agosto 24, 2025

A Subjetividade da Avaliação e a Ironia de Seus Artifícios


1° Edição, Sem revisão

 

A vida impõe a necessidade de avaliarmos porque precisamos tomar inúmeras decisões a todo momento.

Muitas delas são tomadas de forma preconcebida, como se fôssemos ao supermercado do nosso pensamento adquirir um produto pronto para uso, bastando abrir a embalagem para consumir.

Nossa mente tem um largo supermercado de decisões assim, cujo tamanho do estoque aumenta à medida do tempo.

Esse “supermercado do pensamento” representa o patrimônio acumulado pelos nossos aprendizados.

“Não compro mais tal produto porque tive uma experiência ruim.”
Na estante do pensamento, é como se o produto ficasse marcado com a etiqueta de impróprio, do prazo vencido, etc.

“Fulano agiu mal comigo.”
Fulano vai para a estante dos reprovados, perigosos, etc.


Uma reavaliação exige algum evento especial para darmos uma segunda chance a uma nova avaliação.


Se de um lado precisamos deste estoque de decisões prontas e das suas reavaliações, por outro lado, ele também tem seus efeitos colaterais negativos.

Analisar um assunto novo, mais complexo, a partir de decisões preconcebidas pode induzir a erros, porque os novos contextos e as suas novas associações podem trazer sutilezas que mudam o resultado daquilo que foi preconcebido.

Dois bons exemplos.

Uma pessoa visual adora imagens elaboradas.

Essa pessoa ao usar um smartphone ou notebook vai preferir interfaces mais elaboradas.
Se a sua rotina de trabalho exige ter várias destas interfaces abertas ao mesmo tempo, maior será o consumo de recurso computacional, ou seja, de memória e processamento.

À medida que ela vai sofrendo as consequências da exaustão de recursos, ela vai concluir que não pode ter tantas interfaces abertas concomitantemente, quanto precisaria.

Se ela substituir o julgamento “visual” padrão (preconcebido) pelo julgamento “eficiência”, começará a ver 
as interfaces menos rebuscadas como algo melhor, pois eliminam o consumo de recursos desnecessários, permitindo que ela melhore a sua produtividade tendo mais interfaces abertas, porém menos “luxuosas”.


Você poderá notar este tipo de comportamento naquelas atividades que buscam muita eficiência, por exemplo, um carro de “stock car”.

Todo peso desnecessário é eliminado.




O interessante é que, para os aficionados, o padrão de beleza muda, e a “crueza” torna-se “bela”.

Agora, para uma pessoa distante desse “amor” por esse esporte não verá beleza alguma, e continuará achando que o belo é um carro cheio de coisas que o deixe visualmente chamativo, porque “encher os olhos” é o seu esporte favorito.

Estes comportamentos proveem do nosso estoque mental de preconcebidos.


Transponha esta análise mais simples para algo mais complexo:
Deus!

O que é Deus?


Cada um tenta a sua definição, e adere a um grupo mais próximo dela.

No entanto, como podemos ter certeza da nossa definição se não podemos julgar algo extremamente superior a nós, que em virtude dessa superioridade foge à nossa capacidade de entendimento?


Para tapar esta ausência de capacidade, adotamos a “fé” — crer porque sentimos assim, ou gostamos de sentir assim.


A fé suportada apenas pelo sentimento não poderia recair no mesmo caso em que a pessoa, embora precisando de um ambiente de trabalho enxuto, prefira penalizar a sua eficiência em troca de atender o seu gosto pessoal pelo rebuscamento desnecessário?
Vai trabalhar mais horas, com mais dificuldade pelo simples capricho do prazer pelo “visual”.

Se a natureza do nosso sentimento que sustenta a fé for suficientemente puro de nossas mazelas humanas, certamente poderá conduzir a pessoa para um bom caminho até que a razão faça par às suas qualidades, trazendo também o entendimento àquilo que antes podia 
apenas sentir.


Um pensamento preconcebido com muita força sobrescreve qualquer outro, tornando-se um capricho que faz parte do nosso dia-a-dia.

Os nossos caprichos estão por toda parte, a maioria das vezes de forma transparente, inconsciente.


A existência de Deus está intimamente conectada com o "depois" pelas consequências de nossas ações.

Para alguns pode ser vantajoso querer crer que com a morte tudo se extingue.
Acreditar na vida após a morte implica em extensão, e dependendo do mal que se faça durante a vida, pode ser uma tremenda vantagem.
Esse pensamento favorece "viver sem as consequências de um possível julgamento posterior". Extremante vantajoso para o erro, inútil para o acerto, já que não vai sobrar nem mesmo a consciência tranquila porque tudo acaba! A vida se torna uma experiência sem sentido posterior.

Uma extensão da vida após a morte pode ser ótima se acreditarmos numa recompensa que nos coloque em situação melhor. Pode ser ainda mais fantástica, se desejarmos acreditar que esta extensão será eterna, desde que não recaia em situação contrária!

Acreditar na vida que se repete sob nova roupagem, agregando experiências progressivas ao espírito, carrega a possibilidade que a felicidade possa ser alcançada para todos, mas traz a desvantagem quanto nos negamos em revivê-las até a reparação dos nossos erros, ou quando desejamos um prêmio eterno que ignora erros “menores”, ou ainda quando nos é impossível imaginar que o espírito possa viver estas experiências em corpos diferentes, como um “avatar”, um conceito que beira à ficção científica quando falta aceitação. 
A possibilidade de reparar um erro por meio de múltiplas possibilidades é um alívio para alguns, para outros, um horror consequente da intensidade das penalidades possíveis que vão exigir longos esforços de reparação em muitas oportunidades de vida.


Considerando este emaranhado dos sentimentos preconcebidos, seja por herança cultural ou análise própria, resta a questão:

Qual o gradiente de soluções caprichosas que definem o resultado dos nossos juízos, desviando a percepção do melhor, simplesmente porque fugimos, querendo ignorar a razão, ou mesmo porque nem a percebemos?


Para quem entende que a morte do corpo físico encerra tudo, aposta todas as fichas em um único número.

Àqueles que imaginam que exista alguma coisa após ela, escolhem seus números, aumentando as chances de seu prêmio eterno.

E aqueles que acreditam na multiplicidade da vida, entendem que poderão apostar até aprenderem quando não é mais necessário fazê-lo.



Extensões ao tema:

A Semente Alada

Deus e Ciência

Contra Deus

Alguma Vez Já Pensamos: "Se Deus é Todo-Poderoso, Por Que Não Conserta o Mundo?"

Deus e Ciência





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