abril 19, 2022

A Democracia em Cheque no Tabuleiro Político da Globalização E Alguns Desfechos Possíveis

 




A maioria do eventos humanos tem dois lados: o bom e o ruim de acordo com o ponto de vista do observador.

Apesar dos vários interesses em jogo na guerra entre Ucrânia e Rússia, vamos abordar aquele que é mais divulgado: a luta pelo direito de um povo decidir seu próprio destino, ou seja, o que está em jogo é o direito de escolha.

Esse princípio é basicamente o modelo político que sustenta o conceito de "democracia".

O direito de escolha (democracia) está sob ameaça não apenas na Ucrânia, mas no mundo.
É um modelo de governo que está na corda bamba do panorama futuro do cenário político mundial.


Por que a democracia adoeceu?


A história da humanidade sempre foi a luta pela disputa de interesses.
Uma das formas de amenizar esse processo foi delegar para outra entidade o arbítrio da disputa. Nos regimes democráticos delega-se ao povo o direito de escolha do viés político assim como se delega a um juiz o julgamento de um conflito.

Dessa forma, a democracia é extremamente dependente do imaginário social popular cuja maioria detém o poder.

Suponha que tenhamos um país onde a maioria da população é dedicada ao trabalho e se concentra em produzir. Em determinado momento é atacada por outra que não é afeita à produção, mas à exploração de terceiros, como era o modelo econômico de Roma à época dos imperadores. Eles eram especialistas na arte da guerra e através dela dominavam povos em desvantagem. Mediante a pilhagem e a cobrança de impostos mantinham o luxo de sua capital e sustentavam o seu povo.

Certamente um povo que foi subjugado passará a ter uma visão diferente daquela que vinha tendo diante da perda da liberdade e da exploração a que foram submetidos. Só um povo que já perdeu a liberdade pode entender o sacrifício de mantê-la, a exemplo do povo judeu.


Agora imagine uma outra sociedade onde a criminalização é crescente.
Esse processo vai gradativamente reformulando os padrões de conduta social e econômica.
Atingindo a maioria da população, certamente os cargos chaves de comando daquela sociedade irão sendo substituídos por pessoas dessa maioria, incluindo suas leis e meios que lhes sustentem o poder à força de coerção pela propaganda ou pela injunção da dependência econômica e da pobreza.

O crime depende de apoio legal para sobreviver já que a base econômica das suas atividades está no poder imposto, não consentido, e portanto é escravocrata por natureza pois que nada adiantaria tal poder se não for possível submetê-lo a outros. Afinal, o homem mais poderoso do mundo, se isolado, tem tanto poder quanto um lavrador nas mesmas condições cujo trabalho vira a própria subsistência.

O crime se legaliza à medida que vai reformulando leis e desconstruindo a cultura de um povo para atender seus objetivos. Tudo o mais se resume na disputa entre os próprios poderosos, enquanto os demais terão utilidade à medida que atenderem aos seus propósitos.

Amor???
Respeito???

O crime floresce justamente por se opor a esses conceitos, idolatrando a ambição, egoísmo, a insensibilidade e a violência como modus operandi e filosofia de vida.

Então, o que prevalece é a monetização do trabalho serviçal alheio onde o fim em si mesmo resume-se apenas em construção de poder para garanti-lo apto à disputa com os outros candidatos a essas lideranças.

Com base nesse raciocínio sociológico, econômico e político podemos agora observar alguns dos prováveis cenários emergentes do conflito na Ucrânia, que foi apenas o estopim de uma bomba que vem sendo construída desde o período anterior à segunda grande guerra mundial, que terminou na sua expressão bélica mas perdura até hoje através de ideologias.


CENÁRIO PESSIMISTA - O ENFRAQUECIMENTO DA OTAN

O aparente "rejuvenescimento" da OTAN é mais uma esperança que uma sólida aliança.

A UE (União Europeia) é uma colcha de retalhos costurada à força de uma necessidade comum e várias conflitantes.

A Alemanha retarda sua ajuda à Ucrânia, também evitando o envio de armas pesadas, tendo uma participação bem menor que países como a Letônia que tem contribuído muito mais com a causa da Ucrânia, apesar do seu potencial econômico menor que o da Alemanha. Tal conduta da Alemanha é bastante sugestiva.

Na França temos Le Pen (extrema direita que prefere a aproximação com Moscou ao invés do embate), e competindo com ela nesta eleição de 2022, temos Macron cuja política é oposta.

Se Le Pen sair vitoriosa das eleições francesas, somando com a Alemanha que vem manobrando uma política à semelhança de Pequim pelas mãos de Xi Jinping, vai reconduzir os destinos da UE para outra direção cujos ventos favorecerão Putin, pois ambos os países são pesos pesados dessa frágil união.

A Espanha que já foi a última a se manifestar e cuja tendência não se distancia muito da Alemanha e da França, poderá provavelmente também mudar a orientação diante da mudança desses dois países,  fragilizando a perspectiva de vitória do bloco, que pode apressar o efeito cascata sobre outros que adotarão a estratégia de minimização de perdas juntando-se àqueles que venham a ter mais chances de sucesso.

Aos demais restará contemporizar para não terminar da mesma forma que a Ucrânia.

França e Alemanha podem ser peças valiosas, se não vitais, para o sucesso de Putin.

A Inglaterra por sua vez ficará em posição de extrema desvantagem.

O EUA diante de uma OTAN esfacelada, poderão contar com o provável apoio da Inglaterra, do Canadá e da Austrália, este último também em posição de desvantagem dada à localização geográfica e à falta de investimento militar que o momento está requerendo.

O bloco de oposição à supremacia oriental acabaria muito enfraquecido.

Dentro deste cenário, teríamos uma Europa sob a influência da Russa e da China, invertendo-se o cenário anterior cuja influência era americana. remodelando a forma de governo na Europa.

Este é justamente um dos objetivos de Putin, o enfraquecimento da OTAN e da nação rival americana desde os tempos da guerra fria, que por sua vez atende aos interesses da China que soube tirar vantagem dos EUA oferecendo mão de obra e condições mais favoráveis às suas indústrias — uma guerra fria executada com outra estratégia tirando vantagem de um sentimento muito forte no ser humano: a ambição de mais lucro a qualquer preço.

Enquanto a União Soviética falia como bloco, a China construía seu futuro.
O desejo de Putin é reconstruir esse passado, porém reescrevendo a história com poder suficiente para angariar o apoio chinês sem terminar súdito pela relatividade de forças.

O partido Democrático estadunidense, através de Joe Biden, já trabalha na correção desses erros do passado e será preciso que a consolidação do sucesso dessa política renove a mentalidade americana contribuindo para atenuar as suas discrepâncias que enfraquecem o país como nação.

O Brasil e outros países da América que caminham para as ditaduras (ou Estadismo) pelas mãos do extremismo, ou aqueles que já caminharam, ficariam numa posição relativamente confortável politicamente, mas o povo precisaria se adaptar às consequências da nova realidade que decorreria do apoio e do "modismo" ditatorial mundial.

No Brasil, a reformulação trabalhista é um dos processos que poderá ser convertido para atender tais objetivos de concentração de poder.

Não improvável, que qualquer partido extremista que venha ganhar as eleições, diante de um Congresso rebelde e face a um cenário mundial favorável ao despotismo, acabe solucionando o problema de governabilidade da forma que já conhecemos, e como já temos experiência anterior, o que dispensa comentário.


CENÁRIO OTIMISTA


A interrupção do ataque comprometeria a estabilidade da política russa atual e a sua imagem perante o mundo, o que abriria oportunidades para o fortalecimento interno dos opositores de Putin, embora seja uma hipótese frágil diante da determinação de Putin, do apoio interno que recebe e da superioridade numérica das suas forças militares.

Um eventual fracasso de Putin na Ucrânia , também abriria caminho para a exacerbação dos ânimos contemplando recursos nucleares de efeitos menores, o que recai no cenário pessimista.

Se a OTAN ressurgir das cinzas com toda a força, já que o próprio Macron antes era favorável de substituí-la por um tratado "mais europeu", os ventos da democracia ocidental voltariam a alimentar as velas das naus políticas e econômicas de oposição às tendências ditatoriais do oriente, contendo-o.

O EUA saem fortalecidos e a política brasileira torna-se mais contida quanto às suas tendências centralizadoras.

O extremismo de Trump simpático a Putin seria reavaliado pelo partido Republicano gerando oportunidade para uma nova liderança que precisaria endossar o crescimento interno a exemplo do que o partido Democrático já faz. Esta circunstância poderá contribuir para redução das consequências de um país fortemente dividido, polarizado. Americanos têm um senso prático extremo e poderão resgatar sua força com um país mais unido.


ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DO CONFLITO

Na mão dos Democratas, o EUA voltam à sua lição de casa quando resolveram abandonar a produção interna em busca da mão de obra farta e barata do oriente, reaquecendo sua economia interna em direção à sua reconstrução e fortalecimento, a exemplo da China.

O mundo entendeu que a interdependência econômica não é suficiente para conter guerras, como muitos políticos de liderança acreditaram para formular suas estratégias nacionais e internacionais, que agora foram pegas desprevenidas e se provaram equivocadas.

O mundo buscará mais coesão de alianças e de recursos, passando a intensificar a concentração em blocos. Teremos um remanejamento do modelo de globalização e um retrocesso, algo semelhante a uma feudalização desse processo mundial.

O remanejamento de recursos causará uma lacuna temporária agredindo as economias e consequentemente o equilíbrio de suas moedas. A inflação retornará, impulsionada pela especulação e pela demanda de esforços no redirecionamento dos novos recursos que cobrarão o ônus da insensatez mundial. Posteriormente a esta fase de adaptação, os novos recursos proverão o suporte necessário contribuindo para reequilibrar o quadro mundial.

O INESPERADO

Sabemos que a história conta com muitos exemplos em que acontecimentos inesperados acabem por mudar o rumo dos destinos da humanidade.
E contando com o otimismo, ficamos na torcida por algo assim, que possa atenuar a nossa insanidade.

LIÇÃO QUE A UCRÂNIA DEIXA INDEPENDENTE DE RESULTADO

A força da determinação de um povo que compreendeu a importância da liberdade.


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