abril 24, 2022

O Avanço Mundial da Tendência à Ditatura. Por quê?

 



Este post encerra uma série de outros dedicados ao entendimento da relação social, sua história e consequências através de seus frutos políticos como meios de minimizar as distorções da alma humana. Não existe solução perfeita para execuções imperfeitas. O problema maior reside em nossas mazelas comportamentais, no entanto, entendê-las como interagem e as consequências que causam, ajuda-nos a decidir e também a equilibrar nossas emoções no esforço de colaborar da melhor forma possível com o processo da vida.


À medida que cresce o caos na ordem de um sistema social, também cresce a disputa de poder que busca substituir o corrente que está em crise.

Essa disputa de poder tem regras semelhantes às regras de confrontos bélicos, mesmo que predomine o confronto verbal. Os embates aquecem o clima psicológico e o extremismo vai apadrinhando e justificando as reações na criação de estratégias do "vale tudo".

Neste ponto de superaquecimento de ânimos, fundem-se os ideais iniciais que os seus participantes pudessem ter, derretendo-se premissas, promessas, coerência de atitudes e etc. no amalgama da ambição a todo custo.

É justamente a disputa de poder exacerbada que estabelece o caminho para o despotismo, a ditadura, onde o vitorioso deseja sobrepujar. E este para manter-se no poder precisa da monocracia, já que dificilmente o vencedor deseja repartir a sua vitória e seu poder pelo medo de perdê-los.

Conquistadores são movidos por ambição e medo, nesta ordem, e suas ações podem ser constantemente avaliadas como frutos destes sentimentos.

É por isso que sistemas de governo democráticos, procurando evitar monocracias, fracionam o poder  para que as partes conjuntamente possam estabelecer o comando harmonioso, ao menos em teoria. Seria como um cofre que se abre apenas com todas as chaves presentes, concomitantemente.

Se esses poderes entram em conflito, é natural que abra vantagem para aqueles que tenham a oportunidade de submetê-los — os candidatos a ditadores.  Não sendo possível submeter, o conquistador buscará destruir.

Mianmar é um exemplo recente, resultando no golpe do exército que assumiu o governo civil, já que na prática, as forças militares são a organização dentro de uma nação que realmente detém o poder quando se trata de exercitá-lo pela força bruta.

Qualquer sistema de governo depende de forças militares para sustentar sua independência.
Ao mesmo tempo que a protege também pode subvertê-la.

As forças militares normalmente são divididas em terrestres, aéreas e navais.
Se as terrestres prevalecerem sobre as demais, como acontece na maioria dos casos, elas deterão o poder de decisão final sobre as outras. Dificilmente elas lutam entre si, porque o líder que busca o golpe trabalha antecipadamente para arregimentá-las, do contrário arrisca a própria cabeça.

Um antídoto às ditaduras é o não reconhecimento pelas outras nações de um regime tomado pela força das armas, que através de embargos tentarão inviabilizar a sua manutenção. 

O problema torna-se mais dramático à medida que o número de nações com governos ditatoriais vai crescendo, e portanto, o embargo torna-se cada vez menos efetivo pois menor é o isolamento, já que governos similares certamente apoiarão o golpe que conduziu àquela monocracia (ditadura, estadismo, autocracia, etc.) viabilizando economicamente a sua sustentação independente daquelas que embargam.

Ainda temos os interesses econômicos. A título de exemplo temos a Venezuela que sofreu embargos no governo de Maduro, porém, atualmente estes embargos estão sendo revisados em função das necessidades trazidas pela guerra na Ucrânia.

E assim tais ditaduras vão sobrevivendo.

Essa é uma das razões que países imbuídos no afã de preservar sua democracia, buscam lutar contra o crescimento das ditaduras e do terrorismo, e vice-e-versa.

O terrorismo é uma estratégia de guerra onde não havendo possibilidade de superioridade numérica para confrontação direta, utiliza meios para desestabilizar o poder corrente de um país de forma a fomentar a disputa interna para fragmentar a sua estabilidade.


Por que evitamos falar abertamente sobre essas coisas tanto na media como nas escolas?

Quando não é a restrição de ordem política, a maioria das vezes é a conveniência do agradável que favorece o status quo do sistema.

Quanto menor a consciência de estratégias de poder, mais facilmente esse povo é submetido.
O seu conhecimento permite a autodefesa mas também desperta o potencial daqueles que podem criar uma oportunidade de contestação do sistema vigente.

É uma faca de dois gumes. Corta para os dois lados.
Aqueles que estão no poder automaticamente não têm interesse em afiá-la.

A inteligência e o conhecimento dão asas e poder.
Isto não ajuda em nada quando se procura concentrá-lo na mão de poucos porque ditadores precisam de sustentação. Aqueles que os sustentam, abocanham uma parte privilegiada das vantagens. A sagacidade do ditador está na escolha daqueles a quem ele favorece especialmente.

Educação e escolas nunca foram amigas dos ditadores, exceto quando se tornam instrumentos do seu poder.

Se a educação liberal cria defensores, de outro lado também fomenta opositores.
Infelizmente, estes últimos dedicam-se muito mais ao estudo dos meandros do poder porque são impulsionados por sua ambição que se torna a sua razão de viver, o que raramente acontece com aqueles que estejam confortáveis com as suas conveniências pessoais.

À medida que a polarização aumenta, também recrudescem os conflitos, que por sua vez favorecem as ditaduras pelo surgimento da competição entre facções.

Esse processo é fruto de uma mudança social mundial, a exemplo do que ocorre recentemente nos EUA, França e Brasil.

A degradação social, por qualquer meio, é como a água que busca apagar o óleo que incandesceu.
Ao invés de combater, alimenta a combustão.

Ditadura é o destino de toda sociedade em degradação social e nas democracias começa pelas rivalidades entre os poderes.


Países que precisam justificar suas ditaduras certamente trabalham no sentido oposto daqueles que desejam manter suas democracias.
Ambos sentem-se ameaçados pela existência recíproca.
Os países sob ditaduras vêm a democracia com incentivo ao mau exemplo e antipropaganda que desgastam o governo autocrático.

As democracias vêm as ditaduras como sementes que se alastram buscando enfraquecê-las.

Essas diferenças na forma de constituição de uma nação alimentam uma guerra eterna que justifica a eterna ebulição do planeta Terra e que troca seis por meia-dúzia, alternando apenas a satisfação dos egos inflamados daqueles que se nutrem de poder como se dependessem do ar que respiram, enquanto as suas ações amparadas pela decadência social conduzem à extinção da vida abandonada pelos recursos que lhes foram roubados por esta interminável disputa sem sentido, que senão a alternância de poderes.

Todo déspota acredita que a sua gestão fará a diferença histórica que conduzirá a humanidade a uma sociedade mais perfeita, pródiga. Hitler é um exemplo clássico. O EI (Estado Islâmico) é outro, porém sob o manto da justificativa religiosa, quando religião deveria ser sinônimo de harmonia e não de pretexto para as guerras, assim como os ocidentais também fizeram com as Cruzadas.

Quando a sociedade retrocede socialmente, ressurgem os ímpetos para regimes monocráticos e ditatoriais. No sentido inverso, quando a sociedade melhora seu padrão social, aparece oportunidade para a distribuição de poder e o convívio mais harmonioso entre eles.

Distribuição é o resultado da capacidade social de trabalho dividido para alcançar objetivos comuns.
Concentração (centralização) é fruto dessa incapacidade sob as trevas do egocentrismo incentivando a escravidão como meio de produção.


A realidade é que a vida humana vai aos tropeços suportando sua própria inadaptação à construção de si mesma. É justamente esta dificuldade que define os estágios primitivos da alma na sua luta em absorver o sentido da vida.

Vida é sinônimo de criação e produção e não de morte e destruição.

O caminho de evolução da alma humana faz recordar uma frase de Thomas Hardy:

Poetry is emotion put into measure. The emotion must come by nature, but the measure can be acquired by art.

Poesia é emoção colocada em medida. A emoção deve vir por natureza, mas a medida pode ser adquirida pela arte.

Thomas Hardy (1840-1928)


A alma humana evolui enquanto aprende a medir a emoção pela métrica da razão adquirida na arte de viver. A razão forma-se pelo aprendizado acumulado através das experiências gravadas pelo sofrimento ou não, mas principalmente através dele. Concomitantemente, a emoção vai se tornando o fluxo da vida sob a razão domada.

Posteriormente, em estágios mais avançados, depois que a alma atravessa a escuridão do egocentrismo, seus passos seguem a luz da emoção e da razão sincronizadas pelo amor.


Leituras adicionais:

As Democracias em Perigo de Extinção


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