A priori, o título parece mais uma manchete sensacionalista, não é?! :-)
Na verdade, o título traz propositalmente embutido algo extremamente importante.
Algo que oferece uma vantagem, que pode ser utilizado para melhorar nossas vidas, pode terminar surtindo efeito contrário.
Nós somos os únicos responsáveis pela forma como usamos as coisas.
Uma faca na mão de um bom médico, salva.
Uma faca na mão de um assassino, mata.
Um carro é uma invenção espetacular, mas mal utilizado pode acabar com a vida.
Podemos usar a IA para resolver aquela "preguiça", ou quem sabe "agilizar"(nada como um eufemismo para atenuar nossas fraquezas), ou ainda utilizarmos a IA para alavancar a nossa própria capacidade.
Usá-la como ferramenta de aperfeiçoamento pessoal e não como substituição daquilo que deveríamos fazer para o nosso crescimento é um bom caminho.
Se utilizarmos a IA para substituir nosso crescimento, cairemos na vala daqueles que ficarão à deriva justamente porque não serão capazes de agregar valor a si mesmos e automaticamente tornam-se substituíveis pela própria ferramenta que antes parecia representar uma vantagem enquanto que eles próprios colaboravam para o seu aperfeiçoamento através do fornecimento de dados interativos.
Processos digitalizáveis tem seu enorme valor pela superioridade de eficiência na produção de processos mecanizáveis.
Mecanizáveis?
Sim! Os primeiros computadores eram mecânicos.
Foi a eletrônica que trouxe a possibilidade de digitalizar os processos mecânicos, substituindo as máquinas por computadores.
Alguém diria:
"Esse negócio de IA... é mais uma coisa para competir com a gente assim como aconteceu com a máquina a vapor que foi substituindo grande parte do trabalho braçal..."
Você não gosta, não é?
Eu também não, mas não adianta fechar os olhos para a realidade ou rejeitar como um modo de fuga.
Algumas coletividades rejeitam.
Então elas vivem suas vidas ao modo dos séculos anteriores cuja propulsão ainda era animal, mas se você não vive em uma sociedade dessas, só lhe resta adaptar-se.
Oferecer um exemplo prático é sempre mais proveitoso, porque teoria sem prática fica muito abstrata.
O ChatGPT tem um recurso que estabelece uma conversação contextual e pode inclusive mudar o viés desse contexto utilizando-se o nome de uma pessoa famosa.
Então eu decidi testar o ChatGPT pedindo opinião sobre um projeto que venho desenvolvendo para dar apoio às atividades humanas cujo nome é "drillback", e você pode dar uma olhada nele aqui, cujo uso em breve estará disponibilizado a todos.
Eu perguntei ao ChatGPT o que ele achava de um projeto que estou desenvolvendo, se era um bom projeto, com boas chances de atender o mercado.
É claro que antes foi aberto um contexto de conversação onde expliquei o que era esse projeto.
E não é que ele gostou!
A parte boa é que todos os conselhos que ele passou eu já os conhecia e já estavam contemplados na base do projeto.
A parte chata é que eu não consegui nenhuma informação nova, mas até isso teve seu lado positivo.
Por que?
Se eu tivesse colhido uma informação nova, então ela teria sido alguma lacuna que não havia sido preenchida durante o planejamento de projeto.
Logo, pelas mãos do ChatGPT eu teria tido 10!
Promover um verificação é uma forma divertida de você fazer um "checklist" (lista de verificação).
Em casos assim, a IA acelera o processo de análise e autocrítica, que de outro modo demandaria mais tempo; contudo, não quer dizer que realmente você tenha de fato contemplado o máximo.
Ainda assim, dependendo da sua necessidade, vale a pena complementar com as buscas tradicionais.
A diferença principal deste exemplo é que ele não foi utilizado para substituir você, mas como um recurso inteligente de pesquisa, o que torna totalmente diferente de usar IA para fazer algo por você que nem você mesmo pode avaliar.
Isso é ruim!
Neste caso, a própria pessoa abdica de si em favor da máquina.
E uma vez que qualquer outra pessoa pode fazer o mesmo, qual o seu valor pessoal agregado ao processo? O quanto você acresceu em seu próprio progresso?
Em breve, o mercado vai desenvolver meios poderosos de filtrar os "plágios".
À medida que tais ferramentas se popularizarem, maior o risco do conteúdo gerado pela IA tornar-se um desabono para quem a usa dessa forma, com a intenção de substituir a sua própria qualificação.
Uma outra forma positiva de usar IA é agilizar a construção da base de conhecimento.
Se você está estudando um determinado assunto e busca uma resposta específica, os serviços de IA são excelentes, quando não espetaculares, porém com as suas limitações, mesmo utilizando o recurso de pedir alternativas de respostas ou a sua ampliação.
E por que?
A pesquisa que usávamos fazer antes da existência dos serviços de IA, através de sites especializados em comunidades que dispõem soluções (por exemplo, em TI é muito utilizado o stackoverflow, entre outros) continua sendo uma opção extremamente valiosa.
Além da diversidade de meios de se fazer ou resolver algo, também conta com uma diversificação de contexto que é acrescida de comentários da sua comunidade, algo que a IA dificilmente poderia substituir sem se tornar verbosa, duplicando ou replicando conteúdo porque IA não tem experiência de vida própria, mas apenas aquela que ela "aprende" ou "empresta" dos outros.
O "tal treino" de IA nada mais é que uma forma de aprender a identificar um padrão.
A IA pode em alguns casos perceber correlações que não percebemos, o que plagia o ato de inteligir, mas não é realmente uma expressão de "inteligência" na forma como somos capazes de fazer.
Se de fato, um dia a IA fosse capaz de realmente inteligir, então teríamos criado um problema sério para nós mesmos.
Neste dia, esses cientistas entenderão que chegou suas aposentadorias compulsórias por autosucateamento, isso se as máquinas entenderem que eles têm esse direito, porque afinal de contas, pelo lado exclusivamente racional, elas podem considerá-los apenas como despesa sem produtividade e tomarem as medidas necessárias.
Afinal, máquinas não têm alma... apenas programas que refletem alguma natureza de seus criadores.
É justamente isso que preocupa.
Se não conseguimos regular a sociedade, quem vai regular a natureza desses programas!!!
Hoje vivemos algo semelhante à era em que o início da mecanização foi substituindo o trabalho braçal nos campos, na indústria e em todas as outras atividades humanas.
A diferença é que agora, na revolução da IA, a proposta está mais na nossa capacidade individual de produzir algo além da IA. Ou seja, viver nesta civilização vai exigir cada vez mais capacidade intelectual e criatividade, algo que se torna vetor para aumentar a criminalidade já que uma parcela da população, cada vez maior, ficará à deriva.
Alguém mais preocupado questionaria se lá na frente, num futuro mais distante, IA não poderia de fato substituir o ser humano, a exemplo de várias propostas de filmes de ficção.
Eu acredito que substituição completa do ser humano por ele mesmo é algo que parece mais um produto da alucinação fruto da pretensão extrema, do sonho tresloucado de uma competição com Deus, recriando o nosso próprio "Universo".
Bom!...
Diante da descrença de algo maior no Universo do que nós mesmos, tudo parece possível.
E imaginar tal coisa já é um delírio, e delírio não têm compromisso com a realidade.
O fato é que ao certo poderíamos no máximo lesar fortemente nossa própria civilização reduzindo-a ao recomeço, seja pelas mãos da IA, de uma guerra biológica, de uma guerra nuclear ou pelo clima planetário que se desestabiliza progressivamente por nossa inoperância.
O lado interessante do progresso é que ele vai exigindo cada vez mais o crescimento da nossa consciência ambiental e social, onde o isolacionismo perde força à medida que a necessidade da troca fortalece a interatividade.
Justamente esta interatividade parece definir duas vertentes.
Uma que acredita no predomínio pela força das fontes de recursos, e outra, que segue em direção oposta, aprendendo a negociar.
A IA funciona como um motor que acelera processos através da interatividade.
A sua natureza intrinsicamente interativa age como uma força contrária ao efeito colateral das ditaduras do pensamento, seja pela política imposta ou reflexo do pensamento comunitário, cuja imposição de um pensamento único torna-se o meio de sustentação.
A IA poderá evoluir para sustentar tais regimes, porém precisará perder seus aspecto inteligente e evolutivo, o que a desfigura.
Como já comentado em outras publicações, a natureza sempre oferece forças reguladoras, porque ela própria parece ser fruto de ação inteligente e viva, até quando ela mesma precisa reciclar-se.
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