Em alguns
posts anteriores, há alguns anos antes, fui sinalizando que a criminalidade
estava caminhando para a sua institucionalização.
Trocando em miúdos, a criminalidade estava contaminando o “Sistema Corrente”,
subvertendo o crime em licitude.
Hoje nos
deparamos com o início do que os físicos chamam de “estado supercrítico”.
Física,
sociologia e política parecem coisas tão distintas, não é verdade?
O que tem a ver a física com os fenômenos sociais e políticos?
Partindo-se do pressuposto que a ciência estuda o Universo do qual somos
frutos, logo suas leis físicas se aplicam a tudo que nele exista.
Não somos
exceção, mas um “detalhe” desse conjunto que forma o Universo.
Um
detalhe?!!!
Sim!!!
Sim!!!
O Universo
é extremamente rico, formado por uma quantidade inumerável de elementos.
O “Ser Humano” é apenas um elemento desse Universo que nos contém.
E como dele
derivamos, logo nossa natureza obedece à sua origem.
Podemos comparar efeitos sociais de massa a fissões nucleares, incluindo os efeitos
dominó que são diferentes pela forma que se propagam, mas quantitativamente similares.
Lembrando a
definição clássica, temos que o átomo é formado por prótons, nêutrons e elétrons.
Certamente, no futuro, essa definição clássica vai provavelmente mudar a partir
da evolução do estudo sistemático das partículas emitidas que a física vai
descobrindo, mas por enquanto essa definição é suficiente para o contexto deste
post.
Na física, a
fissão nuclear ocorre quando um núcleo de Urânio-235 ou o Plutônio-239 se
divide em dois ou mais núcleos menores após ser atingido por um nêutron. No
futuro, outros minerais poderão suprir a mesma necessidade.
Essa
divisão libera energia e novos nêutrons que vão atingir outros núcleos, e assim
sucessivamente.
Se essa
reação se propaga de forma equilibrada sem expansão repentina de energia, então
ela é chamada de “crítica”.
Hoje, socialmente, vivemos ainda dentro do estado “crítico”, mas à beira do “supercrítico”.
Ou seja, ainda a maioria da sociedade acredita em “trabalho honesto” como hoje
é conhecido ou avaliado, mas essa avaliação parece prestes a mudar.
Fazendo-se um paralelo de uma fissão nuclear com o comportamento social, quando
um cidadão é atingido por um contexto que o leva à revolta, ele pode
subverter-se. Aqui é como um nêutron, fazendo o papel da crença, que atingi o
núcleo “mental” do indivíduo, dividindo-o e modificando a sua crença e o seu comportamento.
Como isso acontece?
Um exemplo sempre é mais interessante que uma exposição conceitual, portanto,
aqui vai um...
Voltava em uma van do transporte público para casa.
O motorista conversava em voz alta com o passageiro ao seu lado.
Tentei por alguns instantes concentrar-me naquilo que lia em meu celular, mas o
ouvido humano não vem com botão para ligar e desligar.
A conversa evoluiu, e seu conteúdo começou a me chamar a atenção, embora em não
tirasse os olhos do celular.
O motorista disse ao passageiro que parecia ser um colega, que ele morava em
uma favela.
O passageiro respondeu que também morava em uma, porém ao contrário da “ordem”
social que havia na favela do motorista, a sua favela era comandada pelo CV
(Comando Vermelho). O motorista chamava o colega de “vô”, e o “vô” declarou que
a vantagem em morar numa favela sob o domínio do CV era que ele podia
frequentar outras sob o mesmo controle sem qualquer problema ou risco. O “vô”
mostrava na sua exposição um sentido de segurança social e tranquilidade.
Observe que este sentimento deveria estar sendo suprido ao cidadão pelas forças
policiais (temos aqui uma subversão de valores inconsciente).
Já o
motorista disse ao “vô” que a favela dele era mais tranquila, não tinha
problema de facção, e que motorista de Uber podia subir, quando levasse algum
passageiro, sem desaparecer, ao que redarguiu o vô, que isto só ocorre quando o
Uber é parte do esquema do CV, ou da facção que comanda a favela.
O motorista
da van no auge do desabafo comentava o sucesso de uma mulher que havia feito trinta
milhões de Reais em dois ou três anos, e então ele concluiu: só vai pra
frente quem pertence ao crime. Quem trabalha não acontece.
Segundo ele, àquela época ele chegava a fazer de R$1.000 a R$2.000 por dia — foi a época de ouro do transporte privado por vans.
Hoje, ele indignado reclamava que da tarifa de aprox. R$4.70, ele recebia apenas R$1.50, ou seja, aproximadamente 32% para sustentar a manutenção da van e a si próprio.
Suponho que o motorista detenha a maior parte do custo operacional, já que ele é o responsável por manter o meio de transporte, o que nos leva a cogitar que ele deveria receber ao menos 50%.
A questão que conduz à indignação é como o Sistema vigente pode justificar abocanhar 2/3 do valor da passagem?
Então vem a pergunta...
Em que sistema ele obtém mais lucro se ambos quebram as regras que sustentam o moral que justifica o justo do injusto, e que mantém o sentido de que o crime não compensa?
É nesse momento que você identifica a conversão de mentalidade, ou seja, a
conversão de crença, a troca de valores.
O motorista da van naquele momento começava a sinalizar o namoro com a
criminalidade como solução de vida, ao contrário do velho refrão que “o crime
não compensa”.
Hoje, se fizermos uma pesquisa perguntando se o crime compensa, acho que teremos
uma surpresa.
Comparando-se esse fenômeno social à fissão nuclear, seria o mesmo que um nêutron
atingindo o núcleo de um átomo dividindo-o e gerando novos núcleos que vão atingir
novos átomos, repetindo o processo em cadeia através de uma multiplicação
exponencial (ou seja, uma multiplicação que se multiplica a si mesmo), gerando
uma reação intensa e rápida.
Isto na prática é a mesma coisa daquela reação que temos quando alguém atingi o
nosso limite emocional, então repentinamente sentimos crescer dentro de nós uma
força que aumenta como uma avalanche e que nos leva de roldam à explosão, quando
praticamos atos impensados, fora do nosso equilíbrio usual, como que se partíssemos em dois
“EUs”.
A fissão nuclear que gera o efeito da bomba atômica é a mesma coisa.
A bomba atômica nada mais é que uma central de energia que libera toda a sua
energia “de uma só vez”, isto é, de forma abrupta. Eu coloquei entre aspas
duplas porque a energia liberada numa explosão leva um tempo, que usualmente é
chamado de “delta T”. Acontece que esse período de tempo é tão pequeno que o
resultado prático é como se fosse de uma só vez.
À medida
que mais pessoas vão sendo “convertidas à crença do crime”, onde sua esperança
de uma vida melhor renasce apenas através de um novo sistema que condena o Sistema
atual, vai gerando o mesmo efeito, pois cada elemento convertido vai
convertendo outros.
O
noticiário beneficiando-se das pessoas que atingem resultados rápidos vai
faturando à medida que esse tipo de notícia gera extremo interesse, portanto,
vai realimentando a reação em cadeia.
Nesta última
frase, se você, leitor, foi atento, poderá notar que temos um efeito social
similar à fissão nuclear, que socialmente denominamos de “viralização”.
Quando uma
notícia viraliza, ela “explode” em audiência.
Concluindo,
a criminalidade esta viralizando, e a mentalidade social vai se transformando
com ela.
À medida que este fenômeno aumenta, atingimos o estado “supercrítico”, ou seja,
quando a reação em cadeia se intensifica rapidamente levando à “explosão nuclear”,
ou seja, a uma reação social tão intensa que remodela o sistema, tal como nas revoluções sociais ao longo da história.
Não acredita?
A História é a nossa cúmplice. Todas as revoluções sociais foram bombas atômica
emocionais de uma sociedade que perdeu a esperança no Sistema que define o status
quo.
A nossa
sociedade caminha do estado “crítico” para o “supercrítico”.
Quando atingir o supercrítico, será tal como uma revolução social, e o poder
que se baseia nos critérios atuais será alijado dando lugar a novos critérios,
onde o que era crime no passado, pode virar lei no presente.
NOTA: tal situação já ocorre intensamente em segundo plano, no "background" da "high society" (USA: Trump/Elon Musk, Alemanha, e no Brasil os adeptos da extrema direita).
Não é um fenômeno puramente nacional, mas uma tendência mundial deste momento histórico onde a extrema direita parece ser a solução.
Se atingirmos o ponto "supercrítico" ocorrerá a subversão dos valores sociais, e os termos como “honestidade”, “respeito” e “direitos humanos” terão outras definições.
A tomada de
poder da criminalidade já ocorre gradualmente.
Dependendo da reação popular em virtude da incompetência do poder institucionalizado,
poderá ser como uma explosão conduzindo a um novo Sistema Social de uma nova
sociedade que prefere trocar seus valores morais (ou conceituais) pela
sobrevivência.
E se você duvida disso, lembre-se de que o ser humano sob pressão extrema perde
a noção de seus valores, conduzindo-o a uma nova situação nem sempre
reversível.
Arrependimento
não é remédio.
Arrependimento
é percepção atrasada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário