo Mais Além Sobre o Sentido do Voto, da Democracia e de Suas Alternativas

 


Democracia é possível?

O conceito democrático que vivemos é muito questionável já que a escolha é efetivada entre as opções impostas, algo que em si mesmo não soa democrático.

O modelo atual está muito longe do que democracia poderia realmente representar.

Sim, as opções de candidatos elegíveis são impostas por grupos de poder que lideram o status quo do sistema que apresenta um pacote fechado de candidatos que lhes são favoráveis, mas que necessariamente não representam a maioria.

O povo tem que optar por uma delas.

Só por aí, temos um modelo democrático que é pura maquiagem de uma "elite" que determina a cadeia de poder do sistema.
O povo é mera ferramenta de decisão desta disputa entre os mais poderosos, quando não lhes é possível resolver por si mesmos.

Não acredita?

Então vamos evoluir a ideia inicial — Democracia Pura, e vamos ver onde isso nos leva.

Imagine uma comunidade onde decidissem aplicar a democracia no seu estado mais puro de direito.
Seria mesmo possível?

Basicamente, o princípio de hierarquia seria quase que abolido e todos teriam os mesmos direitos, efetivamente, e não apenas como algo exercido em oportunidades eletivas, como é o caso atual.

Levando o conceito ao extremo, se todos têm direitos iguais no processo decisório, não há distinção cultural ou social. Todos participam votando em qualquer processo decisório onde não haja consenso.

Então, na democracia pura, se existe diferença de opinião, todos votam.
Por exemplo, o CEO de uma fábrica viabiliza a votação, sendo responsável por sua execução. Apenas isto. Ele não decide os caminhos da empresa, pois isto é uma responsabilidade de pleito.

Notem que este conceito lembra muito os conceitos puristas das teorias onde o coletivo demanda as elites, que por sua vez deram origem aos pensamentos de esquerda.

O mesmo acontece com todos os assuntos pertinentes ao grupo social.
O conceito hierárquico ficaria achatado.
No seu topo existiria apenas o pleito que detém o poder sobre todos os demais.
Temos, portanto, apenas um nível hierárquico — a vontade coletiva.

Se pensarmos bem, isto recai no modelo autocrático, ou ditatorial, onde o despotismo deixa de ser exercido por uma pessoa, mas por seu conjunto, substituindo-se apenas a figura do individual pelo coletivo. Mudam-se os atores mas o princípio autocrático continua ali, mandatório por natureza. Tudo isso com um "sabor" de doutrina de esquerda (o coletivo prevalece sobre elites).

O que aconteceria se nesta sociedade imaginária, durante a votação de uma questão crucial, o pleito resultasse em empate?  50% contra e 50% a favor?

Então, provavelmente, esta sociedade precisaria dividir-se em dois grupos diferentes, cada um seguindo a vontade de sua maioria, já que ambas são equivalentes e não podem ser contrapostas.

E se em cada metade voltasse a ocorrer o mesmo problema, novamente? Nova segmentação?

O grupos tenderiam à subdivisão constante até a unidade do sistema que é o próprio indivíduo.

Se já não bastasse a fragilidade conceitual da democracia onde pessoas preparadas e despreparadas podem ter o mesmo direito de exercício de poder, a democracia também não se sustenta diante da diversidade de opiniões que vão minando a força de uma comunidade que é construída pelo potencial de consenso de grupo.

Este fenômeno explica a degradação de nações movidas pelo espírito democrático e o crescimento de seus rivais autocráticos.

A Democracia torna-se um modelo exequível, poderoso e eficiente desde que haja forte consenso.
O consenso é construído com a uniformização cultural e a capacidade de compreensão alinhada por experiências comuns. Acesso à educação e possibilidades igualitárias de crescimento social são os alicerces que sustentam o modelo democrático, há muito tempo tais alicerces não passam de utopia.

Por isso, democracia é algo que só existe em nosso imaginário!

Na prática, o termo "Democracia" é utilizado apenas como forma de estabelecer decisões para os jogos de poder quando este mesmo poder decisório foge das mãos dos poderosos diante da equidade de forças entre eles. 
É como se duas pessoas que pudessem se destruir, mutuamente, decidissem jogar dados como forma de evitar uma contenda que resultaria na morte de ambos. Você, nesta situação, também não aceitaria decidir jogando os dados, ou transferindo para um terceiro a decisão final, do que submeter-se ao autoextermínio?

Dessa forma, vagamos pelo inconsciente de nossos sonhos coletivos onde a prática vai nos conduzindo aos resultados cujos efeitos não entendemos ou preferimos não aceitar, ou ainda achamos muito "tedioso".

A autocracia é o modelo de gestão natural às sociedade primitivas socialmente, independente de seus avanços tecnológicos. A "democracia" como é vivida hoje é apenas uma amenidade deste processo.

E como se tudo isso não bastasse, somos idólatras por natureza.
Adoramos eleger ídolos de toda espécie — nos esportes, na música, nos empreendimentos, na política, etc.

A idolatria exerce o poder de fascínio pelo extremo desejo pessoal de ter as mesmas qualidades de nossos ídolos.

A idolatria é o combustível da autocracia.
A corrupção é a doença que destrói a importância do senso comum que expressa a maioria.

E democracia é a esperança que nos sustenta o sentido de liberdade.

Vivemos de sonho enquanto caminhamos para a realidade.



NOTA:
O autor não defende o modelo autocrata, porém reconhece que democracia é um modelo imaginário já que a nossa sociedade está aquém dos requisitos necessários para exercê-la.
O modelo mais próximo da nossa realidade seria a meritocracia, porém a nossa medíocre capacidade de avaliação somada à nossa natureza corrupta também torna o mesmo inexequível no mundo real.
Um mundo real cujo passado ao longo da história é o atestado de nossa natureza, onde não existe espaço para sustentar modelos socialmente avançados.


Veja também:
Democracia e Voto Útil - Prós e Contras


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