agosto 05, 2022

Imersos no Sonho de Nós Mesmos Imaginamos Viver a Realidade

 




Este post é sequência do anterior
Céu e Inferno: Razão e Fé - Inferno Eterno Faz Sentido? 
, onde questionamos verdades que imaginamos como tais.


Todas as percepções que fazemos do meio externo são projeções de nossos sentidos.
Não temos como avaliar a cor real das coisas, nem tão pouco o som real daquilo que ouvimos.
Nem se o nosso paladar é capaz de desfrutar exatamente do mesmo sabor que outros desfrutam.

Não temos, ainda, como comparar as diferenças.

O nosso cérebro é reflexo daquilo que os nossos sentidos, ou seja — os nossos "sensores", são capazes de traduzir em informação que adquire um sentido racional e emocional de acordo com a nossa bagagem cultural e com a nossa sensibilidade.

Vivemos a vida imersos na realidade daquilo que "fazemos real" porque acreditamos nos proxies que nos traduzem os estímulos que recebemos.
Cada sensor é um proxy.
Cada sensação é meramente uma tradução repassada por esses sensores.

Cada indivíduo vive isolado em seu mundo, compartilhando apenas as faixas comuns desses estímulos.
Ninguém pode garantir que o "azul, ou o vermelho" que vemos seja visto exatamente da mesma forma pelos demais. 

Assim também o é com todos os demais sentidos.
Habitamos uma faixa comum de conforto social que é traduzida convenientemente para aquilo que entendemos por realidade.

Mergulhamos nessa realidade virtual de nossos sensores biológicos e vivemos a vida como se fosse uma resposta única da nossa existência, ou seja, uma experiência que se esgota em si mesmo ao término de suas possibilidades genéticas.

Não conseguimos ver o amanhã, então imaginamos algum.
Não conseguimos entender o ontem, então elegemos algum.
Mal conseguimos definir o hoje se não fossem as demandas do cotidiano, então pegamos carona no afã diário para fugirmos da nossa ignorância.

A solidão é fruto dessa ignorância, que nos isola daquilo que não podemos perceber, até de nós mesmos, quando então o vácuo construído nesse sentimento de intenso vazio é preenchido pelas querelas do intercâmbio cotidiano que busca sentido no agora, satisfação no hoje, diversão às nossas almas órfãs de sentido e que buscam abrigo da solidão.

Temos tanta certeza da realidade quanto mais intensa for a dor de seu sofrimento.
Ao contrário, quando a felicidade extrema bate à porta parece transportar-nos para o sonho.

A dor é a realidade filha da ignorância.

Se desejar ressentir os brios de alguém, basta alertá-lo para aquilo que realmente somos: profundamente ignorantes.

E diante de tanta ignorância, onde um pequeno passo adquire um relevância de sucesso tão infinita quanto proporcionalmente desconhecemos tudo o mais, faz crer que o que fazemos hoje para atender aos nossos sentidos mais primitivos transforme-se no próprio sentido da vida.

E na luta pelo poder, pelo domínio, onde prevalece o usufruto do labor alheio em benefício próprio, criamos as rédeas do poder através da religião, da política e da ciência.

Pela religião, a ignorância é alimentada com dogmas cruéis para impor o respeito pelo medo.
Pela política, a mentira prevalece com forma de conduzir indefinidamente a esperança de uma massa cega, carente, mendigando amparo na esperança de promessas que se cumprirão no vazio do infinito. porquanto seu termo inexiste.

E finalmente, pela ciência que constrói o sonho perfeito através da realidade criada por transdutores humanos, ou seja, os sensores eletrônicos(óculos 3D, etc.), iremos sendo seduzidos assim como são seduzidas as cobras ao sopro de flautas que exalam o odor da urina de roedores, seus alimentos.

Não o som, mas o odor.
Não o que é produzido, mas o que desejamos consumir.

Certamente não sabemos quando a ignorância em sua expressão menor nos permitirá descobrir de fato o Universo à nossa volta, cuja beleza deve justificar tanto esforço nestas aquisições ao longo de nossa evolução.

Disso tudo, concluímos que, sonho por sonho, é melhor escolher o mais belo, cuja beleza não seja exclusivamente a nossa própria imagem nem o anfitrião da dor do amanhã.





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