Olhando para as estrelas, aproveitando-me de uma brecha pela interrupção temporária da energia elétrica, tirei vantagem da escuridão.
Céu sem nuvens e sem luar deixavam as estrelas lindas, em todo o seu resplendor.
Até as estrelas mais discretas apareceram e a minha visão mergulhou naquela profundidade cósmica relembrando-me da vastidão do Universo em que se perde o nosso planeta Terra.
Em momentos assim, também desvanecem as nossas vidas pessoais diante de tanta grandeza.
As estrelas sempre guiaram os homens em suas aventuras, ora nas suas peregrinações, ora fomentando sua imaginação e seus sonhos.
Sem energia, sem sinal, sem Internet.
Foi então que percebi o quanto ficamos imersos nas projeções de nós mesmos, nos nossos Universos interiores, tanto o pessoal quanto o coletivo, e distantes daquilo que faz a conexão com o Universo externo que não diz respeito aos nossos problemas e anseios humanoides.
Ponderei e relembrei que imersos no lodo do afã diário esquecemos das estrelas, do oceano, do céu azul que enrubesce ao por do sol, da natureza que floresce e de tantas outras inspirações que nos conectam a algo maior, mais belo, fora de nós mesmos mas que nos eleva.
Se desejamos descansar da rotina do trabalho e buscamos um filme, a maioria deles segue sempre a mesma cansativa trilha doentia espelhando o coletivo humano: inimigos realizando seus projetos enquanto suas vítimas buscam defesa.
As novelas seguem o mesmo esquema.
Sempre alguém com um plano para tirar vantagem ou desforra e a vítima que sobrepuja o mal no último capítulo.
Tanto nos filmes quanto nas novelas, o meio é recheado com as cerejas desse bolo sinistro de ações negativas que parecem constituir a base do pensamento humano, ou melhor "da obsessão humana pelo poder e pela desforra", pelo prazer de assistir o mal, pela emoção da luta, da guerra.
Os produtores entregam aquilo que vende.
Vamos culpá-los?
O sistema funciona assim: é preciso gerar lucro ou ao menos empatar despesas vs. receitas.
A demanda popular é o que determina o produto de massa.
Coletivo ruim, determina produto equivalente.
A media social é repleta das mesmas ações, ora refletindo a necessidade de reafirmar o ego através de fotos de autopromoção (Instagram, Facebook e Cia) ora com ações equivalentes aos filmes através de milhares de instrumentos tal como fake news, denúncias falsas, promoções discutíveis, incentivo à vaidade e à futilidade, etc. etc. etc.
Se procuramos sair com amigos, facilmente caímos em situações semelhantes porque estamos todos magnetizados pelos mesmos temas.
As diversões, muitas vezes, são mergulhos no lodo do cotidiano de um jeitinho diferente, mas ainda no mesmo lodo.
Uma vez que constantemente recebemos mensagens de vingança, retaliação, frivolidade, disputa, defesa, e todas as outras mazelas da alma, acabamos hipnotizados através de uma lavagem cerebral subliminar ou mesmo ostensiva, transformando-se em nossa companhia diária que vai influenciando a nossa natureza mental e consequentemente as nossas ações.
É o mesmo fruto das influências daqueles que nos rodeiam.
"Diga-me com que andas e te direi quem és".
Olhando as estrelas lembrei-me que é preciso conectar-se mais frequentemente com aquilo que não representa algo de nós mesmos.
Essa fonte externa de inspiração amplia nossa percepção viciada que abre espaço para relembrar as metas maiores que representam o autêntico objetivo da vida — nossa evolução mental e espiritual.
Esses objetivos somente são atingidos através da incorporação desses valores superiores que nos permitirão, um dia, transitar em paragens mais luminosas, sem tanto lodo, onde júbilo é mais frequente que a dor.
Na sequência de um post anterior (Apenas fé não é suficiente), comentei que a evolução é a incorporação à nossa natureza daqueles princípios que a nossa fé elegeu, mas o "lodo" do dia-a-dia impregnando nossas mentes age no sentido contrário e sem notarmos acabamos encharcados por ele, incorporando e reforçando nossas mazelas no sentido contrário à fé que construímos, quando não a esquecemos ou mesmo a abandonamos.
E a sua fé? Por onde anda?
Podemos revisar a nossa própria fé repassando o que temos feito da nossa vida, nossas ações recentes e naquilo que tem se resumido o nosso cotidiano.
Se fé representa direcionamento, será mesmo que o rastro das nossas pegadas seguem na mesma direção traçada pela fé que dizemos sustentar?
Seriam nossas ações coerentes com as nossas convicções?
Isso ajuda a descobrir se a nossa fé não passa de discursos teóricos que praticamos apenas falando.
Fazer essa revisão sincera, sem procurar amenizar ou ignorar erros que chamamos de menores, ou ainda aqueles erros que justificamos como um "mal necessário", é um desafio grande que demonstra o quanto de fato fomos capazes de crescer na direção certa, aquela que comunga com o equilíbrio e a paz Universais e que sustenta o equilíbrio das nossas consciências, que por sua vez é a base do equilíbrio mental.
Infelizmente, esquecemos que estamos mergulhados no lodo que nos retém no sofrimento porque nos acostumamos com ele a tal ponto que passa a ser algo natural, constituindo-se parte das nossas almas.
Então fica difícil até mesmo a autocrítica.
Como podemos enxergar algo que nem vemos, sentimos ou percebemos?
Nesses momentos viramos reféns dos nossos maus hábitos.
Por isso, em nosso cotidiano, precisamos agregar as pausas de conexão com algo distante de nós mesmos para reencontrar os meios de transformarmos o lodo em oportunidades de crescimento tal como a flor de lótus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário