A decepção é um padrão comportamental cultural entranhado em nossas almas como algo natural e que alicerça o direito de cobrar um indivíduo por algo que se esperava dele, mas que ele, por qualquer motivo, não delegou.
Pais, cônjuges, amigos, parentes, patrões e etc. penalizam suas "vítimas" sentindo-se com o amplo direito de expressar-lhes essa decepção em forma de amargor, repreensão, desprezo, afastamento ou qualquer outra maneira de punir.
Pensar através de exemplos permite ver as coisas por outros ângulos, principalmente quando nosso ego fica no meio bisbilhotando.
Imagine que você foi ao jóquei, gostou de um cavalo e apostou nele, mas ele perdeu.
De repente, o cavalo naquele dia não estava com toda aquela vontade de correr...
A culpa é sua ou do cavalo?
Se entender que é do cavalo, não vai ajudar muito você demonstrar todo o desprezo pelo animal.
Uma coisa é certa... brigar com cavalo, acaba em coice. :-)
Se em contrapartida, ao invés de você se concentrar na própria frustração, você buscar aperfeiçoar sua percepção, o seu conhecimento sobre cavalos e corridas, as suas chances de sucesso na próxima aposta aumentarão muito.
Pois é...
Nós somos os únicos responsáveis por uma avaliação equivocada e pela expectativa que depositamos.
A decepção é uma projeção, também uma forma de "escravidão" imposta pela ditadura do sentimento, transpondo nossos anseios para que outra pessoa realize, seja amparada pelo dever de cuidar, amar ou qualquer outro argumento que o seu amor próprio improvise.
Nós não temos o direito de projetar nossos sonhos de realização como obrigações de terceiros.
As pessoas são livres para escolher seus próprios sonhos e construir suas vidas através dos próprios erros e acertos porque é justamente através desse livre arbítrio que nos defrontamos com nós mesmos. Do contrário, a culpa acaba repassada à contingência.
A decepção ainda carrega o viés da presunção.
Atitudes presunçosas alimentam o ego que uma vez confrontado com a realidade que nunca existiu torna a dor de aceitar nossa responsabilidade ainda maior.
É preciso ter coragem para assumir integralmente a responsabilidade pela avaliação errada que fizemos sem transferir a culpa para alguém.
Se a decepção é fruto daquilo que desejávamos de melhor para a pessoa, cabe no máximo suportar a tristeza da expectativa malograda e a nossa própria tristeza por descobrirmos que planejamos mal.
Um comportamento assim, abre espaço para substituir a acidez da crítica pelo silêncio do amor, ou a depressão pela reavaliação, lembrando sempre que certeza excessiva é sinal de comportamento presunçoso e de autoritária arrogância.
Sem esperar muito, sabendo observar melhor, a decepção mingua em nossas vidas, levando junto os ressentimento recíprocos que destroem as relações humanas.
Assim como as decepções andam de mãos dadas com as expectativas, estas alimentam as cobranças que são como os venenos que matam gradativamente, parecendo não deixar rastros, mas que o passado só potencializa seu efeito acumulativo.
Decepcionou-se?
Perdoe-se!
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