fevereiro 19, 2025

A Bomba Atômica da Criminalidade


 

Em alguns posts anteriores, há alguns anos antes, fui sinalizando que a criminalidade estava caminhando para a sua institucionalização.
Trocando em miúdos, a criminalidade estava contaminando o “Sistema Corrente”, subvertendo o crime em licitude.

Hoje nos deparamos com o início do que os físicos chamam de “estado supercrítico”.

Física, sociologia e política parecem coisas tão distintas, não é verdade?
O que tem a ver a física com os fenômenos sociais e políticos?


Partindo-se do pressuposto que a ciência estuda o Universo do qual somos frutos, logo suas leis físicas se aplicam a tudo que nele exista.

Não somos exceção, mas um “detalhe” desse conjunto que forma o Universo.

Um detalhe?!!!
Sim!!!
Sim!!!

O Universo é extremamente rico, formado por uma quantidade inumerável de elementos.
O “Ser Humano” é apenas um elemento desse Universo que nos contém.

E como dele derivamos, logo nossa natureza obedece à sua origem.


Podemos comparar efeitos sociais de massa a fissões nucleares, incluindo os efeitos dominó que são diferentes pela forma que se propagam, mas quantitativamente similares.

 

Lembrando a definição clássica, temos que o átomo é formado por prótons, nêutrons e elétrons.
Certamente, no futuro, essa definição clássica vai provavelmente mudar a partir da evolução do estudo sistemático das partículas emitidas que a física vai descobrindo, mas por enquanto essa definição é suficiente para o contexto deste post.

 

Na física, a fissão nuclear ocorre quando um núcleo de Urânio-235 ou o Plutônio-239 se divide em dois ou mais núcleos menores após ser atingido por um nêutron. No futuro, outros minerais poderão suprir a mesma necessidade.
Essa divisão libera energia e novos nêutrons que vão atingir outros núcleos, e assim sucessivamente.

Se essa reação se propaga de forma equilibrada sem expansão repentina de energia, então ela é chamada de “crítica”.

Hoje, socialmente, vivemos ainda dentro do estado “crítico”, mas à beira do “supercrítico”.
Ou seja, ainda a maioria da sociedade acredita em “trabalho honesto” como hoje é conhecido ou avaliado, mas essa avaliação parece prestes a mudar.

Fazendo-se um paralelo de uma fissão nuclear com o comportamento social, quando um cidadão é atingido por um contexto que o leva à revolta, ele pode subverter-se. Aqui é como um nêutron, fazendo o papel da crença, que atingi o núcleo “mental” do indivíduo, dividindo-o e modificando a sua crença e o seu comportamento.

Como isso acontece?
Um exemplo sempre é mais interessante que uma exposição conceitual, portanto, aqui vai um...

Voltava em uma van do transporte público para casa.
O motorista conversava em voz alta com o passageiro ao seu lado.
Tentei por alguns instantes concentrar-me naquilo que lia em meu celular, mas o ouvido humano não vem com botão para ligar e desligar.
A conversa evoluiu, e seu conteúdo começou a me chamar a atenção, embora em não tirasse os olhos do celular.

O motorista disse ao passageiro que parecia ser um colega, que ele morava em uma favela.
O passageiro respondeu que também morava em uma, porém ao contrário da “ordem” social que havia na favela do motorista, a sua favela era comandada pelo CV (Comando Vermelho). O motorista chamava o colega de “vô”, e o “vô” declarou que a vantagem em morar numa favela sob o domínio do CV era que ele podia frequentar outras sob o mesmo controle sem qualquer problema ou risco. O “vô” mostrava na sua exposição um sentido de segurança social e tranquilidade. Observe que este sentimento deveria estar sendo suprido ao cidadão pelas forças policiais (temos aqui uma subversão de valores inconsciente).

Já o motorista disse ao “vô” que a favela dele era mais tranquila, não tinha problema de facção, e que motorista de Uber podia subir, quando levasse algum passageiro, sem desaparecer, ao que redarguiu o vô, que isto só ocorre quando o Uber é parte do esquema do CV, ou da facção que comanda a favela.

O motorista da van no auge do desabafo comentava o sucesso de uma mulher que havia feito trinta milhões de Reais em dois ou três anos, e então ele concluiu: só vai pra frente quem pertence ao crime. Quem trabalha não acontece.

Esse motorista havia sido proprietário de duas vans e morava em um bom bairro enquanto o transporte público de vans não fora regulado obrigando que certas linhas fossem integradas ao sistema de transporte via corredores no Rio de Janeiro e impondo ao transporte privado condições mais restritivas.
Segundo ele, àquela época ele chegava a fazer de R$1.000 a R$2.000 por dia — foi a época de ouro do transporte privado por vans.

Hoje, ele indignado reclamava que da tarifa de aprox. R$4.70, ele recebia apenas R$1.50, ou seja, aproximadamente 32% para sustentar a manutenção da van e a si próprio.
Suponho que o motorista detenha a maior parte do custo operacional, já que ele é o responsável por manter o meio de transporte, o que nos leva a cogitar que ele deveria receber ao menos 50%.
A questão que conduz à indignação é como o Sistema vigente pode justificar abocanhar 2/3 do valor da passagem?

Quando o próprio Sistema se torna a ameaça, de certa forma, as fronteiras entre o crime o lícito ficam nebulosas, levando o cidadão a raciocinar de forma prática para continuar sobrevivendo.
Então vem a pergunta...
Em que sistema ele obtém mais lucro se ambos quebram as regras que sustentam o moral que justifica o justo do injusto, e que mantém o sentido de que o crime não compensa?


É nesse momento que você identifica a conversão de mentalidade, ou seja, a conversão de crença, a troca de valores.
O motorista da van naquele momento começava a sinalizar o namoro com a criminalidade como solução de vida, ao contrário do velho refrão que “o crime não compensa”.
Hoje, se fizermos uma pesquisa perguntando se o crime compensa, acho que teremos uma surpresa.


Comparando-se esse fenômeno social à fissão nuclear, seria o mesmo que um nêutron atingindo o núcleo de um átomo dividindo-o e gerando novos núcleos que vão atingir novos átomos, repetindo o processo em cadeia através de uma multiplicação exponencial (ou seja, uma multiplicação que se multiplica a si mesmo), gerando uma reação intensa e rápida.

Isto na prática é a mesma coisa daquela reação que temos quando alguém atingi o nosso limite emocional, então repentinamente sentimos crescer dentro de nós uma força que aumenta como uma avalanche e que nos leva de roldam à explosão, quando praticamos atos impensados, fora do nosso equilíbrio usual, como que se partíssemos em dois “EUs”.


A fissão nuclear que gera o efeito da bomba atômica é a mesma coisa.
A bomba atômica nada mais é que uma central de energia que libera toda a sua energia “de uma só vez”, isto é, de forma abrupta. Eu coloquei entre aspas duplas porque a energia liberada numa explosão leva um tempo, que usualmente é chamado de “delta T”. Acontece que esse período de tempo é tão pequeno que o resultado prático é como se fosse de uma só vez.

À medida que mais pessoas vão sendo “convertidas à crença do crime”, onde sua esperança de uma vida melhor renasce apenas através de um novo sistema que condena o Sistema atual, vai gerando o mesmo efeito, pois cada elemento convertido vai convertendo outros.

O noticiário beneficiando-se das pessoas que atingem resultados rápidos vai faturando à medida que esse tipo de notícia gera extremo interesse, portanto, vai realimentando a reação em cadeia.

Nesta última frase, se você, leitor, foi atento, poderá notar que temos um efeito social similar à fissão nuclear, que socialmente denominamos de “viralização”.

Quando uma notícia viraliza, ela “explode” em audiência.

Concluindo, a criminalidade esta viralizando, e a mentalidade social vai se transformando com ela.
À medida que este fenômeno aumenta, atingimos o estado “supercrítico”, ou seja, quando a reação em cadeia se intensifica rapidamente levando à “explosão nuclear”, ou seja, a uma reação social tão intensa que remodela o sistema, tal como nas revoluções sociais ao longo da história.

Não acredita?
A História é a nossa cúmplice. Todas as revoluções sociais foram bombas atômica emocionais de uma sociedade que perdeu a esperança no Sistema que define o status quo.

 

A nossa sociedade caminha do estado “crítico” para o “supercrítico”.
Quando atingir o supercrítico, será tal como uma revolução social, e o poder que se baseia nos critérios atuais será alijado dando lugar a novos critérios, onde o que era crime no passado, pode virar lei no presente. 

NOTA: tal situação já ocorre intensamente em segundo plano, no "background" da "high society" (USA: Trump/Elon Musk, Alemanha, e no Brasil os adeptos da extrema direita).
Não é um fenômeno puramente nacional, mas uma tendência mundial deste momento histórico onde a extrema direita parece ser a solução.

Se atingirmos o ponto "supercrítico" ocorrerá a subversão dos valores sociais, e os termos como “honestidade”, “respeito” e “direitos humanos” terão outras definições.

A tomada de poder da criminalidade já ocorre gradualmente.
Dependendo da reação popular em virtude da incompetência do poder institucionalizado, poderá ser como uma explosão conduzindo a um novo Sistema Social de uma nova sociedade que prefere trocar seus valores morais (ou conceituais) pela sobrevivência.


E se você duvida disso, lembre-se de que o ser humano sob pressão extrema perde a noção de seus valores, conduzindo-o a uma nova situação nem sempre reversível.

 

Arrependimento não é remédio.

Arrependimento é percepção atrasada.

 

 

 

 

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