Através de uma pequena retrospectiva, um mini resumo de 1985 até 2022 apresentado uma sucessão de eventos, vamos alavancar no passado a contextualização do presente, porque o hoje é consequência do ontem.
É relembrando ou conhecendo os fatos que tomamos decisões mais racionais, pois diante do esquecimento ou do desconhecimento, tanto a emoção quanto o impulso assumem a direção dos nossos atos. Não deveriam, já que a razão e a calma são a base do equilíbrio e da melhor escolha, dependendo esta da lembrança ou do aprendizado que nem sempre estão vivos em nosso pensamento. Afinal, são tantas coisas num mundo atolado de informação, que dificilmente temos cabeça e tempo para tudo, mas que em épocas eletivas, relembrar ou conhecer é útil e necessário.
É do esquecimento ou do desconhecimento que os políticos tiram vantagem.
Diz o ditado:
"O povo tem memória curta".
Iniciamos com Tancredo até o primeiro mandato de Lula, período já descrito no link a seguir, através de um post anterior.
Um Resumo Para Entender o Brasil das “Eleições 2018” de Uma Forma Simples e Seu Possível Futuro...
Àquela época este post e subsequentes já antecipavam a polarização pelo extremismo.
Agora passamos para 2011, quando Lula permaneceu por dois mandatos e entregou o bastão para a Dilma Rousseff, que também, assim como Lula, conseguiu reeleger-se.
O PT vai perdurando no poder por quatro mandatos sucessivos, acumulando 13 anos quando em 5 de agosto de 2016 o impeachment interrompe o mandato de Dilma.
Dilma classificou de golpe a aprovação do impeachment e acusou o então vice-presidente, Michel Temer, e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de conspiração.
Michel Temer sucede e exerce o mandato até o fim, encerrando em 2018, apesar da pressão para que renunciasse.
O PT durante tanto tempo no poder — 16 anos, foi gerando uma série de conveniências recíprocas envolvendo a elite do empresariado nacional, causando distúrbios e escândalos que entre o vai-e-vem dos reveses, nem juízes e nem o próprio STF obtiveram a postura necessária para consolidar a imagem de respeito sobre as correções que se provassem devidas aos eventuais erros perpetrados, de tal forma que pudessem angariar solução de fato, impedindo que ocorrências tais como o caso da Odebrecht e outras construtoras conduzissem a nação pelos novos rumos da seriedade e do combate efetivo à corrupção.
Se de um lado a força tarefa da Lava Jato, que buscava higienizar a política brasileira, acabou percorrendo caminhos que conduziram a envolvimentos emocionais indesejáveis à imparcialidade que a justiça deve prover em seus julgamentos, também de outro lado os erros não são punidos e corrigidos adequadamente, conduzindo o STF para outra atitude igualmente questionável, fazendo uso de provas obtidas em condições discutíveis quanto à sua legalidade, penalizando decisões ulteriores que apenas serviram para desprestigiar ainda mais o cambaleante disvinculamento da jurisprudência das influências do poder político e dos estranhos vieses comportamentais sob a falta de transparência de um processo revertido sem a contrapartida da indenização que seria devida se de fato indevido tivesse sido todo o processo.
Algo como o velho "Deixa pra lá, que o bicho pegou. Encerra, passa a régua e chama o próximo, ou melhor, apaga a luz e deixa quieto pro povo esquecer, porque esse nó não dá pra desatar sem piorar ainda mais as coisas..."
Uma demanda perdida pelos entrelaçados caminhos do direito atabalhoado por interesses, conduz ao acerto de contas em retaliações futuras e sucessivas através de medidas que caracterizam a falta de pudor ético e o jogo da vingança típico das situações onde o desmando é a ordem do dia.
Michel Temer diante da baixíssima popularidade, representava uma esperança que também malogrou.
As decepções e os escândalos de corrupção do PT, sucessivamente, foram somando ao sentimento popular o desespero pela mudança a qualquer custo.
Então o velho ditado prevaleceu: "Quem não tem cão, caça com gato!"
Bolsonaro assume a presidência em 2019, ganhando as eleições pela tremenda vantagem provida pelo impacto emocional que as notícias foram construindo no sentimento do povo, levando a população a optar por um candidato que mesmo que eleito não governaria. O Povo não vê e não quer ver isso, porque o desespero é cego e a falta de opção é o curral eleitoral de uma massa que não sabe dizer não à falta de alternativa.
E diante dessa dificuldade de governança, a exaltação encontra seu quintal favorito onde as concessões da presidência foram se alastrando em busca de apoio em troca de negociações que beneficiaram o Congresso, desequilibrando ainda mais o exercício entre os poderes, o que conduz a mais exaltação e a mais extremismos, culminando em orçamentos secretos e uma sucessão de escândalos e subversões graduais dos padrões de transparência.
Então o jogo do vale tudo para uma reeleição aquece ainda mais o ebuliente caldeirão dos ânimos, face ao ressuscitamento do PT através do arquivamento súbito dos processos de seu líder que lhes renderam meses de encarceramento, não pelas vias judiciais mas pela improvisação de meios extra judiciais que pinçaram a recondução judicial de algo tido como julgado, conduzindo a uma competição eletiva onde ambos os candidatos advogam o extremismo de suas causas deixando o povo sem alternativa aparente e sem confiança no judiciário já que, enquanto os políticos ensaiam uma terceira via, ao mesmo tempo não desejam perder cadeiras uma vez que os ânimos nacionais exacerbados não deixam espaço para a moderação, reduzindo ainda mais as perspectivas de uma opção de centro já sem representatividade suficiente para angariar chances reais de vitória, transformando tal possibilidade em uma ilusão filosófica da media e de parte da população órfã de opção.
O povo termina mais frustrado, desesperado, exaltado e dividido por esses dois períodos sucessivos de naturezas tidas como opostas e capazes de correções e soluções mútuas, mas cujos resultados na prática parecem assemelhar-se, onde o combate à corrupção e a conservação do poder de cidadania ficam à deriva, virando mero tema de palanque.
É necessário ter muita segurança para não se deixar envolver pelo desespero nessas horas e rejeitar as polarizações, mesmo não refletindo o consenso popular. Requer uma certeza que a maioria não consegue construir.
Se não há opção, não há pelo que optar.
Neste contexto, o voto nulo ou branco passa a representar um não ao extremismo.
Chega de "Putins", "Xi Jinpings" e "Trumps".
No momento, infelizmente, ao que parece, estamos na mesma situação que os franceses entre Macron e Le Pen.
Resta o consolo que o Brasil não está só e não é o único na contramão da história.
Nestes momentos, mesmo os "países desenvolvidos" igualam-se aos "subdesenvolvidos" na gangorra da história.
Parece mesmo ser um problema mundial em que o extremismo vai nos deixando às portas da terceira guerra mundial, só que desta vez com o risco de confrontação nuclear já no tão agonizante equilíbrio térmico planetário, quando estes mesmos esforços e seus bilhões deveriam ser empregados em prol da restruturação da cadeia de produção que garantisse a reversão desse quadro de extinção da vida em larga escala.
Receberemos o que merecermos e infelizmente a minoria pagará pelo desatino da maioria exaltada.
O resto é coragem e tranquilidade para não acabar fazendo parte da maioria.
A consciência tranquila, ou não, é o único bem que levamos da vida.
Tudo o mais ficará mergulhado nas consequências do que restar, onde as desconstruções de um passado furioso ficarão dissolvidas na poeira de um solo varrido pelas ventanias superaquecidas — o legado do extremismo do presente que decidiu olvidar o futuro.
Leituras adicionais:
As Democracias em Perigo de Extinção
Democracia e Voto Útil - Prós e Contras
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