Talvez o leitor tenha ficado desconfortável com os últimos dois posts.
Essa análise ajuda desmistificar aquelas percepções que nos conduzem ao desconforto na construção da sinceridade que precisamos elaborar dentro de nós mesmos para que possamos reduzir a ação do medo, da frustração e da decepção que nos consomem o ânimo, que nos torna alheios, portanto, ainda mais vulneráveis.
O grande diferencial da nossa evolução está realmente na tecnologia.
Também fizemos grandes avanços na hipocrisia.
Continuamos a fazer tudo que sempre fizemos, porém de uma forma diferente, mais elaborada, mais sofisticada e discreta. Já não mais promovemos shows de decapitação em praça pública, e paramos de queimar humanos explicitamente, e um série de outras ações acintosas.
Disfarçamos as atrocidades através de leis complicadas, numerosas e difíceis de acompanhar para a maioria de nós, já que o tempo necessário concorreria com o fundamental das nossas atividades cotidianas.
O assunto é extremamente vasto por sua enorme diversidade, contudo podemos eleger alguns deles a título de ilustração.
Nas atividades econômicas, leis tentam amenizar a dureza da competição.
A realidade, todavia, é que se trava uma guerra de vida ou morte institucional.
A motivação na criação de uma empresa é fornecer serviços que promoverão lucro aos seus fundadores e sócios.
O início é bonito, cheio de perspectivas positivas, mas seus dirigentes são lançados na arena da competição, o mesmo tipo de arena que os romanos usavam como circo para o povo. A diferença é que agora acompanhamos tudo pelos noticiários ricos em textos e vídeos.
Se um dos competidores puder eliminar o outro, o fará sem sombra de dúvida, pois do contrário, sofrerá a mesma ação.
Na realidade, “matar ou morrer” é apenas amenizado pela convivência da rivalidade diante da impotência dos competidores eliminarem-se.
Se um deles tem esta possibilidade, logo corre para a formação de cartel, lobby e tentativa de monopólio.
E isso faz parte do jogo no cotidiano político do Senado, Congresso e etc.
Dirigentes de empresas têm duas alternativas: ou jogam o jogo, ou saem dele.
Enquanto isso torcem para que as suas fraquezas sejam ao menos as mesmas dos concorrentes como esperança de vida no mercado.
Assim sendo, no post anterior, que aborda a arena da IA, não há como julgar que estejam erradas as estratégias para imobilizar a concorrência, desde que dentro das “regras dos jogos” como ele é jogado atualmente.
Não podemos ver isso com maus olhos, criticando esse ou aquele povo ou empresa, porque a realidade é que ainda os jogos de arena persistirão por muito tempo.
E se você estivesse na mesma situação, teria que fazê-lo também.
Na área social, exterminamos vilas e populações sem a necessidade de armas, mas através da falta de acesso à saúde pública e ao direito à educação sem restrições.
Exagero?
Então basta somar os óbitos ocasionados por essas condições, seja por falta de assistência médica, como pelo exercício da criminalidade que não encontrou perspectiva pelos meios lícitos.
Convém lembrar que isso não é causa única que justifique a criminalidade.
Mesmo que tivéssemos uma sociedade que provesse educação e saúde para todos, ainda assim haveria criminalidade, um índice menor sustentado por aqueles cujo crime está em suas almas, mesmo que não tenham passado por nada que realmente fosse um vetor para as suas escolhas.
E para finalizar, as guerras por meio de armas e confrontação direta seguem sempre as mesmas motivações do passado, só mudam as condições do cenário.
Bem-vindo ao “admirável” mundo velho, contudo, ainda com um toque de evolução, porque à medida que nossas ações vão refinando a hipocrisia, também vão sinalizando o crescimento de uma consciência social que já não abre mais espaço para o descaramento afrontoso.
Anime-se!
Isso já é um progresso. Não é?
Longe do ideal, mas ainda um progresso, do contrário votaríamos a oferecer shows de decapitação como algo trivial a qualquer cultura ou nação.
Felizmente, já não é mais assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário